Festa da Bugiada em São João de Sobrado

Festa da Bugiada

O Bugio vai ter uma casa-museu.

É uma forma de guardar a memória da festa do São João de Sobrado (Valongo) que atrai multidões e assenta no simulacro da luta entre bugios e mourisqueiros, com grande riqueza de indumentárias e costumes.

Quem nunca assistiu às bugiadas de Sobrado poderá ficar surpreendido. Desde logo porque, aqui, tudo funciona ao contrário.

O Bem é de costumes ousados, veste mal, é malcriado e sujo. São os Bugios.

O Mal é asseado, com roupas alinhadas, ordeiro. São os Mouriscos.

Subvertida a ordem, começa a festa.

As hostilidades começam de manhã, com os Bugios – homens, mulheres e crianças – vestidos com capas, gibões e calções coloridos. De comum têm as máscaras e representando focinhos de bichos temerosos.

Depois vêm os Mouriscos, normalmente rapazes solteiros que empunham espadas e usam boas roupas, com ares de fidalguia, e capacetes cilíndricos, enfeitados com espelhos, galões dourados e palmas vermelhas.

Começam por ir a casa do chefe, o Reimoeiro, onde matam o bicho.

A festa costuma dividir-se em quatro partes:

cerimónias religiosas em honra de São João, sermão e procissão;

– as danças e luta entre bugios e mourisqueiros, os primeiros em grande número, foliões e mascarados, e outros menos numerosos, com ar marcial;

– os rituais agrícolas, que compreendem a cobrança de direitos e a dança do cego;

– a crítica social, muito apreciada, apesar de ter perdido alguma da acutilância que a caracterizava.

De Bugio pode ir quem quiser e brincar como achar por bem. Basta mandar fazer a máscara.

Os Mouriscos são de acesso mais reservado. É obrigatório ser rapaz e solteiro e, antigamente, ir de Mourisco tinha o valor simbólico de representar a entrada na idade adulta.

Segundo a lenda, os Mouriscos habitavam a Cuca-Ma-Cuca.

Bugios eram os cristãos da povoação que emprestam o santo padroeiro aos Mouriscos para lhes curar a filha do chefe. O problema é que os mouros são «traiçoeiros por tendência» e gostam de «roubar por destino». De modo que se apoderam do santo.

A Bugiada é este constante e frenético guerrear entre duas facções.

Nos intervalos da cerimónia, os Bugios infiltram-se por entre a multidão. Correm, saltam, empurram, atropelam, divertem-se como ninguém. Depois de almoço fazem a cobrança de direitos entre comerciantes e vendedores. E lá se vão bebidas, doces e alguns brinquedos.

O auge da festa

O auge da festa atinge-se com a guerra ente Bugios e Mouriscos. Cada um dos grupos está no seu castelo. Começam por negociar através de diplomatas e um estafeta a cavalo. Para a história ser completa, as negociações têm de falhar e a guerra estalar.

Ecoam tiros de pólvora seca e impõe-se a gritaria estonteante dos Bugios.

A multidão instala-se em redor do castelo para assistir ao assalto dos Mouriscos, que aprisionam o Velho, o chefe dos Bugios. Quando tudo parece perdido para os cristãos aparecem uns Bugios com um dragão assustador (de pano de madeira). O inimigo foge, aterrorizado.

À tremenda explosão de alegria dos Bugios segue-se a morteirada. Os Mouriscos reorganizam-se às portas do adro e executam a dança do Santo. A festa não acabou. De resto, não se sabe quando acaba. Porque enquanto houver um folião na parada, a Bugiada está a correr.

(A Bugiada é uma festa anual que decorre no mês de Junho, tradicionalmente a partir de 20 de Junho até ao dia de São João, dia 24 de Junho).

Fonte: In GUIA Expresso “O melhor de Portugal” – 12 – Festas, Feiras, Romarias, Rituais