A mitologia e as plantas: flores e árvores

As flores sempre desempenharam um papel simbólico na mitologia de diversas culturas, representando desde a beleza e fertilidade até a morte e renascimento.

Na mitologia grega, por exemplo, flores como a rosa e o narciso estão associadas a deuses e heróis, simbolizando emoções profundas como o amor e a vaidade.

Noutras tradições, como a mitologia hindu e nórdica, as flores também aparecem como símbolos de espiritualidade, pureza e poder divino.

Este artigo explora o significado das flores em diferentes mitologias, particularmente grega e romana, revelando como essas delicadas formas da natureza foram usadas para contar histórias sobre a vida, a morte e os mistérios do universo.

“As flores na mitologia

Violeta

era uma jovem ninfa do séquito de Diana. Um dia, perseguida por Apolo, invocou a deusa, que a metamorfoseou na flor que tem o seu nome.

Narciso, filho do rei Cefiso, era dotado de maravilhosa formosura. Tendo-se enamorado da sua própria imagem, ao mirar-se nas águas límpidas duma fonte, morreu de indolência. Vénus transformou-o na flor a que o seu nome foi dado.

Jacinto, herói espartano, amigo de Apolo, jogava um dia com o deus, que, involuntariamente, o matou, lançando-lhe à cabeça um disco. Do seu sangue nasceu uma flor, o jacinto.

Tulipa, filha de Proteu, amava os adornos. Perseguida por Vertumno, deus das estações, foi transformada em flor por Pomona.

Ranúnculo, jovem pastor, sabia suaves canções, e a sua voz era tão melodiosa qua as ninfas se sentiam enlevadas ao ouvi-lo. Elas transformaram-no numa flor, que depois invadiu os prados e os campos. Ranúnculo deriva do latim ranuncula, pequena rã, porque uma espécie dessa flor é aquática.

Heliotrópio, palavra grega, significa «Eu me nutro de sol». Diz-se que Clícia amava ternamente o volúvel Apolo e que, desdenhada, se deixou morrer e foi metamorfoseada em flor. O heliotrópio é, por isso, o emblema do mais dedicado amor.

Peónia era uma graciosa pastora, que guardava os rebanhos de Alcinous, pai de Nausicaa. Ela acolheu Ulisses, náufrago. E, tendo um dia, ouvido as suas palavras apaixonadas, tão fortemente enrubesceu que Juno a transformou numa flor vermelha.

Anémona era uma ninfa da corte de Flora. Zéfiro amou-a, mas a deusa, ciumenta, transformou numa flor a sua inocente rival.

Adónis, por quem Vénus se sentiu atraída, foi morto numa caçada por um javali. Júpiter, atendendo às súplicas da deusa, metamorfoseou Adónis na flor desse nome, abundante nas plantações de trigo.

 

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As árvores na mitologia

Se, depois das flores tratarmos das árvores, veremos que os titãs, revoltados contra os deuses, foram fulminados por Júpiter, que lhes deu a forma de árvores.

Filémon e Báucis, por terem dado hospitalidade a Júpiter e ao filho, chegaram à mais adiantada velhice. Báucis tornou-se uma tília e Filémon um carvalho.

Fáeton, filho do Sol e de Clímene, foi precipitado por Júpiter no Eridan, por haver virado o carro do Sol. As irmãs choraram tanto a sua morte que os deuses, compadecidos, as transformaram em álamos.

Sabe-se que as folhas dessas árvores são agitadas por um movimento contínuo, como se elas tremessem. O seu murmúrio é melancólico.

A amoreira recorda a morte trágica de Píramo e de Thisbê, na campanha de Babilónia.

Enfim, o mirto, arbusto de folhagem sempre verde, de brancas flores perfumadas, foi, em todos os tempos, consagrado ao culto de Vénus.

 

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A mitologia pagã, diz A. Debay (Os Perfumes e as Flores), tão risonha nas suas alegorias, ensina-nos que no dia em que Vénus nasceu do seio das ondas, as Horas foram ao seu encontro e ofereceram-lhe uma coroa de rosas e de tuberosas entrelaçadas de mirto, o que significava beleza e amor.

Os templos dessa deusa erguiam-se sempre no meio de um bosque de murta e a sua estátua era adornada de mirto.

Os jovens noivos coroavam-se, outrora, de murta; ainda hoje, é isso o emblema do amor.

Diz-se que o mirto se apodera do terreno e afasta todas as plantas que lhe nascem em torno. Assim o amor, que germina e cresce num coração, absorvendo-o em prejuízo de todos os outros sentimentos.”

Fonte “Ilustração Católica”, nº 327, 9 de Junho de 1928 (texto editado e adaptado)| Imagem