Batata-doce de Aljezur | Produtos regionais de Portugal
Batata-doce de Aljezur
É rica em peripécias a lenda que ilustra a relação de Aljezur com a batata-doce. Tão rica como a excelência do próprio tubérculo e a função alimentar que tem há séculos, e que fizeram desta vila da Costa Vicentina uma Indicação Geográfica Protegida.
A batata-doce é tão antiga em Portugal como a batata. Ambas chegaram na mesma época, mas só uma de impôs de forma inequívoca. No entanto, nem todas as regiões fizeram essa opção declarada, e ainda bem.
No século XIX, a batata-doce foi cultivada em grande escala nos Açores e na Madeira, de tal forma que ainda faz parte da gastronomia local. O Algarve é outra dessas regiões onde a batata-doce tem-se afirmado.
Um ditado popular diz:
“Um Olhanense passava
Muito bem para onde fosse
Com um prato de xerém
E uma batatinha doce.”
A rima refere-se a Olhão, onde o xerém tem pergaminhos, mas é junto à Costa Vicentina que vamos encontrar o complemento desta singela refeição algarvia. Aljezur é desde há séculos afamada como a ‘terra da batata doce‘.
A popularidade é longínqua, mas é improvável que seja tão remota como a lenda de que quando D. Paio Peres Correia dirigiu os Cavaleiros de Santiago para tomarem o castelo da então Al Jazair, os mouros ficaram tão surpreendidos com força da investida que não ofereceram resistência.
A batata-doce e a lenda…
Parece que o segredo do Mestre da Ordem de Santiago era dar uma espécie de poção aos seus homens antes de cada embate. A tal poção seria uma «feijoada de batata-doce» e graças a ela os cristãos puderam conquistar Aljezur em 1249.
Lendas são lendas. Esta até faz lembrar os confrontos entre gauleses e romanos… O facto é que tanto a batata como a batata-doce só chegaram à Europa no século XVI, após a descoberta do Novo Mundo.
A introdução do novo tubérculo foi lenta, e as desconfianças só começaram a ser ultrapassadas no século XVII. Em Aljezur as condições climáticas revelaram-se ideais para a cultura por se assemelharem ao ambiente nativo das Américas.
Passou a ser a base da alimentação de Aljezur, ganhando o epíteto de ‘pão dos pobres’, pois fazia parte das refeições locais. A ramagem e os restos dos tubérculos serviam para o gado.
Sempre foi muito apreciada apenas cozida, e chegou a ser uma forma de acalmar as crianças mais inquietas. Com o passar dos anos foi aplicada em doces diversos como pastéis, filhoses, pudins, tortas e também no fabrico de pão, onde confere um sabor peculiar e uma textura macia.
Passaporte gastronómico
Nome:Batata-doce de Aljezur IGPPaís:PortugalMorada:Concelho de Aljezur. Freguesias de S. Teotónio, S. Salvador, Zambujeira do Mar, Longueira – Almograve; Vila Nova de Milfontes, no concelho de Odemira.Data de nascimento:Século XVII ou XVIIIParticularidades:É colhida quatro meses após a plantação dos caules. A maioria das colheitas é feita em Outubro. Depois de tirada, a batata fica oito dias sobre a terra em ‘regime de cura’ para cicatrizar eventuais cortes.Texto de Fortunato da Câmara – Essencial/SOL – nº231