Diabos à solta – Festejos de Carnaval de raiz popular
Entrudo do Pai Velho – Lindoso
O Entrudo do Pai Velho, em Lindoso, Ponte da Barca, é uma tradição ancestral que repesca as raízes do verdadeiro Carnaval Português.
Dois carros de bois passeiam pelas ruas da aldeia: um transporta o Pai Velho (a figura mítica do Carnaval), o outro é feito à base de vegetação.
O deambular pela aldeia é feito com o acompanhamento de bombos, recriando uma das festas mais genuínas do Alto Minho.
Entrudo chocalheiro – Podence
O lema é «chocalhar». Daí que seja chamado de «Entrudo chocalheiro».
O «diabo» anda à solta nas ruas de Podence, aldeia transmontana a sete quilómetros de Macedo de Cavaleiros, Bragança.
Os caretos (homens) andam nas ruas, de vestes coloridas, para assediar e chocalhar as mulheres e assustar quem passa.
A investida acontece no Largo da Capela e os caretos não poupam ninguém.
Algumas destas vestes encontram-se expostas no Museu da Máscara Ibérica em Bragança.
Caretos em Lazarim
Os caretos têm ultrapassado fronteiras e já se mostraram em vários países.
As máscaras são feitas em madeira de amieiro, esculpidas, e o Carnaval nesta aldeia, situada a 12 km de Lamego, distingue-se pela sátira (nacional e internacional).
Aqui não há samba nem corpos despidos. Quem quiser ficar para a festa, habilita-se a sair de barriga cheia. A par dos festejos é distribuída feijoada e caldos de farinha.
Entrudo dos Compadres em Lazarim – Lamego
Esta pequena povoação perdida num vale encaixado do Varosa, que ali corre lesto rumo ao Douro, é uma terra de tradições.
Foi sede de um julgado medievo, cuja barra [vara?] ainda se diz existir ainda se diz existir, agora propriedade de um habitante local. Foi também sede de um concelho, sucessivamente ganho e perdido nos séculos XVIII e XIX.
Hoje não passa de uma aldeia descaracterizada por inúmeras construções de imigrantes, mas conserva a tradição de uma das festividades cíclicas mais complexas e ricas de aspectos com profundo significado etnográfico.
Para ler: Carnaval – Festa dos Caretos em Podence
Provavelmente com origem nas Saturnais romanas, o Entrudo de Lazarim é um ritual carnavalesco que assinala a renovação primaveril da agricultura e o fim das abstinências alimentares e sexuais da Quaresma.
É uma celebração marcada pela licenciosidade permitida, quer a coberto das máscaras – sabiamente talhadas em madeira de salgueiro, uma espécie comum na região – quer pelo desempenho da função «respeitável» de compadre e comadre.
E o momento mais significativo destas festividades é precisamente a leitura dos testamentos da comadre e do compadre, figuras desempenhadas por uma jovem e um mancebo da aldeia, que se faz geralmente no Largo do Padrão (substituto do antigo pelourinho, que se perdeu).
Do alto de um pedestal, comadre e compadre distribuem, ela pelos rapazes, ele pelas raparigas, as partes de uma burra, lendo testamentos redigidos em verso.
A ladainha
A ladainha começa por apontar o defeito mais notado do ou da visada, atribuindo-lhe então a parte do animal mais conforme:
«O defeito que tu tens
Com esse mesmo é que ficas
És muito bom rapaz
Mas deves de ser maricas»
reza a comadre ao deixar o «serro» da burra ao menino Carlos.
«O defeito que tu tens
A mim não me enganas
Já andas a namorar
E ainda não tens mamas»,
é a vez do compadre invetivar a menina Manuela, antes de doar as «partes» do burro à moça mais licenciosa.
Para ler: O Carnaval / Entrudo – tempo de folia… e de tradição
Enquanto isso, na fogueira acesa no largo coze a imensa feijoada que vai deliciar os muitos visitantes que ocorrem a Lazarim na Terça-feira Gorda.
Fonte do texto sobre Entrudo dos Compadres em Lazarim – Lamego: In GUIA Expresso “O melhor de Portugal” – 12 – Festas, Feiras, Romarias, Rituais