D. João I, rei de Portugal, nasceu a 11.04.1357

D. João I, Mestre de Avis e rei de Portugal

D. João

era filho bastardo do rei D. Pedro I e de Teresa Lourenço, natural da Galiza.

A sua infância aparece ligada a Lourenço Martins da Praça, cidadão lisboeta em cuja casa deve ter vivido os primeiros anos. Ao entrar na segunda infância foi confiado ao mestre da Ordem de Cristo, Nuno Freire de Andrade, que requer para o seu educando o provimento nas funções de mestre da Ordem de Avis, lugar que se encontrava vago por falecimento do seu titular, D. Martim de Avelar.

D. Pedro I investe-o nessas funções com apenas seis anos e arma-o cavaleiro. Em companhia de D. Fernão Martins de Sequeira, comendador-mor da Ordem de Avis, passa a maior parte da sua juventude.

Apesar dos votos que o prendem à situação de estado clerical, teve de Inês Pires um filho bastardo, D. Afonso, provavelmente nascido em 1377, que viria a ser conde de Barcelos e duque de Bragança. Desta mesma senhora voltará a ter uma filha, D. Brites, condessa de Arundel.

O Mestre de Avis ocupa uma posição proeminente durante o reinado de D. Fernando, tendo sido um dos negociadores dos sucessivos contratos de casamento de D. Beatriz, na sequência de outros tantos convénios.

Desde muito cedo começou a ser olhado com desconfiança pela rainha D. Leonor, que suspeitava que ele insinuava uma ligação ilícita entre ela e João Fernandes de Andeiro.

D. João é preso por ação de D. Leonor

Encerrado, sob prisão, no Castelo de Évora, na Primavera de 1382, por acção de D. Leonor, receia a cada passo ser executado. Solicita, entretanto, ao conde de Cambridge, chefe do destacamento inglês em Portugal, o seu valimento. Este mostra-se distante, mas é possível que tenha tido alguma influência a seu favor.

Restituído à liberdade, D. João corre a agradecer ao rei no Vimeiro e toma parte numa peregrinação de graças a Santa Maria de Benavila.

Com a morte de D. Fernando, em 22 de Outubro de 1383, os acontecimentos precipitam-se. O Mestre de Avis participa nas exéquias. Sucede, contudo, que a rainha, desconfiada, afasta-o da corte, nomeando-o fronteiro no Alentejo.

D. João finge obedecer, mas já se encontra no centro da conspiração urdida por Álvaro Pais. Simulando uma partida para o Alentejo, a pouca distância da capital, entrevista-se com os acompanhantes e resolve regressar.

Concretiza-se a conspiração liderada por D. João

Ao entrar no paço, a rainha mostra-se desconfiada, quer pelo retorno, quer ainda por se encontrarem armados. Segue-se a morte violenta de João Fernandes de Andeiro com a participação de D. João e a notícia posta a correr de que querem matar o Mestre.

A ocorrência dá-se em 6 de Dezembro de 1383. Apesar do apoio popular que vê no Mestre de Avis o chefe da revolução, este receia as consequências dos seus actos. Antes de ser proclamado regedor e defensor do Reino, nas proximidades do Natal de 1383, sente-se em D. João uma profunda ansiedade a par de uma certa pusilanimidade.

Receoso de não ser capaz de controlar os destinos da revolução, decide embarcar a bordo de um dos dois navios ingleses fundeados no Tejo. Demovido do seu projecto, apressa-se a pedir o perdão da rainha e chega a enviar emissários com o intuito de a pedir em casamento, o que ela rejeita com a maior dignidade.

O ano de 1384 apresenta-se crítico para os apoiantes do Mestre que, numa assembleia realizada em Lisboa, o haviam designado para as funções de regedor.

Os primeiros meses do ano são destinados aos preparativos de defesa da capital. A frota castelhana dá início ao cerco de Lisboa no dia 26 de Maio, prolongando-se o assédio por terra até ao dia 3 de Setembro de 1384. O Mestre permanece na capital até ao início de Novembro, sendo confirmado nas funções de governador numa assembleia realizada em 6 de Outubro.

São convocadas as Cortes de Coimbra

Nessa reunião assenta-se no princípio da necessidade de se proceder à convocação de cortes para eleição do rei.

Com a partida definitiva da esquadra castelhana que cerca Lisboa em 28 de Outubro, D. João acha-se em posição de tomar os castelos da Estremadura que tinham tomado voz por D. Beatriz. Apodera-se de Torres Vedras e segue em direcção a Coimbra.

As cortes têm início no mês de Março, sendo D. João eleito rei em 6 de Abril de 1385, através de uma acção concertada dos seus partidários aí presentes com os procuradores dos municípios, que vêm mandatados para o efeito.

Terminadas as cortes, o rei dirige-se para o Norte com o propósito de conquistar os castelos que lhe são adversos. Observa-se, contudo, que esta atitude é mais assumida pelos alcaides do que pelas guarnições. Em Maio e Junho apodera-se de Guimarães e de Ponte de Lima.

Terminada esta campanha, dirige-se de novo para o Centro do País. A Batalha de Aljubarrota dá-se em 14 de Agosto de 1385, com uma retumbante vitória de D. João I.

A campanha contra os castelos de Trás-os-Montes que haviam tomado voz por D. Beatriz verifica-se a partir de Novembro de 1385.

Iniciam-se os ataques a Castela

Em Junho do ano seguinte, D. João I passa à posição de agressor ao penetrar no reino de Castela. Encontra-se em Ponte de Barca com o duque de Lencastre, em 1 de Novembro de 1386, ficando assente o seu casamento com D. Filipa de Lencastre acontecer no Porto, em 2 de Fevereiro de 1387.

Nos meses de Abril e Maio desse ano realiza uma nova acção militar em terras de Castela. No ano que se segue, em Fevereiro e Março, enceta uma nova campanha contra o castelo de Melgaço e penetra na Galiza.

No fim do Verão de 1388 encontra-se no Alentejo em operações militares e nasce-lhe o primeiro filho, Dona Branca, falecida com menos de um ano. Em 29 de Novembro de 1389 negoceia uma trégua com Castela, com efectividade por seis anos.

Em 1390 nasce-lhe o seu filho D. Afonso, que morre aos dez anos de idade. Em Maio de 1396 agravam-se as relações com Castela e acusa-se Henrique III de não respeitar as cláusulas do acordo.

Reabertas as hostilidades, os Portugueses conquistam Badajoz, quando o nosso rei se encontrava em Santarém. Novo ataque à Galiza se verifica nos meses de Maio a Agosto de 1388 com a presença do rei.

Em Maio de 1400, o rei ataca Alcântara, sendo assinada uma nova trégua, por dez anos, em 28 de Setembro desse ano.

Grave crise financeira

Do ponto de vista interno depara-se a D. João I uma grave crise financeira, que leva o rei a tomar medidas saneadoras, o que gera um forte descontentamento da nobreza tradicional, que emigra para Castela, sobretudo nos anos de 1497 e 1498.

Destacam-se, entre esses nobres que se opõem à política do rei, Martim Vasques da Cunha, João Fernandes Pacheco e João Afonso Pimentel. O próprio Nuno Álvares Pereira chega a ameaçar com o abandono do Reino.

Perante as dificuldades que o Reino atravessa, D. João I vê-se obrigado, em 1406, a restringir drasticamente as despesas da corte.

No ano seguinte tenta a paz com Castela, embora sem resultados. Esta é possível em 31 de Outubro de 1411, com a assinatura de João II de Castela.

Sentindo-se cansado, o rei decide, em 1412, associar ao governo o príncipe herdeiro D. Duarte, reduzindo os actos administrativos e o ritmo de convocação das cortes.

Devido à pressão da nobreza, envolve-se na expedição a Ceuta, que se verificou em Agosto de 1415.

Forma, ainda nesse ano, as grandes casas ducais de seus filhos D. Pedro e D. Henrique.

Uma das preocupações essenciais denotadas por D. João I a partir de 1418 consiste na consolidação da defesa da raia. Além da reparação de castelos institui grande número de coutos de homiziados.

Os últimos anos do reinado de D. João I

Os últimos dez anos do seu governo caracterizam-se por uma grande passividade. O rei, que viajara incessantemente por todo o Reino, se exceptuarmos o Algarve, e Trás-os-Montes a partir do século xv, abandona totalmente o País acima do rio Mondego, limitando a sua esfera governativa ao triângulo Lisboa-Santarém-Évora.

O último grande acto de D. João I consiste na assinatura do tratado de paz com Castela, estando em Almeirim, em 17 de Janeiro de 1432.

Velho e alquebrado, morre em 14 de Agosto de 1433, com a idade de setenta e seis anos, restando vivos os seus filhos D. Duarte, D. Pedro, D. Isabel, D. Henrique, D. João e D. Fernando. [H. B. M.]

Fontes: Dicionário Ilustrado da História de Portugal – vol. 1 (texto editado e adaptado) | Imagem (Quadro francês representando o casamento real na Sé do Porto, pintado já no século XV. Embora oficializado no dia 2 de fevereiro, a cerimónia realizou-se apenas no dia 11)