A arte do azulejo tem origem egípcia e árabe
O azulejo
Azulejo
– placa de cerâmica, geralmente quadrangular, vidrada numa das faces, branca ou de cor, com ou sem desenhos, usada no revestimento de paredes e na composição de painéis decorativos. (Dicionário da língua portuguesa contemporânea – Academia das Ciências de Lisboa)
“Entendemos que só pode falar-se de azulejo, quando a malha formada por muitas peças iguais se define com muita clareza, como uma retícula regular e constante, quer os seus elementos sejam quadrados, quer sejam retangulares, ou que tenham ainda outros formatos menos usuais.
Portanto, o que decide se estamos perante um azulejo é a regularidade e a continuidade da malha com uso de peças todas iguais, repetidas ou prolongadas ao longo duma superfície.” Apreciação estética do azulejo – Eduardo Nery
A arte do azulejo
A arte do azulejo fascinou espanhóis, italianos, flamengos e portugueses, pois apropriaram-se desta arte, com origem egípcia e árabe, e adaptaram-na ao gosto e técnicas ocidentais – com relevo para as primitivas faianças europeias, executadas segundo a tradição italiana, a designada maiólica ou majólica – faiança italiana do Renascimento.
Também o aproveitamento das cores da loiça chinesa e da talha dourada europeia. Tudo se combina para a perenidade do misterioso azulejo.
A história e o uso do azulejo em Portugal
A história de utilização de azulejos em Portugal começa no século XV, maioritariamente de origem andaluza.
Na segunda metade do século XVI começaram a surgir em Lisboa oficinas de olaria que forneciam as encomendas do reino, da Igreja e de casas nobres.
No século XVIII assistiu-se à larga produção de painéis historiados, pintados a azul e branco e com molduras barrocas.
Depois de um certo declínio, no século XX regressa este gosto por cenas que glorificavam tanto os feitos dos portugueses e os seus costumes, como incorporam o gosto do tempo, com citações das outras artes vindas da produção artística mundial.
Após o terramoto de 1755, e com a reconstrução da baixa de Lisboa, surge a primeira fábrica – Real Fábrica de Louça do Rato, no final do século XVIII.
Na sequência, os azulejos passaram para o exterior dos edifícios, revestindo as fachadas com azulejos de padrão.
A partir da segunda metade do século XIX, o azulejo padrão, de menor custo, cobre milhares de fachadas em Portugal.
Nesta época, novas fábricas começaram a existir e a utilizar técnicas industriais de fabrico que permitiram uma maior rapidez, rigor e aumento exponencial da produção de azulejos.
A monumentalidade da aplicação destes azulejos, no revestimento das fachadas dos edifícios, estruturou a arquitetura, transfigurou a fisionomia das cidades e vilas, e deu uma nova identidade urbana a Portugal.
A originalidade do azulejo português, e o diálogo que estabelece com as outras artes, torna-o um caso único no mundo.
Embora seja uma arte comum a outros países, em Portugal assume especial importância na criação artística ao refletir em si mesma muita da história e cultura nacionais e, desse modo, encontrou um lugar privilegiado no universo das artes visuais.
“Embora a origem do azulejo não seja portuguesa, em nenhum outro país do continente europeu, este material recebeu um tratamento tão expressivo e original, bem-adaptado aos vários condicionalismos económicos, sociais e culturais específicos, nem foi utilizado de
maneira tão complexa e dilatada, com fins que transcendem largamente um mero papel decorativo, como em Portugal.” O azulejo em Portugal- José Meco
A aparente simplicidade do azulejo constitui uma das expressões fortes da cultura em Portugal e uma das contribuições mais originais dos portugueses para a cultura universal.
Assim sendo, o azulejo apresenta-se como uma notável e original criação artística do património histórico e artístico nacional, desde o século XVI e cremos que continuará pelo século XXI.
Dia Nacional do Azulejo
Ao longo dos séculos, o azulejo dá conta da renovação do gosto e do registo do nosso imaginário aberto ao mundo, razão que obriga e força a revalorização deste património artístico e cultural, único na arquitetura, reflexo da identidade portuguesa.
Assim, está plasmado na Resolução da Assembleia da República n.° 144/2017, de 6 de julho – Diário da República n.° 129, 1.ª série, de 06/07/2017, que consagra o dia 6 de maio como o Dia Nacional do Azulejo:
«A Assembleia da República resolve, nos termos do n.°5 do artigo 166.° da Constituição, recomendar ao Governo que:
1.- Assegure a proteção e valorização do património azulejar português.
2.- Desenvolva um plano específico de proteção do património azulejar português que englobe uma vertente de conservação preventiva, inventariação do património azulejar público e privado, e uma estratégia de sensibilização junto de escolas, populações locais, museus e outros locais, para o seu estudo, divulgação e valorização, em parceria com entidades que já estão a desenvolver esse trabalho, como o Museu Nacional do Azulejo, a Rede de Investigação em Azulejo (RIA), a Direção-geral do Património Cultural (DGPC).
3.- Estude e avalie medidas, designadamente no âmbito do Regime Jurídico da Urbanização e Edificação (RJUE), no sentido de fiscalizar e prevenir a demolição arbitrária de fachadas azulejadas e a remoção de azulejos das mesmas e de interiores.»
O fabrico de azulejos de padrão na Fábrica de Loiça de Sacavém
«A n/ fabrica em Sacavém, empregando actualmente um pessoal superior a 900 operários, não só é a mais importante do n/ paiz mas também uma das maiores da Europa, para conseguir este desideratum temos envidado os n/ melhores esforços, não nos poupando a sacrifícios de qualquer natureza, introduzindo todos os modernos melhoramentos compatíveis à n/industria (…).
A n/ fabrica não só produz louça, mas nós desde há muito ampliando o n/ raio de ação introduzimos o magnífico fabrico de azulejos.
Fabricamos este artigo em larguíssima escala para suprir os enormes pedidos que constantemente nos são feitos. Possuímos bellíssimos e mui variados padrões e somos levados a dizer a V. Exa. que hoje é rara a Rua onde não existam prédios, onde está empregado o n/ azulejo, ornando o exterior agradavelmente que podemos verificar, ressaltando aos n/ olhos pelo bellissimo efeito que o s/ emprego produze interiormente nas entradas e escadarias onde verificamos também a incomparável beleza do azulejo Majolica, derivado das diferentes e deliciosas nuances próprias d’este azulejo.»
Excerto da carta da Fábrica de Loiça de Sacavém a Mimmon Anahory da Redação do Jornal “O século” em Lisboa, datada de 23 de novembro de 1908
Fonte: Catálogo de “Azulejos da Fábrica de Loiça de Sacavém: A arte prolongada no tempo do olhar” – Mostra documental (I volume) – texto editado, adaptado e titulado.