São Martinho, castanhas e vinho | Tradições
São Martinho, castanhas e vinho
A lenda do milagre de São Martinho, santo padroeiro dos agricultores e produtores de vinho, é muito antiga.
Conta-nos que, num dia de chuva e frio, este oficial romano se apiedou de um mendigo faminto e desnudado.
Martinho cortou em dois o seu manto militar e o seu pão e partilhou o conforto com o pobre.
A partir daqui, as lendas multiplicam-se.
Uma versão refere que, naqueles tempos, o traje militar era intocável e imaculado.
Para quem o corrompesse propositadamente estava guardada a desonra e a punição em praça pública.
Devido aos dias tempestuosos e gélidos que se viviam, os superiores de Martinho decidiram atá-lo a um poste ao ar livre, totalmente nu.
E é aqui que surge o milagre.
A partir do momento em que o militar (e futuro bispo) é sujeito ao castigo, os céus esqueceram toda a cor cinzentona e o calor soalheiro permaneceu durante todo o período punitivo.
Daí se apelidar “verão de São Martinho” ao tempo quente em pleno outono, com aroma de castanhas assadas e sabores de vinho novo.
“Pelo São Martinho vai à adega e prova o teu vinho” é um dos muitos provérbios que cruzam gerações.
Outro faz boa recomendação aos produtores: “Pelo São Martinho abatoca o pipinho“.
A Rede Europeia das Cidades do Vinho instituiu o Dia Europeu do Enoturismo, que se realiza no segundo domingo de novembro, celebrando o São Martinho.
As adegas portuguesas abrem as portas à sua visita e à descoberta ou ao aprofundamento da cultura e dos sabores únicos do vinho. (1)
A relação entre São Martinho e a palavra «capela»
A palavra capela tem origem no vocábulo latino cappella, diminutivo de cappa, que significa capa, logo cappella seria uma capinha, uma capa pequena.
O vocábulo cappella terá aparecido pela primeira vez por volta do ano 660 para designar um pedaço da capa de S. Martinho.
Conta-se que, em 338, S. Martinho teria partido a sua capa ao meio para dar metade a um pobre.
Esse pedaço da capa de S. Martinho, uma capinha por já não ser a capa inteira, foi então guardado num relicário e conservado num oratório construído de propósito para aí poder ser visto e venerado.
A determinado momento o nome cappella começou a ser aplicado ao oratório onde estava o relicário.
O termo foi mais tarde alargado a outros relicários e passou a substituir a palavra oratório.
Já no século XIII, a palavra se aplicava a qualquer local consagrado ao culto religioso e, desde o século XV, passa a designar um «lugar separado na igreja e onde há um altar», alargando-se depois a todos os locais de culto que não tinham o estatuto de igrejas. (2)
Alguns provérbios populares ou adágios:
» No dia de S. Martinho vai à adega e prova o teu vinho.
» Mais vale um castanheiro do que um saco com dinheiro.
» Dia de S. Martinho fura o teu pipinho.
(1) Aníbal José Coutinho (Continente Magazine) | (2) Cf. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado | Imagem de Antonio Cansino