A Comunidade Galega em Lisboa | Textos e opiniões
A Comunidade Galega em Lisboa
A presença de galegos entre nós remonta aos primórdios da Reconquista e da formação da nacionalidade.
Porém, o fenómeno da imigração galega entendida enquanto tal teve o seu começo a partir do século XVII. A este facto não é certamente alheia a situação política da época caracterizada pela dominação filipina.
Vinham sobretudo para a lides dos campos, ocupar-se em trabalhos sazonais, procurando obter o indispensável para regressarem às origens e providenciarem o sustento da família.
Mas também havia os que se estabeleciam nas cidades, nomeadamente em Lisboa, dedicando-se às mais variadas profissões e ofícios.
Por essa altura, no alto de uma colina do sítio de Alcântara já se encontrava construída a Capela de Santo Amaro. Esta viria a tornar-se o local mais concorrido dos galegos que viviam em Lisboa. Também palco de festas e romarias em homenagem àquele que se tornara o seu padroeiro nesta cidade.
Com efeito, a pequena ermida foi erguida na sequência de uma promessa feita por frades da Ordem de Cristo que, numa viagem de regresso de Roma, a nau em que vinham foi acometida de temporal no mar e, perante o receio de naufrágio, prometeram construir uma capela no local onde aportassem sãos e salvos.
De traça renascentista, a ermida apresenta forma circular e é rodeada por um átrio.
A capela original foi construída em 1549 e constitui, muito provavelmente, a actual sacristia. A Capela de Santo Amaro está classificada como Monumento Nacional por Decreto de 16 de Julho de 1910.
Com o tempo, a presença de galegos foi crescendo em número, tendo passado a concentrar-se preferencialmente nas cidades de Lisboa e Porto.
A Guerra das Laranjas e os galegos em Portugal
Por altura da “Guerra das Laranjas” ocorrida em 1801, altura em que perdemos Olivença, chegou a ser aventada a possibilidade da sua expulsão. Esta proposta contou com a oposição do Intendente da Polícia porque tal resultaria em deixar de ter “quem servisse as cidades de Lisboa e Porto”.
Acredita-se, porém, que em consequência do crescimento económico verificado a partir da segunda metade do século XIX, a comunidade galega tenha atingido perto de trinta mil indivíduos, a maioria dos quais a viver em Lisboa.
Como costuma dizer-se, os galegos eram então pau para toda a obra. Havia entre eles taberneiros e carvoeiros, moços de fretes e hospedeiros.
Eça de Queirós, na sua obra “Os Maias”, faz-lhes frequentes alusões, confundindo-os embora com espanhóis.
Porém, é a profissão de aguadeiro que mais o identifica e fica associado na vida lisboeta. Com a sua indumentária característica e a respectiva chapa de identificação municipal no boné, o aguadeiro galego percorria a cidade vendendo a água em barris.
E era vê-los a abastecer-se nos chafarizes e fontes do Aqueduto das Águas Livres, nas bicas que lhes estavam reservadas pelo município a fim de evitar as brigas que frequentemente ocorriam.
De referir que, até ao início do século XX, a maioria da população lisboeta era forçada a recorrer aos fontenários uma vez que poucas eram as habitações que dispunham de água canalizada.
Os aguadeiros organizavam-se em companhias e, uma vez que tinham a primazia do abastecimento de água, eram ainda obrigados a participar no combate aos incêndios.