“Água vai” e outras curiosidades interessantes
«Água vai!”
Um documento notável, que é o mais antigo que se refere à limpeza da cidade do Porto, data de 1336.
Aí se lê que já nessa época era proibido deitar à rua “água lixosa ou outro lixo”, o que contudo acontecia com muita frequência!
Porém, se a água fosse mais limpa, tal prática já era permitida, desde que se tomassem alguns cuidados, para que nenhum cidadão fosse atingido!
E, então, fixaram-se os cuidados a ter: antes de atirar pela janela as tais “águas” era obrigatório gritar bem alto e três vezes: Água vai! Água vai! Água vai!
Quem fosse a passar que se despachasse a afastar-se, pois, mesmo que um cidadão fosse atingido, nenhuma reclamação do Alcaide atenderia, se se provasse que o aviso regulamentar fora feito! (1)
A origem de algumas flores
A dália cresce espontaneamente nos campos do México, e foi dali remetida para a Europa, em 1789 (ano em que se iniciou a Revolução Francesa).
A tulipa é natural do Oriente. Foi um embaixador turco quem a deu a conhecer a um botânico belga, em 1575, e logo depois estava espalhada por toda a Europa.
A peónia veio da China em 1803.
O jacinto é natural da Ásia Menor, e foi dali trazida pelos holandeses, antes de 1600.
O cravo é natural da Barbaria.
O amor-perfeito existe em “estado” selvagem nos campos da Europa. Foi uma senhora inglesa quem, em 1810, a fez espalhar e cultivar em todos os jardins. (2)
Saiba como cultivar estas e outras flores no seu jardim!
A primeira biblioteca popular
O primeiro que pensou em bibliotecas populares foi Benjamin Franklim. Simples operário impressor, reunido com doze companheiros, fez a seguinte observação: «Se tivermos, cada um, um volume, e cada um ponha o seu volume em comum, isso fará doze volumes para cada um. Ponhamos cem, duzentos, trezentos, teremos, cada um, cem, duzentos, trezentos volumes ao nosso dispor.»
Era benefício claro e limpo, e a biblioteca foi fundada em 1731.
Quereis saber no que se transformou essa biblioteca, estabelecida por um operário e doze companheiros seus? Tornou-se a grande biblioteca de Filadélfia, que, em 1912, contava com mais de um milhão de volumes.
Como exemplo dos milagres que a associação produz, citaremos, ainda, a biblioteca dos caixeiros de Nova York, que tem 10.000 subscritores, 120.000 volumes, que recebe cada ano mais de 200 revistas e cada dia mais de 150 jornais. (3)
Uma planta humana
A mandrágora, planta conhecida pelas suas qualidades narcóticas, tem as raízes formadas de tal modo que lembram a silhueta do corpo humano. Nunca nenhuma outra planta foi tão empregada na feitiçaria.
Em Paris, no século XV, os franciscanos comerciavam com ela. Atualmente [1908], ainda ali muita gente do campo acredita no seu poder, assegurando que, todo aquele que achar uma dessas plantas deve levar-lhe de comer, todos os dias, pão, carne, etc., pois tudo lhe será restituído no dobro; aquele que fugir ao cumprimento desse dever, morrerá impreterivelmente dentro desse ano.
Dizia-se, também, que as raízes de mandrágora eram dotadas de sensibilidade, e que gritavam quando as arrancavam da terra. (4)
A invenção do microscópio
O microscópio foi inventado pelo Zacharias Jansen, natural de Middleborough, em 1590.
Em 1518, o napolitano Francisco Fontana pretendeu, por sua vez, ter inventado independentemente o dito instrumento. O alquimista holandês Cornelio Drebbel deu a conhecer, em Londres, o instrumento de Jansen e construiu vários deles, em 1621.
O imortal filósofo Espinosa, de Amesterdam, descendente de judeus portugueses, ganhava a vida cortando vidros para esses instrumentos. (2)
Larousse, um pioneiro do ensino moderno
Desde muito cedo, Pierre Larousse demonstrou grande interesse pela leitura, devorando todos os livros que podia comprar aos vendedores ambulantes que passavam pela estalagem que a sua mãe dirigia.
Aos vinte anos era mestre-escola, mas depressa abandonou o ensino, desiludido com os métodos de então, baseados mais na memória do que na inteligência.
Em 1856, editou um “Novo Dicionário da Língua Francesa”, mas o que verdadeiramente desejava era publicar um grande dicionário universal do séc. XIX, que englobasse todos os conhecimentos do seu tempo.
Rodeou-se de valiosos colaboradores e redigiu, assim, os 17 volumes que constituem a sua obra, sendo o último publicado após a sua morte. O nome de Larousse tornou-se, então, sinónimo de dicionário. (5)
As propriedades das lentes
As propriedades das lentes eram pouco conhecidas na antiguidade. O homem sabia fabricar o vidro, mas só se servia dele para construir pequenos recipientes e como adorno.
Porém, as propriedades óticas do vidro só interessaram a alguns estudiosos. O sistema de colocar uma lente diante dos olhos utilizou-se, pela primeira vez, em finais do século XIII. Poucos dados temos acerca do inventor e da data e lugar do invento.
Crê-se que foi obra de um artesão analfabeto, provavelmente vidreiro de ofício, que fazia adornos e discos de vidro para as janelas. Outros atribuem a invenção das lentes ao frade dominicano Alessandro della Spina, em 1285.
O princípio das lentes
Provavelmente, o princípio das lentes foi descoberto por meio da observação. As gotas de água formam lentes naturais. Observemos uma gota pousada numa folha de árvore e veremos que a superfície desta fica ampliada.
Quando se construíram lentes aperfeiçoadas, nasceu a ideia dos óculos de longo alcance para ver aumentados os objetos distantes. Foram construídos na Holanda.
Galileu soube desta invenção e montou uns óculos que, depois, permitiram inventar o telescópio para observação pormenorizada do firmamento.
A perfeição só foi alcançada em 1680, data em que Newton deu a conhecer o telescópio de reflexão. (6)
Decreto de Luís XV
Em 1770, foi decretado por Luís XV, rei de França, o seguinte:
Toda aquela que, por meio de pintura cor-de-rosa ou branca, por essências, perfumes, dentes artificiais, cabelo falso, chumaços de algodão, coletes de aço, arcos nas saias dos vestidos, sapatos de tacões altos, ancas postiças, procure atrair aos laços de casamento qualquer súbdito masculino deste reino, será perseguida por bruxaria e declarada incapaz de matrimónio. (1)
O Vinho da Madeira
Quis o acaso que um lote de vinho, não podendo ser desembarcado, ao voltar à Madeira, ganhara perfume e sabor. Os antigos mercadores passaram então a fazer os seus vinhos viajar para além do Equador – os Vinhos da Roda. (7)
O pai do telefone
Foi o escocês Alexander Graham Bell, professor de surdos-mudos, naturalizado norte-americano, em 1882, o pai do telefone. Entre 1873 e 1876, inventou e fabricou o primeiro aparelho destinado a transmitir, não apenas sinais, como o de Morse, mas a própria voz humana.
Em 1876, obteve a patente e exibiu o seu invento na Exposição do Centenário, em Filadélfia, inaugurada em 10 de Maio de 1876, pelo Presidente Ulysses S. Grant. (5)
“Cair o Carmo e a Trindade”
Diz-se hoje quando algo provoca ou se prevê que vai causar uma grande surpresa ou confusão. Mas já teve um sentido mais funesto.
O Carmo e a Trindade eram dos mais importantes conventos do Bairro Alto lisboeta. Ambos entraram em derrocada durante o terramoto de Lisboa, em 1775, e a expressão significou o terror, o pânico e o assombro perante a tragédia que, então, se verificou. (8)
(1) in “Almanaque de Santo António” – 1998 | (2) “Almanaque Bertrand” – 1927 (adaptado) | (3) in “Almanaque Bertrand” – 1912 (adaptado) | (4) “Almanaque Bertrand” – 1907 | (5) “Livro de curiosidades” – Nunes dos Santos | (6) “Invenções que revolucionaram o mundo” | (7) “À descoberta de Portugal” | (8) “Dicionário das frases feitas” – Orlando Neves