As Invasões Francesas em Portugal – O que importa saber
As Invasões Francesas em Portugal constituíram um dos episódios mais marcantes da história do país no início do século XIX, inserindo-se no contexto mais amplo das Guerras Napoleónicas.
Este período, que decorreu entre 1807 e 1811, foi caracterizado pela agressão militar da França contra Portugal, culminando em três invasões sucessivas e uma série de conflitos armados que afetaram profundamente o território e a população portuguesa.
Contexto histórico
O século XVIII e o início do século XIX foram marcados pelo crescente poderio da França sob a liderança de Napoleão Bonaparte.
Em 1806, Napoleão decretou o Bloqueio Continental, uma medida económica destinada a enfraquecer a Grã-Bretanha, proibindo os países europeus de comerciar com os britânicos. Portugal, que possuía uma aliança secular com a Grã-Bretanha, recusou-se a aderir ao bloqueio, tornando-se um alvo da França.
Face à recusa portuguesa, Napoleão assinou, em 1807, o Tratado de Fontainebleau com a Espanha, prevendo a partilha de Portugal entre ambos os países. Este tratado serviu de pretexto para a Primeira Invasão Francesa, liderada pelo general Jean-Andoche Junot.
Primeira Invasão Francesa (1807-1808)
Em novembro de 1807, as tropas francesas atravessaram a fronteira espanhola e marcharam rapidamente sobre Portugal.
A Corte portuguesa, percebendo a iminência da invasão, decidiu refugiar-se no Brasil, com a ajuda da frota britânica. No dia 29 de novembro de 1807, a Família Real embarcou rumo ao Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1821.
Com a ocupação de Lisboa, Junot assumiu o governo e tentou consolidar o domínio francês. Contudo, a população portuguesa não aceitou passivamente a presença estrangeira, e várias revoltas populares eclodiram.
Em 1808, a Espanha, até então aliada da França, entrou em guerra contra Napoleão.
Aproveitando a oportunidade, a Grã-Bretanha enviou uma força militar sob o comando de Sir Arthur Wellesley (futuro Duque de Wellington) para apoiar os portugueses. A batalha decisiva deu-se em agosto de 1808, na Batalha de Vimeiro, onde as forças luso-britânicas derrotaram os franceses.
O Tratado de Sintra, assinado em setembro de 1808, garantiu a retirada das tropas francesas de Portugal.
Segunda Invasão Francesa (1809)
Napoleão, insatisfeito com a derrota, ordenou uma nova invasão, desta vez liderada pelo marechal Soult.
Em março de 1809, as tropas francesas entraram em Portugal através do norte, ocupando rapidamente o Porto. No entanto, a resistência popular e as dificuldades logísticas enfraqueceram o avanço francês.
Wellesley regressou a Portugal e, em maio de 1809, na Batalha do Douro, conseguiu derrotar as forças de Soult, obrigando-o a uma retirada apressada.
Terceira Invasão Francesa (1810-1811)
A terceira e última invasão ocorreu em 1810 e foi liderada pelo marechal Massena.
Desta vez, Napoleão reuniu um exército numeroso e bem treinado para tentar subjugar definitivamente Portugal.
As tropas francesas avançaram pelo centro do país, derrotando os luso-britânicos na Batalha do Buçaco (setembro de 1810), embora tenham sofrido perdas significativas.
Perante o avanço inimigo, Wellesley implementou uma estratégia inovadora: a construção das Linhas de Torres Vedras, um sistema de fortificações que protegia Lisboa e impossibilitava o progresso francês.
Sem provisões e com o exército enfraquecido, Massena foi obrigado a recuar em 1811, marcando o fim das Invasões Francesas em Portugal.
Consequências das Invasões Francesas
As Invasões Francesas tiveram impactos profundos em Portugal. O país sofreu grandes destruições materiais, saques e perdas humanas significativas. A economia ficou devastada, e a instabilidade política aumentou. No entanto, a vitória sobre os franceses consolidou a aliança com a Grã-Bretanha e reforçou o papel das forças luso-britânicas no conflito europeu.
Outro impacto crucial foi a permanência da Família Real no Brasil, que culminou na elevação do território à categoria de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 1815, abrindo caminho para a independência brasileira em 1822.
Conclusão
As Invasões Francesas foram um período de grande sofrimento para Portugal, mas também de resistência e resiliência.
A coragem das tropas e da população, aliada à estratégia britânica, impediu que Napoleão concretizasse os seus objetivos na Península Ibérica.
Apesar das dificuldades, Portugal conseguiu manter a sua soberania, reforçando o seu papel no contexto europeu e inaugurando uma nova fase da sua história política e económica.
Para saber mais sobre as Invasões Francesas em Portugal
Livros:
- “Portugal e as Invasões Francesas” – Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira
- “A Guerra Peninsular 1807-1814” – Charles Esdaile
- “A Guerra Peninsular em Portugal” – Donald D. Horward
- “Wellington: The Iron Duke” – Richard Holmes
Artigos e fontes online:
- Biblioteca Nacional de Portugal (BNP)
- Arquivo Nacional Torre do Tombo
- Academia Portuguesa da História
- Documentos históricos disponíveis no Centro de História da Universidade de Lisboa
Nota
: Se considera que neste texto alguma coisa está errada, ou se quiser complementar alguma informação, agradecemos que nos informe.