Tratado de Zamora – 5 de Outubro de 1143
Na Conferência de Zamora foi assinado um Tratado
Na alternância das suas atividades militares contra os Mouros, nem sempre bem sucedidas, e contra seu primo Afonso VII, rei de Leão e autoproclamado «imperador das Espanhas» (que se fez coroar como tal em 1135), Afonso Henriques recomeçou no dealbar do ano de 1140 os seus ataques na Galiza, com o evidenciado intuito de dilatar a norte o domínio portucalense.
Afonso VII acorreu em defesa das terras ameaçadas pela belicosidade de D. Afonso Henriques, cuja ofensiva naquela direcção foi paralisada depois do recontro de Valdevez.
Aceite por ambos uma trégua, a paz definitiva entre os dois contendores veio a ser estabelecida por intervenção do papa Inocêncio II, que para o efeito enviou à Península o seu legado Guido de Vico, na conferência realizada em Outubro de 1143 em Zamora.
Este tinha vindo à Península para orientar a reforma eclesiástica e obter auxílio monetário ao Papa, enfraquecido pelas suas lutas com o antipapa Anacleto II e pela necessidade de pagar um pesado resgate aos normandos que o tinham aprisionado.
O legado devia também ter incitado os soberanos cristãos a intensificarem a luta contra o Islão, que nessa altura começava a ficar enfraquecido, devido à decadência política do império almorávida.
De facto, as expedições portuguesas e castelhanas vieram em breve a tornar-se mais agressivas.
Afonso Henriques é reconhecido como rei de Portugal
Afonso Henriques viu reconhecido e confirmado (pois já anteriormente o usava) o título de rei de Portugal, confinado aos limites da doação territorial feita por seu avô Afonso VI ao conde D. Henrique e aos domínios que viessem a ser tomados aos Mouros na direcção sul, seguindo a linha perpendicular demarcada a leste por aquela doação.
Afonso Henriques, no entanto, ficaria obrigado por vassalagem a Afonso VII como senhor de Astorga – expediente concebido pelo rei de Leão para manter na sua dependência o irrequieto monarca do novo reino cristão peninsular.
Alexandre Herculano viu nesse pacto político o reconhecimento efectivo da autonomia de Portugal como Estado, sob patrocínio (pelo menos provisório) da Santa Sé.
Mas outros historiadores, sem diminuírem o alcance da Conferência de Zamora como base do reconhecimento expresso do título régio a Afonso Henriques, interpretam-na como confirmação de situações de facto já consolidadas e afirmadas, pelo menos, desde 1140.
E, de qualquer modo, o pacto entre os dois soberanos encerrou o latente conflito sobre a fronteira setentrional portuguesa e abriu caminho à acção mais intensa da Reconquista na direcção meridional.
Vassalagem à Santa Sé
Afonso Henriques
prestou o auxílio monetário que lhe era pedido mediante a vassalagem à Santa Sé.
Este acto contribuía para a sua independência, pois incluía a exclusividade do serviço feudal.
Afonso VII viria a protestar, mas aparentemente sem grande vigor.
Por seu lado, a cúria romana demorou mais de trinta anos a atribuir a Afonso Henriques o título de rei (só a 23 de Maio de 1179 o Papa Alexandre III emitiu uma bula que começava pelas palavras «Manifestis probatum») em parte como forma de afirmar a sua autoridade em relação a um vassalo.
Em todo o caso, este conjunto de acto representou o reconhecimento da posição do nosso primeiro rei no palco internacional
Fonte: Dicionário Enciclopédico da História de Portugal + Memória de Portugal – o milénio português (textos editados e adaptados) | Imagem: Castelo de Zamora