O calendário inca estava relacionado com a natureza e a religião

O calendário inca é um dos menos conhecidos entre os sistemas de contagem do tempo desenvolvidos pelas grandes civilizações pré-colombianas da América do Sul.

Os incas, que dominaram a região dos Andes entre os séculos XIII e XVI, criaram um calendário sofisticado que refletia a sua profunda conexão com a agricultura, a religião e a astronomia. 

Estrutura do calendário inca

Os incas utilizavam um sistema dual de calendário, composto por um calendário solar e um calendário lunar, que funcionavam em conjunto para regular as atividades agrícolas, religiosas e sociais. 

Calendário solar 

O calendário solar inca, também conhecido como Intihuatana, era baseado no ciclo solar de 365 dias, dividido em 12 meses de aproximadamente 30 dias cada. Cada mês estava associado a uma importante festividade ou atividade agrícola, refletindo a ligação dos incas com os ciclos naturais. Os meses do calendário solar inca eram: 

Qhapaq Raymi: Grande Festa, celebrada em dezembro, marcando o solstício de verão.

Camay Quilla: Mês de Purificação, celebrado em janeiro.

Hatun Poqoy: Grande Floração, celebrado em fevereiro.

Pacha Poqoy: Tempo da Floração, celebrado em março.

Ayrihua: Mês da Colheita, celebrado em abril.

Aymuray: Colheita Principal, celebrado em maio.

Inti Raymi: Festa do Sol, celebrada em junho, marcando o solstício de inverno.

Chacra Conacuy: Tempo de Descanso das Terras, celebrado em julho.

Yapuy: Mês de Preparação da Terra, celebrado em agosto.

Qoya Raymi: Festa da Rainha, celebrado em setembro.

Uma Raymi: Festa da Cabeça, celebrado em outubro.

Aya Marcay: Mês da Preparação das Sementes, celebrado em novembro.

Inti Raymi 

Uma das festividades mais importantes no calendário solar era o Inti Raymi, realizado no solstício de inverno (junho). Este festival celebrava o deus Sol, Inti, e marcava o início de um novo ciclo agrícola.

Era uma celebração grandiosa, com danças, música, sacrifícios e oferendas, refletindo a profunda devoção dos incas ao sol, que era considerado o progenitor da civilização inca. 

Calendário lunar 

O calendário lunar inca acompanhava os ciclos da lua e era utilizado principalmente para fins religiosos e cerimoniais.

Este calendário era crucial para determinar as datas das festividades e rituais, que muitas vezes estavam alinhados com as fases lunares. 

Observatórios astronómicos 

Os incas possuíam um conhecimento avançado de astronomia, que era aplicado na observação dos corpos celestes para regular seus calendários.

Construíram vários observatórios astronómicos, como o famoso Intihuatana em Machu Picchu, uma pedra esculpida que funcionava como um relógio solar para marcar os solstícios e equinócios. 

Agricultura e calendário 

A agricultura era a base da economia inca, e o calendário desempenhava um papel crucial na coordenação das atividades agrícolas.

As datas de plantio e colheita eram determinadas com precisão, garantindo a máxima eficiência e rendimento das colheitas.

As festividades agrícolas também promoviam a coesão social, reunindo a comunidade em celebrações que reforçavam os laços culturais e espirituais. 

Conclusão 

O calendário inca, com a sua combinação de ciclos solares e lunares, é um reflexo da engenhosidade e da profunda ligação dos incas com a natureza.

Embora menos documentado do que os calendários asteca e maia, o sistema inca de contagem do tempo demonstra um sofisticado entendimento dos ciclos naturais e uma integração harmoniosa entre religião, agricultura e astronomia. 

O conhecimento preciso das constelações levou a impressionantes semelhanças com as figuras usadas pelos criadores do Zodíaco para representá-las, e com os signos zodiacais

O Observatório de Cuzco era o responsável pela base do calendário inca: possuía oito torres voltadas para o nascente e outras oito apontando para o poente, com alturas desiguais (duas pequenas intercaladas entre duas bastante altas).

A sua sombra projetada no terraço ao redor permitia aos observadores imperiais definir a exata situação dos solstícios, enquanto as colunas zodiacais (curiosamente semelhantes ao zodíaco caldeu) permitiam definir os equinócios.

Essa exatidão do ciclo de 260 anos sagrados em relação ao exato movimento do Sol, possuía uma diferença de apenas 0,01136 de dia, ou seja, um pouco mais de um centésimo de dia.

A civilização Inca

Os Incas formaram um império de uns 4.000 km de comprimento ao longo dos Andes, em territórios que hoje são o Equador, o Peru, o oeste da Bolívia e o norte do Chile.

Até 1200, Manco Cápac, que dirigira a migração dos Incas para o norte a partir do lado Titicaca, funda a cidade santa de Cusco. Durante muito tempo, os Incas foram uma tribo muito pequena em luta com os vizinhos.

Em 1438 sobe ao trono Pachacuti Inca Yupanqui, fundador do império, que lhe deu a sua estrutura política.

A fulgurante expansão prosseguirá durante o reinado do seu sucessor Topa Inca (1471-1493). Alcança a sua maior extensão com Huayna Cápac (1493-1525), que divide o império entre os seus filhos.

Em 1533, aproveitando a guerra civil entre Atahualpa e o seu irmão Huáscar, Francisco Pizarro executa Atahualpa e apodera-se do império Inca.

O inca – filho do sol

O inca, filho do Sol, é o chefe supremo, infalível, todo-poderoso, sagrado. Um enorme número de funcionários serve de apoio ao poder do inca e constitui a nata da sociedade.

Entre a gente do povo, os pequenos funcionários e os artesãos constituem a classe média. Na sua maioria eram agricultores e também havia escravos.

A sociedade inca estava perfeitamente organizada, estruturada. Efetuava-se um controlo rigoroso da população (deportações, controlo da migração) e da produção.

A religião oficial do Estado baseava-se no culto do Sol, mas subsistiam antigos cultos locais. O inca, descendente do Sol, era venerado pelo povo.

Não tendo um sistema de escrita, efetuavam o controlo de tudo através do quipus, uma espécie de ajuda-memória à base de cordas atadas.

Destacaram-se como

– engenheiros (rede de estradas, pontes, leiras),

– arquitetos (pedras cuidadosamente lavradas, apesar de não conhecerem o ferro),

– como ceramistas,

– ourives

– e como fabricantes de tecidos. 1

Adenda

Religião2

O Sol é a divindade suprema, e até o próprio deus da criação lhe está subordinado.

Os Incas conservam as divindades dos povos submetidos, incluindo-as no seu panteão.

Os sacrifícios humanos apenas são consumados em raras ocasiões, diferentemente das religiões mexicanas. Em vez do sacrifício humano, usa-se o sacrifício animal.

A penitência e o jejum são elementos do rito.

O sacerdote de mais elevada categoria, o Sumo Sacerdote do Sol, possui um vasto poder.

Escrita e ciência1

Os Incas não possuem uma verdadeira escrita.

A literatura e a história são transmitidas por via oral. Mercê de um sistema de escrita à base de nós, os chamados quipos (cordões de diversas cores nodosos), elaboram-se estatísticas e registos.

Sob o rei Pachacutic, a língua quéchua torna-se idioma oficial.

O soberano cria academias de eruditos e observatórios solares, e promove as artes e as ciências.

Fontes: 1 Enciclopédia Alfa Estudante – Volume II | 2História Universal Comparada (vol.VI – pág. 157) |