Os calendários: solar, lunar e lunissolar

Classificação dos calendários

Um calendário serve-nos para programar as actividades futuras, seja para fixar a data de um casamento ou a de umas eleições. Alem disso, o calendário também nos serve para situar numa ordem temporal os acontecimentos que ocorreram no passado, como seja a assinatura de um contrato ou a realização de uma batalha célebre.

Uma sociedade, ainda que seja muito pouco civilizada, dificilmente poderia subsistir sem um calendário. Não é de estranhar, portanto, que se tenham idealizado inúmeros calendários, muitos quais ainda são usados actualmente.

Já vimos que os movimentos do Sol, da Lua e da própria Terra são os fenómenos que nos servem para medir o tempo, isto é, para construir os calendários. Isto nos permite apresentar uma primeira classificação.

Vamos distinguir três tipos de calendários, segundo se rejam pelo Sol, pela Lua ou pelos dois astros à vez. A estes calendários dão-se o nome, respectivamente de solar, lunar e lunissolar.

Calendário solar

Um calendário solar é aquele em que as estações começam cada ano, mais ou menos nas mesmas datas. O calendário civil usado no mundo ociental e chamado calendário gregoriano, é o exemplo mais típico do calendário solar.

Por exemplo, neste calendário, as datas em que começará a Primavera durante os próximos mil anos só podem ser os dias 19, 20, 21 e 22 de Março (esta última data apenas em certos lugares da Terra).

A vantagem e superioridade do calendário solar é que segundo a data podemos saber o ponto em que nos encontramos do ciclo estacional, que é o período natural que mais condiciona a nossa vida quotidiana, e que têm grande influência na actividade económica, como por exemplo, no turismo ou na agricultura.

Primavera – 19, 20, 21, 22* de Março

Verão – 19, 20, 21, 22* de Junho

Outono – 20*, 21, 22, 23, 24* de Setembro

Inverno – 20, 21, 22, 23* de Dezembro

Datas de início das estações

Recolhemos as possíveis datas em que pode acontecer o início das estações no calendário gregoriano durante os próximos mil anos. O asterisco significa que as datas marcadas apenas podem verificar-se em algumas posições geográficas da Terra. Esta variabilidade das datas de começo das estações tem origem principalmente na intercalação dos dias bissextos.

Na nossa sociedade ocidental, estamos habituados há mais de dois mil anos a usar um calendário solar, pelo que não temos sofrido o transtorno originado pelo uso de um calendário que não siga fielmente as estações.

Esta era a situação que se verificava antes de Júlio César, no ano 46 a.C., ter estabelecido o calendário solar que tem o seu nome [Calendário Juliano].

Nessa altura, aqueles profissionais que precisavam de saber em que momento estacional se encontravam, como os agricultores ou os militares, recorriam a um calendário estelar, pois o calendário civil pré-juliano, então em uso, não estava de acordo com as estações.

Apesar de o nosso calendário civil, ou seja o calendário gregoriano, os seus meses não estão relacionados com nenhum fenómeno astronómico.

São apenas uma soma contagem de dias e como bem sabemos, muito desorganizada:

– há meses de 28, 29, 30 e 31 dias;

– alguns meses têm cinco fins-de-semana, enquanto que outros têm apenas quatro;

–  os trimestres têm durações diferentes e o mesmo se passa com os semestres;

– o mês pode começar em qualquer dia da semana, mas sobretudo tem como principal inconveniente o facto de não existir concordância entre o dia semanal e o dia anual. Ou seja, que uma data qualquer, por exemplo o dia 15 de Junho, pode acontecer em qualquer dia da semana.

Calendário lunar

Um calendário lunar é aquele cujos meses seguem a Lua, no sentido em que o primeiro dia do mês coincide com a Lua Nova. Portanto, a metade do mês será a Lua Cheia. O melhor exemplo de um calendário lunar é o calendário muçulmano ou islâmico, que abandona por completo o percurso do Sol para se reger, exclusivamente pela Lua.

Como antes foi dito, a duração média da lunação é de 29 dias e meio aproximadamente. Isto quer dizer que os meses dos calendários lunares só podem ter durações de 29 e 30 dias, o que faz um total de uns 354 dias por ano, 11 dias a menos que a duração do ano astronómico.

Devido a esta curta duração do ano lunar, as estações não permanecem nas mesmas data num calendário lunar. Conhecida uma data neste calendário não podemos saber em que época estacional nos encontramos.

Calendário lunissolar

Um calendário lunissolar segue à vez o Sol e a Lua. Os seus meses são lunares, isto é, iniciam-se com o Lua Nova e além disso as estações começam com certa aproximação nas mesmas datas, ainda que seja inevitável um desvio que pode atingir até um mês. Entre os calendários lunissolares actualmente em uso podemos citar o calendário judaico e o calendário chinês.

Para conseguir este difícil compromisso de ir com o Sol e a Lua à vez, é necessário que alguns anos tenham 13 meses, ou seja, uma duração de uns 384 dias, com o que se compensa a curta duração dos anos lunares de 12 meses.

Aproximadamente em cada três anos é necessário colocar um mês extraordinário nos calendários lunissolares. A este mês extra dá-se o nome de embolísmico e ao ano que tem 13 meses chama-se-lhe abundante.

Começo da Primavera em vários calendários

No calendário solar gregoriano a Primavera tem início no mesmo dia para os anos da tabela.

No calendário lunar muçulmano a primavera tem início em cada ano uns 11 dias mais tarde, pelo que não tem uma data fica.

Finalmente, no calendário lunissolar judaico a primavera começa nos meses de nissan e de adar (o mês adar II é o mês embolísmico, ou seja, o décimo terceiro mês que apenas existe em alguns anos).

A mesma deslocação se dá para as três outras estações.

Vejamos com mais detalhe.

Depois do primeiro ano lunar aparece uma diferença de 11 dias relativamente ao ano astronómico, pois o ano lunar ter 354 dias e o ano astronómico tem 365 dias.

No seguinte ano lunar a diferença já aumentou para 22 dias e no terceiro seriam 33 dias de diferença em relação ao ano solar.

Para corrigir esta diferença, neste terceiro ano coloca-se o embolismo, ou seja, um décimo terceiro mês de 30 dias, que faz diminuir a diferença com o ano astronómico.

Portanto, a regra para construir um calendário lunissolar é a seguinte:

– quando há um ano lunar de apenas 12 meses é aumentada a diferença em 11 dias;

– quando esta diferença ultrapassa os 30 dias, intercala-se um mês embolísmico e a diferença é reduzida;

Desta forma conseguiu-se que a diferença do calendário lunissolar com o ano astronómico não aumente indefinidamente, como acontece nos calendários lunares.

A semana

O período semanal, tão importante na nossa civilização, não está relacionado com qualquer fenómeno astronómico, é apenas uma sucessão de dias agrupados de sete em sete.

Para propósitos práticos, o ciclo semanal está desligado da data mensal, pelo que representa um cálculo independente, pelo que somos obrigados a dar o dia mensal e o dia semanal para definir uma data com precisão.

Na semana cristã, destaca-se o Domingo, o Dia do Senhor, que representa o primeiro dia da semana segundo o costume da Igreja, ou o sétimo dia na prática quotidiana civil.

A importância da semana na nossa vida actual é tanta que se criou um calendário baseado exclusivamente nas semanas.

Define-se a primeira semana como aquela que tem a primeira quinta-feira do ano (isto é, a que contém o dia 4 de Janeiro) e as semanas sucessivas vão-se contando consecutivamente.

Por exemplo, a primeira semana do ano 2015 teve início no dia 29 de Dezembro de 2014, dado que na semana que começa nesse dia se encontra a primeira Quinta-feira de 2015.

Esta definição dá origem a que alguns anos tenham 52 semanas enquanto que outros tenham 53 semanas.

Este é um tipo de calendário auxiliar muito útil em certas atividades económicas que se baseiam principalmente na semana.

Obs: Retirado e traduzido, com a devida autorização do autor, de “Nuestro calendario – Una explicación científica, simple e complete del calendario lunisolar cristiano”, Wenceslao Segura González.