Breve história do movimento cooperativo em Portugal
O movimento cooperativo em Portugal tem uma história rica e diversificada, refletindo as mudanças sociais, económicas e políticas do país ao longo dos anos.
Aqui está uma breve visão geral da história do movimento cooperativo em Portugal:
Origem e primeiros passos
O movimento cooperativo em Portugal tem suas raízes no final do século XIX, inspirado pelo movimento cooperativo internacional que surgiu na Europa durante esse período.
As primeiras cooperativas portuguesas começaram a surgir em meados dos anos 1800, influenciadas pelos ideais de solidariedade e mutualismo.
Primeiras Cooperativas
Uma das primeiras cooperativas conhecidas em Portugal foi a “Cooperativa de Consumo dos Operários de Lisboa“, fundada em 1858.
Essa cooperativa visava proporcionar bens de consumo a preços mais acessíveis aos trabalhadores, numa época em que a industrialização estava a transformar a sociedade portuguesa.
Outro exemplo importante é a “Cooperativa dos Pedreiros“, fundada no Porto em 1867, que teve um papel crucial na construção de habitações para os seus membros.
Crescimento e expansão
No início do século XX, o movimento cooperativo ganhou mais força, especialmente no setor agrícola.
As cooperativas agrícolas começaram a aparecer em várias regiões do país, ajudando os agricultores a melhorar a produção e a comercialização dos seus produtos.
Durante a Primeira República (1910-1926), o movimento cooperativo beneficiou de um ambiente político favorável, que reconhecia a importância das cooperativas para o desenvolvimento económico e social.
Para ler: Dia Internacional das Cooperativas
Repressão e dificuldades
Com a instauração do regime autoritário do Estado Novo em 1933, o movimento cooperativo enfrentou um período de repressão e controlo estatal.
O regime de Salazar via as cooperativas com desconfiança, temendo que elas pudessem fomentar ideias socialistas e comunistas.
Muitas cooperativas foram encerradas ou transformadas em organizações controladas pelo Estado.
Renascimento pós-Revolução
A Revolução de 25 de Abril de 1974, que pôs fim à ditadura do Estado Novo, marcou um renascimento do movimento cooperativo em Portugal.
O novo ambiente democrático permitiu a reorganização e o fortalecimento das cooperativas.
Nos anos seguintes à revolução, houve um crescimento significativo no número de cooperativas, especialmente nas áreas rurais e em setores como a habitação, a educação e a cultura.
Situação atual
Hoje, o movimento cooperativo em Portugal é diversificado e abrange vários setores da economia.
Existem cooperativas de consumo, agrícolas, de crédito, de habitação, culturais e de trabalho, entre outras.
As cooperativas portuguesas são reguladas pela Constituição da República e por leis específicas que reconhecem a sua importância para o desenvolvimento económico e social do país.
Importância e desafios
As cooperativas continuam a desempenhar um papel vital na promoção da economia social e solidária em Portugal.
Elas ajudam a criar emprego, promover a inclusão social e económica, e fortalecer as comunidades locais.
No entanto, o movimento cooperativo enfrenta desafios, como a necessidade de inovação, a adaptação às novas realidades económicas e tecnológicas, e a manutenção da sua identidade e princípios cooperativos.
Em resumo, o movimento cooperativo em Portugal tem uma longa história de luta e resiliência, adaptando-se às mudanças políticas e económicas do país e continuando a contribuir para um desenvolvimento mais justo e solidário.
Outras informações sobre o Cooperativismo em Portugal
“O Cooperativismo foi introduzido em Portugal por alturas de 1850 através da propaganda do socialismo.
O “Echo do Operário” de que eram redactores Lopes de Mendonça, Sousa Brandão e Vieira da Silva, foi o arauto das ideias socialistas e por intermédio dele se organizaram as primeiras associações de classe que se constituíram em grande número principalmente nas Cidades de Lisboa e Porto.
Deste movimento resultaram as greves de 1872 e dentro dele a organização da Voz do Operário.
No Diário do Governo de 5 de Julho de 1867 foi publicada a lei basilar do Cooperativismo português, datada de 2 do mesmo mês e ano, sancionando o Decreto das Cortes Gerais de 19 de Junho antecedente, sendo assinada pelo Ministro das Obras Públicas da época, João de Andrade Corvo.
Representa esta lei o produto da propaganda entusiasta de Amigos do Povo, de quem é grato neste momento recordar os nomes: Costa Goodolfim, Alexandre da Fonseca, José Fontana e Magalhães Lima.
No artigo 1.° da lei consigna-se a definição do Cooperativismo português :
Sociedades cooperativas são associações de número ilimitado de membros e de capital indeterminado e variável, instituídas com o fim de mutuamente se auxiliarem os sócios no desenvolvimento da sua indústria, do seu crédito e da sua economia doméstica.
Em Janeiro de 1894 realizou-se em Lisboa o 1.° Congresso das Cooperativas (*) estando representadas 30 sociedades, distinguindo-se então: Azedo Gneco, Ernesto da Silva e Conceição Fernandes.” fonte (texto editado)
Portugueses(as) que se distinguiram no movimento cooperativo
O movimento cooperativo em Portugal contou com a contribuição de diversas figuras destacadas que promoveram os valores da solidariedade, democracia e desenvolvimento social.
Abaixo estão dois dos portugueses mais notáveis que se distinguiram no movimento cooperativo:
António Sérgio (1883-1969)
António Sérgio de Sousa Júnior (Damão, 3 de setembro de 1883 – Lisboa, 24 de janeiro de 1969) foi um dos maiores intelectuais e promotores do cooperativismo em Portugal. Filósofo, educador e político, ele acreditava firmemente no potencial das cooperativas para transformar a sociedade e promover a justiça social. António Sérgio defendia a educação como um meio essencial para o desenvolvimento do movimento cooperativo e escreveu várias obras sobre o tema, incluindo “Educação Cívica” e “A Cooperação“.
Bento de Jesus Caraça (1901-1948)
Bento de Jesus Caraça (Vila Viçosa, Conceição, 18 de abril de 1901 — Lisboa, Santa Isabel, 25 de junho de 1948), Matemático, economista e pedagogo, foi um defensor ardente do cooperativismo e da economia social. Ele acreditava que as cooperativas eram uma alternativa viável ao capitalismo e ao socialismo, promovendo a justiça económica e social. Bento de Jesus Caraça foi também um ativo participante na luta pela democracia e pelos direitos dos trabalhadores.
Estas figuras, entre muitas outras, contribuíram significativamente para o desenvolvimento e fortalecimento do movimento cooperativo em Portugal, promovendo os princípios de solidariedade, democracia e justiça social.
O legado deles continua a influenciar o movimento cooperativo contemporâneo, que ainda desempenha um papel crucial no desenvolvimento económico e social do país.