Gregório, o Magno | Personagens da História

Papa Gregório, o Magno

O Papa Gregório, o Magno (Gregório I – c. 540-604), foi o último dos grandes Padres da Igreja Católica Romana, tendo governado de 590 a 604.

É sobretudo recordado como o impulsionador da conversão da Inglaterra ao cristianismo.

Na época de Gregório, o Império Romano da Europa Ocidental sucumbiu às invasões bárbaras.

O Império do Oriente sobreviveu, centrando-se em Constantinopla (actualmente Istambul), controlando parte do Sul da Itália, mas estava demasiado longínquo para proteger Roma como devia.

Gregório era neto de um papa anterior, Félix III, e homem de famílias nobres e poderosas.

Era, contudo, modesto e reservado e, depois de ter fundado e dotado um convento em Roma, acabou por ingressar nele. Permaneceu monge o resto da vida, pertencendo à Ordem Beneditina.

Em 590, Gregório tornou-se papa, apesar de objecções vigorosas de que era indigno do cargo, tendo-se apresentado como servus servorum Dei, servidor dos servidores de Deus.

Como papa, teve três objectivos principais:

– aliviar o sofrimento do povo, principalmente dos refugiados que fugiam dos invasores lombardos,

– converter os pagãos ao cristianismo,

– e estabelecer a autoridade do papa no Ocidente.

Em todos eles foi bem sucedido.

O «Papa do Povo»

Mereceu a reputação de «Papa do Povo», usando os bens da Igreja para ajudar os pobres, e diz-se que foi canonizado por aclamação popular.

Gregório tornou a administração papal mais eficiente, de modo a distribuir ajuda pelos pobres.

Um resultado desta actuação foi aumentar o poder do cargo de papa, principalmente no Centro da Itália, que se tornou conhecida por Estados Pontifícios.

Ao desempenhar um papel importante na conversão dos Bárbaros, alargou ainda a autoridade papal e, no termo do seu domínio, o papado exercia no Ocidente a maior parte do poder que fugira das mãos dos fracos imperadores orientais.

Conta-se que o interesse de Gregório pela Grã-Bretanha surgiu pela primeira vez ao ver uns bonitos escravos britânicos num mercado de Roma.

Tendo perguntado quem eram, disseram-lhe que eram Anglos (uma tribo inglesa). «Anglos não, mas sim Anjos», respondeu o Papa.

Em 595, cometeu o feito mais importante do seu papado ao enviar Santo Agostinho como primeiro arcebispo de Cantuária para converter os Ingleses.

Neste aspecto, Santo Agostinho foi tão bem sucedido que iriam ser os missionários ingleses, conduzidos por S. Bonifácio, que levaram a cabo a conversão das populosas tribos germânicas, menos de cem anos depois.

Gregório popularizou os serviços litúrgicos, instituindo os maravilhosos cantos gregorianos.

Tudo isto ajudou a aumentar a influência do papa e a fixar a sua exigência de liderar toda a Igreja Cristã.

Gregório continuou a ser modesto e proibiu a veneração do seu túmulo sob pena de excomunhão.

Era tal a popularidade do «Papa do Povo» que esta foi uma das suas poucas ordens a ser desobedecida.

A defesa dos fracos contra os poderosos

Distinguiu-se também pela maneira como defendia os fracos contra os poderosos (conforme poderá ler-se na sua correspondência, que é de resto de uma importância fundamental para o conhecimento da sua época).

Leia-se, a título de exemplo, este trecho de uma carta em que ele recomenda o ex-pretor da Sicília a Leontius, que o estava a julgar:

«Vossa Excelência, deve recordar-se de que nunca lhe pedi nada que não estivesse dentro dos limites da justiça.

… Quem vem a ser o homem pelo qual vos peço, como procedeu, é uma coisa que nunca procurei saber.

Mas o que eu sei muitíssimo bem é que, embora ele tenha roubado os dinheiros públicos, a justiça deveria ter-se exercido sobre os seus bens, mas nunca sob a sua pessoa tirando-lhe a liberdade.

Esse ultraje à liberdade não é apenas uma ofensa a Deus e à vossa própria dignidade, é também um ultraje ao nosso país e ao imperador.

A grande diferença entre os reis bárbaros e os imperadores romanos consiste em que os reis bárbaros são senhores de escravos, domini servorum sunt, e o imperador dos romanos é senhor de homens livres, dominus liberorum.

Eis a razão por que em todos os vossos actos deveis observar a justiça e respeitar a liberdade humana».

Papa Gregório Magno (c. 540-604)
Papa Gregório Magno (c. 540-604)

Fonte: “Personagens da História”, Círculo dos Leitores (texto editado, adaptado e aumentado) | Imagem de destaque: “O Papa Gregório, reclinado no sofá, ensinando aos jovens romanos o canto que ainda hoje tem o seu nome. Fundou uma escola de canto, apoiada pela produção de duas quintas. O seu sofá e o chicote que usava para castigar os jovens foram preservados depois da sua morte.