Dia Internacional contra a Utilização das Crianças-Soldado – 12 de fevereiro
O Dia Internacional contra a Utilização das Crianças-Soldado, assinalado a 12 de fevereiro, é uma data que visa sensibilizar o mundo para uma das mais cruéis violações dos direitos humanos: o recrutamento e utilização de crianças em conflitos armados.
Este dia, também conhecido como o “Dia da Mão Vermelha“, recorda que milhares de crianças, algumas com apenas sete ou oito anos, continuam a ser forçadas a participar em guerras e a sofrer as terríveis consequências da violência.
A realidade das crianças-soldado
O termo “criança-soldado” refere-se a qualquer pessoa com menos de 18 anos que seja recrutada ou utilizada por forças armadas estatais ou grupos armados não estatais, seja como combatente ou para outras funções, como cozinheiros, mensageiros, espiões ou escravos sexuais.
Estas crianças são frequentemente raptadas, manipuladas ou coagidas a ingressar em forças militares, sendo forçadas a cometer atrocidades e a viver em condições desumanas.
Muitos destes menores são treinados para matar, obrigados a atacar as suas próprias comunidades e expostos a níveis extremos de violência. O trauma psicológico que sofrem é imenso e, mesmo quando conseguem escapar ou são resgatados, a reintegração na sociedade é um processo longo e difícil.
O papel da ONU e de outras organizações
A luta contra a utilização de crianças-soldado é levada a cabo por diversas organizações internacionais, como a ONU, a UNICEF, a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch. Estas entidades trabalham para erradicar esta prática, pressionando governos e grupos armados a pôr fim ao recrutamento infantil e a libertar as crianças que já se encontram em combate.
Em 2000, a ONU adotou o Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança relativo ao Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados, que proíbe o recrutamento forçado de menores de 18 anos e estabelece medidas para evitar a participação de crianças em hostilidades. Este protocolo tem sido um instrumento fundamental na luta contra esta violação dos direitos humanos.
Além disso, o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional considera o recrutamento de crianças menores de 15 anos um crime de guerra. Esta legislação permite que responsáveis por tais crimes sejam levados a julgamento, promovendo a responsabilização de líderes militares e políticos que utilizam crianças nos seus exércitos.
Regiões afetadas
O problema das crianças-soldado não é exclusivo de uma só região, estando presente em vários continentes, especialmente em zonas afetadas por conflitos prolongados. Entre os países onde esta prática ainda ocorre, destacam-se:
- República Democrática do Congo – onde grupos rebeldes e forças governamentais têm sido acusados de recrutar crianças para combater.
- Sudão do Sul – um dos países com maior número de crianças-soldado, onde o conflito civil tem gerado milhares de vítimas infantis.
- Somália – onde o grupo extremista Al-Shabaab continua a recrutar e a forçar crianças a participar em ataques terroristas.
- Mianmar – onde tanto o exército nacional como grupos rebeldes têm utilizado crianças como combatentes.
- Síria e Iraque – onde grupos terroristas, como o Daesh (ISIS), recrutaram e treinaram crianças para cometer atentados suicidas e participar em execuções.
Apesar dos esforços internacionais, estas práticas continuam a ocorrer, demonstrando a necessidade de maior ação e vigilância.
O impacto psicológico e social
As crianças que são forçadas a participar em conflitos armados sofrem danos psicológicos profundos. Muitas desenvolvem transtorno de stress pós-traumático (TEPT), ansiedade, depressão e dificuldades de socialização. Foram expostas à violência extrema e, em muitos casos, obrigadas a cometer atrocidades contra as suas próprias comunidades, o que torna a sua reintegração extremamente difícil.
Além disso, o estigma social muitas vezes impede que estas crianças voltem a ter uma vida normal. Em algumas culturas, os ex-crianças-soldado são vistas como perigosas e rejeitadas pelas suas próprias famílias e aldeias. As meninas, muitas vezes utilizadas como escravas sexuais, enfrentam ainda um risco acrescido de exclusão e dificuldades para reconstruir as suas vidas.
O papel da educação na prevenção
Uma das principais formas de combater o recrutamento infantil é através da educação. Quando as crianças têm acesso à escola e a um ambiente seguro, a probabilidade de serem recrutadas por grupos armados diminui significativamente.
Organizações como a UNICEF têm desenvolvido programas educativos para crianças em zonas de conflito, proporcionando-lhes uma alternativa à violência e garantindo que podem crescer num ambiente mais protegido.
Além disso, é essencial que os governos invistam na criação de oportunidades económicas para as famílias em regiões afetadas, pois a pobreza extrema é uma das razões que levam muitos pais a entregar os seus filhos a grupos armados.
A campanha da Mão Vermelha
O Dia Internacional contra a Utilização das Crianças-Soldado é também conhecido como o “Dia da Mão Vermelha“, em referência à campanha global que utiliza a imagem de uma mão pintada de vermelho como símbolo da luta contra esta prática.
Todos os anos, organizações e escolas de vários países participam nesta campanha, promovendo eventos e iniciativas de sensibilização. As pessoas são convidadas a pintar as mãos de vermelho e a deixar a sua marca em murais ou cartazes, enviando uma mensagem clara aos governos e às Nações Unidas: “Nenhuma criança deve ser utilizada na guerra”.
A campanha tem ajudado a pressionar líderes mundiais a tomar medidas concretas para erradicar esta prática e garantir que todas as crianças tenham direito a uma infância livre de violência.
Casos de sucesso e esperança
Apesar da gravidade do problema, têm sido feitos progressos significativos na luta contra a utilização de crianças-soldado. Nos últimos anos, vários países assinaram acordos para libertar crianças dos seus exércitos e grupos armados.
Um exemplo notável é a Colômbia, onde o grupo guerrilheiro FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) concordou, como parte do processo de paz, em libertar todas as crianças que faziam parte das suas fileiras. Este foi um passo importante para a proteção dos direitos das crianças naquele país.
Além disso, em países como a Serra Leoa e a Libéria, que no passado enfrentaram guerras civis devastadoras com a participação de crianças-soldado, programas de desarmamento, desmobilização e reintegração ajudaram milhares de jovens a reconstruir as suas vidas.
O que ainda falta fazer?
Embora os progressos sejam encorajadores, ainda há muito a ser feito para erradicar totalmente a utilização de crianças em conflitos armados. Algumas das ações essenciais incluem:
- Aumento da pressão internacional sobre governos e grupos armados que continuam a recrutar crianças.
- Maior financiamento para programas de reintegração, garantindo que ex-crianças-soldado recebam apoio psicológico, educação e oportunidades de emprego.
- Fortalecimento das leis internacionais e da sua aplicação, garantindo que os responsáveis por estes crimes sejam levados à justiça.
- Sensibilização global para que mais pessoas se juntem à luta contra esta prática desumana.
Conclusão
O Dia Internacional contra a Utilização das Crianças-Soldado é uma oportunidade para refletirmos sobre os horrores enfrentados por milhares de crianças em zonas de guerra e para reafirmarmos o compromisso de acabar com esta prática. Cada criança tem o direito a uma infância segura, com acesso à educação e longe da violência.
A comunidade internacional deve continuar a trabalhar em conjunto para garantir que o recrutamento infantil seja erradicado de uma vez por todas. Só assim poderemos construir um mundo onde todas as crianças possam crescer em paz e com esperança no futuro.
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