Extinção da Ordem dos Templários – 22.03.1312

A Ordem dos Cavaleiros do Templo ou Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão

Em meados do século XII, oito cavaleiros franceses, agrupados em torno de um nobre da Champagne, Hugo de Payns, tomaram a decisão de assegurar a proteção dos peregrinos que se dirigiam a Jerusalém.

O rei cristão desta cidade, Balduíno II (1118-1131) doou então a estes cavaleiros uma casa localizada no que fora antigamente o Templo de Salomão.

Daí a explicação para o nome da ordem então criada, Cavaleiros do Templo ou Pobres Cavaleiros de Cristo e do templo de Salomão.

S. Bernardo, monge cisterciense e figura de proa da Cristandade ocidental do século XII, ajudou estes cavaleiros a elaborar a sua própria regra.

Esta foi inspirada assim nos costumes cistercienses, apoiando a sua aprovação no concílio de Troyes de 1128.

São Bernardo tornou-se um acérrimo defensor desta “nova milícia”, como lhe chamou em um dos seus fervorosos e flamejantes tratados espirituais, De laude novæ militiæ (Em louvor da nova milícia), escrito por volta de 1130.

Simultaneamente monges e soldados, estes Cavaleiros do Templo conciliavam na sua forma de vida os ideais da cavalaria medieval e os mais exigentes preceitos de vida monástica.

Ou não tivessem eles sido inspirados por S. Bernardo, príncipe dos monges da Idade Média reputado pelo seu fervor e radicalidade de vida religiosa.

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Primeiro objetivo dos Templários

O objetivo destes cavaleiros era a proteção, assistência e socorro dos peregrinos que se dirigiam à Terra Santa.

A par de outras ordens religiosas militares, os Templários participavam também na defesa dos Estados Latinos da Terra Santa e respetivos Lugares Sagrados.

No entanto, com o decorrer dos tempos, esta função hospitalária e assistencial, apoiada na ação militar, tendeu cada vez mais para atividades de carácter financeiro, relacionadas com as necessidades dos peregrinos e dos cruzados.

Foi esta ligação a atividades bancárias que fez com que se dissipasse a aura mística e fervorosa do início e com que os poderes e a sociedade começassem a ver os Templários como grandes detentores de capitais e de um colossal património imobiliário, pouco condizente com a sua Regra e escopo original.

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A estrutura hierárquica

Muito hierarquizados, os Templários compreendiam nas suas fileiras

– cavaleiros e capelães nobres,

– bem como irmãos laicos e “sargentos”.

Esta divisão radicava também no modelo cisterciense, que separava os monges de origem nobre (sacerdotes) dos de origem plebeia (irmãos conversos).

À cabeça da ordem, figurava o grão-mestre, eleito pelos cavaleiros, grupo a que pertencia, aliás. Era, todavia, obrigado a consultar o capítulo geral da ordem para as decisões mais importantes.

Os Templários não deixaram de ter uma aura de prestígio e reputação de grande coragem, o que fez com formassem um autêntico Estado soberano, tais eram as mercês e privilégios com que foram, principalmente no seu primeiro século de existência, cumulados pelo papado.

Este estado de graça fez com que prosperassem imensamente e atingissem um efetivo de cerca de 15.000 religiosos em fins do século XIII.

Por outro lado, ainda durante esta sua fase de crescimento e popularidade, os Templários, graças à sua atividade assistencial e gestão rigorosa do seu património, puderam organizar o primeiro banco internacional.

Usaram os seus lucros para ações de generosidade e auxílio, como o resgate de cativos reduzidos à escravidão entre os muçulmanos, por exemplo.

Outra das suas aplicações foi a construção de fortificações em rotas de peregrinos ou pontos de defesa na Terra Santa. Por exemplo, o célebre Krak dos Cavaleiros, na atual Síria.

É um monumento da arquitetura militar por excelência e modelo de proteção e defesa de caminhos e de peregrinos.

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A queda de Jerusalém e o fim dos Templários

Em 1291, com a queda de Jerusalém e a retirada das ordens militares da Terra Santa, perde-se a sua razão de existir.

Ignorando as pressões e conselhos de soberanos europeus e dos próprios Papas, o então grão-mestre dos Templários, Jacques de Molay, recusou toda e qualquer fusão da sua ordem com os Hospitalários.

Esta era outra ordem religiosa militar de cariz assistencial e com forte implantação no Levante mediterrânico.

Em meados do século XIV, perante este impasse, o rei de França Filipe, o Belo, suprime a Ordem em França e congela o seu gigantesco património.

A 13 de maio de 1307 Jacques de Molay é mesmo preso.

Em 1312, sob pressão de Filipe, o Belo, o papa Clemente V, na segunda sessão do concílio de Vienne (1311-1312), pronuncia a dissolução da Ordem do Templo a 22 de Março, confirmada em bula de 3 de Abril desse ano. Os bens dos Templários são também transferidos para os Hospitalários.

Num ambiente de perseguição e acusações, os Templários são perseguidos por toda a Cristandade, principalmente em França, assistindo-se a atos brutais de crueldade.

Recorde-se, por exemplo, que a 19 de Março de 1314, Jacques de Molay e Geoffrey de Charnay, figuras cimeiras dos Templários, irredutíveis na defesa intransigente da ordem, foram queimados vivos depois de terem recusado comprovar as acusações – um tanto absurdas e infundadas – levantadas contra eles.

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O processo e a herança deixada

O processo de extinção dos Templários constitui um dos “casos por resolver” da História e envolto em brumas e enigmas.

Estes, muitas vezes, conduzem à ideia, por provar, de que os Templários

– terão sido ou alvo de cobiça devido ao seu espantoso património,

– ou “bodes expiatórios” de uma certa decadência da Cristandade e da luta entre o seu poder e o dos Estados em fase de afirmação política.

Atualmente alguns grupos de cidadãos reclamam a herança espiritual e mística dos Templários, tentando um ressurgimento da Ordem.

Os Templários em Portugal

Em Portugal, a primeira notícia referente aos Templários é uma doação feita por D. Teresa em 19 de Março de 1128. Trata-se do castelo e terras de Soure.

Esta doação é a primeira de muitas com os reis portugueses brindaram os Templários, muito importantes no apoio à Reconquista Cristã e formação do reino de Portugal.

Estabeleceram-se em Tomar em 1160, aí iniciando a construção de um castelo e respetivas dependências conventuais.

Os Templários eram detentores de um vasto senhorio com inúmeros benefícios e terras na região entre Tomar e o Tejo, em cujo rio construíram o Castelo de Almourol, outro dos seus emblemas no nosso País. Até à sua extinção em Portugal, em 1312, em pleno reinado de D. Dinis.

No entanto, ao contrário de além-Pirenéus, os bens dos Templários na Península Ibérica – graças às pressões dos monarcas peninsulares – não estavam abrangidos pela imposição papal de serem transferidos para os Hospitalários.

D. Dinis conseguiu, depois de sete anos de negociações com a Santa Sé, que esta autorizasse a fundação de uma milícia portuguesa a partir dos bens dos extintos Templários.

Foi esta milícia denominada Ordem de Cristo, e confirmada pela bula Ad ea ex quibus, de 14 de Março de 1319, emitida em Avinhão por João XXII.

Muitos dos Templários portugueses, segundo a tradição, terão passado para a Ordem de Cristo. Esta, a partir de 1356, teve como sede a antiga fortificação-convento templária de Tomar.

A mais conhecida das figuras da Ordem de Cristo em Portugal foi o Infante D. Henrique.

Fontes: Ordem dos Templários. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013 (exto editado e adaptado) | Imagem