Um vinho para cada prato – algumas sugestões
Um vinho para cada prato
Se, para uma refeição comum, um só vinho pode acompanhá-la totalmente, ao pretender-se um pouco mais de requinte, dois vinhos são indispensáveis, ou mesmo três, mas não mais.
Deve ter-se presente que comida e vinhos devem constituir um todo harmónico, pelo que a escolha daquela e destes se deve fazer simultaneamente (se possível).
Até se pode dar o caso de a existência em casa de um vinho excepcional, com que se quer obsequiar um amigo, dever condicionar a escolha das iguarias a servir, de forma que as qualidades do vinho possam ser devidamente expostas e apreciadas.
Ora, harmonizar os componentes de uma boa refeição é sempre possível e… não é difícil.
Embora, periodicamente, apareçam novas tendências, a que importa estar atentos, e sem pretendermos ser exaustivos ou limitar gostos pessoais, aqui ficam algumas sugestões:
Com aperitivos
Vinho generoso seco ou meio-seco (Porto branco seco, Madeira Sercial, Madeira Verdelho, Pico) ou vermutes. No tempo quente, o Alvarinho pode constituir um magnífico e elegante aperitivo.
Depois da sopa deve ser logo servido vinho que irá acompanhar o primeiro prato, e que será:
Com ostras, amêijoas, etc.
Vinho branco muito seco e leve: Vinhos verdes, Lafões ou Vale do Varosa.
Com crustáceos e peixes frios
Vinho branco seco ou ligeiramente doce, encorpado: Bucelas, Colares, Douro, Bairrada, Alcobaça, Algarve.
Com peixes quentes, lampreia, atum
Vinho branco mais aveludado e mais encorpado: Dão, Vidigueira, Borba, Palmela.
Com peixes guisados ou de caldeirada, bacalhau assado e sardinhas assadas
Além dos vinhos indicados para os peixes quentes, um vinho tinto também se pode harmonizar: Ribatejo, Dão, Alentejo.
Com entradas ou charcutarias frias
Vinho leve, branco ou rosé: Bairrada, Lafões, Pinhel, Vinhos Verdes.
Com entradas ou charcutarias quentes
Vinhos brancos mais encorpados ou tintos medianamente encorpados: Dão, Douro, Bucelas, Colares, Alentejo (brancos) ou Dão, Douro, Alcobaça, Algarve (tintos).
Com criação e caça de penas
Um grande vinho envelhecido: Dão, Reguengos, Colares.
Com carnes brancas assadas e grelhadas
Vinho tinto medianamente encorpado: Borba, Portalegre, Colares, Alcobaça. Com certos assados, especialmente o leitão, harmoniza-se bem o espumante natural bruto.
Com carnes vermelhas, assadas e grelhadas ou guisadas
Vinho tinto velho encorpado: Dão, Bairrada, Palmela, Ribatejo, Reguengos, Vinhos Verdes (Amarante e Penafiel).
Com queijo
Se este for servido antes dos doces ou fruta, pode ser acompanhado com o vinho que tiver acompanhado a carne.
Ou é, então, a ocasião de servir a melhor preciosidade que se possui em vinho tinto, envelhecido, bem encorpado e de grande bouquet: velhos vinhos do Dão, de Reguengos de Monsaraz, de Borba ou de Colares.
Se o queijo for servido depois do doce ou da fruta, pode servir-lhe de companhia um bom vinho generoso meio-doce ou doce: Porto, Carcavelos, Madeira (Boal ou Malvasia).
Com café
Uma aguardente velha.
Fonte – “Vinhos e queijos portugueses: um guia muito prático”
Os Vinhos dos Santos
Quando celebramos o mês de Junho, mês das Festas de Santo António, São João e São Pedro, a vida torna-se mais ligeira, passamos a desfrutar da comida simples ao ar livre, e a sardinha assada começa o seu reinado à mesa.
A promessa da época balnear é selada com marisco. A leveza marca o que vestimos e as cores claras são a preferência: a nossa mesa estende a toalha aos vinhos brancos e rosés.
Opte pelas regiões atlânticas – como Vinho Verde, Bairrada ou Lisboa – para acompanhar saladas, sardinhas, carapaus e marisco miúdo.
Guarde a opção dos verdes brancos das castas Alvarinho e outros brancos costeiros como madeira para os refogados dos famosos Narcisa e Zé do Pipo, ou ainda para os Brás de bacalhau e afins.
E os maduros…
Escolha as regiões de altitude, como o Douro, Trás-os-Montes, Beira Interior e Dão, para as postas grelhadas de garoupa, cherne, atum ou bacalhau;
opte pelos brancos e rosés do Alentejo, Península de Setúbal, Tejo e Algarve para a companhia do arroz de marisco, massadas de peixe, cataplanas ou caldeirada, para além de acessíveis douradas e robalos de grelha.
O tempo quente deve levar os rosés a assumirem parceria cos os pregos, bifanas ou as carnes simplesmente grelhadas (um tinto suave do sul de Portugal também é uma escolha acertada).
Com gastronomia ou apenas na companhia da família e dos amigos, o vinho nacional revela-se parceiro de devoção para os prazeres do verão.
Aníbal José Coutinho, in Continente Magazine (adaptado)
Para bem servir vinhos e enchidos!
Sabia que…
… a retirada de oxigénio, através de uma bomba de vácuo, amplia a preservação das características sensoriais de um vinho numa garrafa aberta?
… a presença de uma manga refrigeradora no congelador é essencial para o serviço de qualquer garrafa de vinho branco ou rosé?
… quando se trata de uma rolha de um vinho com mais idade, deve garantir que a mesma não está colada às paredes do vidro, antes de a remover?
… com dupla alavanca, deve usar a longa distância para a primeira e maior força de remoção da rolha, e acabar com a alavanca pequena?
… quando usa o saca-rolhas, não deve perfurar a rolha na sua totalidade, evitando assim que caim partículas de cortiça no vinho?
… o armazenamento das garrafas na horizontal só deve ocorrer se garantir a ausência de luz e uma temperatura quase constante ao longo de todo o tempo de guarda?
Sabia que…
… a louça típica de barro é ideal para servir pratos tradicionais à base de enchidos, acompanhados com uma caneca de bom vinho?
… o suporte para presunto, que o centra de forma segura e cómoda, é feito para facilitar o fatiar da peça ao máximo, sendo imprescindível para os amantes deste fumeiro?
Continente Magazine (adaptado)
Sobre os vinhos em Portugal
«Pelo seu ditoso clima, Portugal possue condições em extremo favoraveis ao desenvolvimento da videira, que apresenta ao mesmo tempo muitas variedades, conforme as regiões:
na de entre-Douro-e-Minho, mais fria, e de solo granítico, medra quasi exclusivamente a videira de vinho verde, conquanto a região do vinho verde seja mais extensa;
na parte média da bacia do Douro, paleozoica (pre-cambrica) e com declives extensamente assoalhados, medra a videira do vinho generoso;
entre o Dão e o Mondego, em terrenos graniticos, medra a videira do vinho conhecida com o nome do primeiro d’estes rios;
na Estremadura Cistagana, em terreno mesozoico, medra a videira do vinho de Torres; em pleno coração do Alentejo, quente e sêco, medra a videira do vinho de Borba e de Pera manca;
no Algarve, região de estios calidos, e bafejada pelos ventos de Africa, medra a videira do vinho da Fuseta.
Temos ainda outras regiões vitiferas que dão origem a vinhos notaveis: Bairrada, na Beira Ocidental, Colares, Bucelas, Carcavelos, na Estremadura Cistagana.» (foi mantida a ortografia original)
In Etnografia Portuguesa – Tentame de sistematização, Vol.||, pelo Dr. J. Leite de Vasconcelos
Nota
(1) Nos termos da Carta de Lei de 18 de Setembro de 1908, publicada no Diario do Governo nº215, a região do vinho verde é formada pelos distritos administrativos de Viana do Castelo e Braga, e pelos concelhos Mondim de Basto, no de Vila Real; de Santo Tirso, Vila do Conde, Povoa do Varzim, Bouças, Maia, Valongo, Paredes, Paços de Ferreira, Lousada, Felgueiras, Penafiel, Amarante, Marco de Canaveses, Baião e Vila Nova de Gaia, no do Porto; Castelo de Paiva, Macieira de Cambra, Arouca, Ovar, Feira, Oliveira de Azemeis e Estarreja, no de Aveiro; e Oliveira de Frades, Vouzela e S. Pedro do Sul, no de Viseu. (foi mantida a ortografia original)
Saber mais sobre o trabalho nas vinhas, ao longo do ano.