O Dia D – Operação Overlord na Normandia
Desembarque na Normandia
Em 6 de Junho de 1944, iniciou-se a operação Overlord para libertar a França do domínio nazi.
370 000 homens, 5300 navios e 11 000 aviões participaram naquele que viria a ser o dia mais longo da Segunda Guerra Mundial – o desembarque das tropas aliadas na Normandia.
A operação Overlord foi decidida pelos “Três Grandes” – Roosevelt, Churchill e Estaline -, na Conferência de Teerão, de Novembro de 1943.
Pretendia-se aliviar a pressão alemã na frente russa e, ao mesmo tempo, iniciar a libertação da França e atacar o “coração” do III Reich.
Até à Primavera de 1943, não foi possível concentrar o contingente de tropas necessário ao êxito do desembarque.
Mas, na Primavera do ano seguinte, era possível garantir o assalto à “Muralha do Atlântico“, a libertação da França e o posterior avanço em direcção à Alemanha.
“A coragem é absolutamente irrelevante. É o homem contra o aço“. (Rommel, numa carta ao seu filho).
Naquela noite de 6 de Junho de 1944, o céu da Normandia estava escuro como breu. O major Hayn saiu do seu abrigo de betão para desentorpecer as pernas. Passara horas a fio a trabalhar nas cartas de situação que o seu comandante deveria levar para Rennes, no dia seguinte.
No quartel-general do 7.º Exército alemão de ocupação deveria realizar-se, nos próximos dias, um exercício destinado aos comandantes de corpo sob o lema “Desembarque Aéreo“.
O garboso oficial mal podia adivinhar que aquela hora a realidade ultrapassava a ficção. E tanto ele como o marechal Rommel, a velha “Raposa do Deserto“, tinham sido apanhados desprevenidos.
O velho marechal fora à Alemanha festejar o aniversário da mulher. O major regressou ao seu abrigo, para escapar ao vento frio da noite.
Operação Overlord
Àquela hora, tal como fora planeado pelo Estado-Maior aliado, coordenado pelo general Eisenhower, desencadeava-se a operação Overlord.
As forças aliadas, integrando militares ingleses, americanos e canadianos, preparavam-se para conquistar posições firmes no continente europeu.
Apesar dos adiamentos dos últimos dias, motivados pelas condições meteorológicas adversas, as forças navais e aéreas aliadas, a maior força anfíbia da História, tinham-se posto em marcha para cumprir os objectivos previamente estabelecidos.
A decisão fora tomada em Bushey Park, às quatro e um quarto da madrugada do dia 5 de Junho, quando Eisenhower dissera: “OK, we’ll go“.
O desembarque deveria fazer-se em cinco praias da Normandia, entre Quineville e Cabourg, baptizadas de Sword, Juno, Gold, Omaha e Utah.
Nessa região da costa francesa, os ocupantes alemães tinham colocado grandes quantidades de minas de água submersas, obstáculos de cimento, minas nas praias e construído abrigos de betão, onde se alojavam grandes quantidades de canhões e baterias antiaéreas e antinavais.
Este impressionante dispositivo de defesa – a “Muralha do Atlântico“, a que se juntavam divisões de baterias motorizadas e blindadas e forças de infantaria, deveria fazer frente a uma hipotética invasão aliada.
Os Aliados iam ao encontro desta fortaleza e, para enfrenta la, tinham de agir de surpresa e com rapidez.
Passavam quarenta minutos da meia-noite do dia 6 de junho, quando planadores britânicos aterraram junto ao Canal de Caen e desembarcaram tropas especiais que tornaram a ponte Pegasus.
Por volta da uma e um quarto, tropas aerotransportadas começaram a ser largadas na retaguarda das praias escolhidas para o desembarque.
Era uma manobra de diversão, para atrair a atenção das forças alemãs para o interior, desviando o fogo alemão para terra.
Inúmeras dificuldades
As nuvens baixas dificultavam a visibilidade e os ventos laterais dispersavam os paraquedistas que acabaram por cair sobre um pântano, onde morreram afogados.
Um incêndio, que entretanto deflagrara na aldeia de Sainte-Mere Église, foi tomado como ponto de aterragem e uma companhia de paraquedistas americanos acabou massacrada pela guarnição alemã, acordada por causa do fogo.
Apenas sobreviveu John Steele, o norte-americano que ficara preso pelo seu paraquedas à torre da igreja, durante quatro horas, e fora dado como morto.
Era preciso aproveitar as marés para iniciar o desembarque.
Às cinco horas e meia, a frota aliada abre fogo sobre as defesas costeiras alemãs. Uma hora mais tarde, a maré começa a subir.
Nas praias de Omaha e Utah inicia-se o desembarque.
Os soldados norte-americanos chegam à praia no meio de bombas, do barulho dos canhões, do rebentamento das minas e da metralha, do grito dos feridos. Uma confusão indescritível!
O coronel George Taylor incita os seus soldados: – Nesta praia só há dois tipos de homens. Os mortos e os que vão morrer. Toca a andar!
Preparava-se uma longa batalha.
Os Alemães tinham-se recomposto da surpresa e quando os soldados americanos chegaram à praia depararam com um intensíssimo fogo cruzado das intactas baterias alemãs.
Uma divisão de infantaria germânica, em manobras naquela zona, e a habilidade táctica dos seus comandantes, transformaram o assalto num verdadeiro pesadelo para os Americanos.
Erros de avaliação
As sete horas, tropas especiais americanas – rangers – tomam as falésias de Pointe du Hoc, com pesadas baixas, na convicção de que aí se encontravam peças de artilharia costeira inimiga, que seria necessário neutralizar. Tinham sido enganados pelos Alemães.
Devido à diferença das marés, às sete horas e trinta minutos inicia-se o desembarque das divisões inglesas e canadianas nas praias de Gold, Juno e Sword.
Naquela zona, as defesas alemãs eram mais débeis, mas os recifes e as marés dificultavam o assalto.
Surgiram dificuldades na descarga, que foram superadas pela utilização de carros de combate anfíbios, idealizados pelo general Hobart.
Por volta das nove e meia, os britânicos dominavam a praia de Sword e tomavam a aldeia de Hermanville, situada a um quilómetro da praia.
Apesar desta aparente facilidade, terão caído nestas praias mais de mil homens, no dia 6 de Junho.
Na praia de Gold seria construído, nos dias posteriores ao assalto, o maior porto artificial da Segunda Guerra Mundial, por onde desembarcaram, nos três meses seguintes, mais de dois milhões e meio de homens, meio milhão de veículos militares e quatro milhões de toneladas de material.
À mesma hora, uma divisão americana aerotransportada ocupa duas das saídas da praia de Utah.
Em apenas três horas, a 4ª Divisão de Infantaria dos Estados Unidos tomava a praia, sem vítimas. Estabelece contacto imediato com os paraquedistas e juntos deslocam-se para Oeste, para cercar a península de Contentin.
Às oito horas chegam reforços junto à praia de Omaha. Destroyers americanos aproximam-se para cobrir o avanço da infantaria. Mas só por volta da uma e meia da tarde, os Americanos conseguiram romper as defesas de Omaha.
O contra-ataque alemão
Entretanto, por volta das dez horas e trinta minutos, a 21ª Divisão Panzer tinha tomado posição para contra-atacar.
O marechal Von Rundstedt, comandante do Exército Alemão em França, que recebera a notícia do desembarque por volta das quatro horas da manhã, telefonara a Hitler para solicitar o avanço das reservas Panzer.
O “Führer” estava a dormir e o general Jodl não se atreveu a acordá-lo. Por isso, negou a autorização.
Uma hora mais tarde, Rommel estava a par da situação e dispunha-se a regressar imediatamente a França.
Por sua vez, Hitler é informado, logo que se levanta, do desembarque aliado na Normandia.
Mas fica convencido de que se tratava apenas de uma manobra de diversão dos Aliados, não sendo, ainda, o verdadeiro desembarque.
Para ele, o autêntico assalto deveria ocorrer mais a norte, em Calais.
Enquanto Von Rundstedt e Rommel multiplicavam os seus pedidos de reforços, em Berlim apenas se pensava em reforçar a defesa de Calais.
Por isso, até às duas e meia da tarde do dia 6 de Junho, não receberam qualquer autorização para utilizar as reservas de Panzer.
Finalmente, quando os carros de combate alemães avançaram, foram esmagados pela aviação táctica aliada.
O preço do desembarque
Ao fim da tarde do Dia D, a praia de Omaha fora tomada. O desembarque terminara com um alto preço: os Americanos sofreram aí mais de 3500 baixas.
As dezoito horas, a 185ª Brigada Britânica avançava para a cidade de Caen, um dos objectivos fixados para o Dia D que só viria a cair no dia 31 de Julho.
Mas durante a tarde, muitos soldados aliados foram chegando as aldeias francesas. Extenuados, sujos, feridos, cheios de sangue, alguns chorando, pareciam fantasmas.
Finalmente, por volta da meia-noite do dia 7 de Junho de 1944, a infantaria americana conseguiu estabelecer contacto com as tropas aerotransportadas.
Mais de 150 000 soldados aliados acabaram por passar a primeira noite em França.
O Dia D acabara num êxito retumbante.
Falhara o desejo de Rommel de lançar ao mar os invasores, antes de passarem as primeiras vinte e quatro horas de com bate.
Se a invasão tivesse fracassado, o que teria acontecido? Qual teria sido o rumo da História?
A “Muralha do Atlântico” acabara de cair.
Os soldados aliados nesta frente sabiam que, apesar do medo e do sofrimento por que passaram, tinham participado na maior batalha pela democracia que acontecera até então.
Fonte: “Um século em histórias” (texto editado) | Imagem