A hipocrisia “chegou, viu e venceu”! – Reflexão
Hipócritas? Claro que sim!
A hipocrisia “chegou, viu e venceu”!
Instalou-se nos nossos hábitos quotidianos e, mais preocupante, tomou posse dos nossos corações.
Criou raízes e, qual erva daninha, começou a expandir-se e a não deixar sobreviver as outras “espécies de comportamentos e atitudes” eticamente corretas.
A PALAVRA raras vezes é honrada com o TESTEMUNHO adequado.
A insinuação e a mentira são rainhas e estendem o seu reinado hediondo até onde a nossa vista alcança, enquanto que a VERDADE é arrancada a ferros do mais íntimo de nós mesmos e relegada para último plano.
“O mundo está podre” – gritam uns. “É preciso fazer alguma coisa” – propõem outros. No entanto, tudo continua na mesma.
Que futuro estamos a construir?
Testemunhos de vida…
Que exemplos e testemunhos de vida estamos a dar as gerações mais novas: os homens e mulheres do amanhã?!
Em casa, durante uma refeição, o Pai (também pode ser a Mãe), perante os filhos (ainda crianças), mudos e atentos, faz o discurso da sua “verdade”: “Não se deve mentir, que é muito feio… Todos as pessoas são iguais, sejam quais forem as suas raças…Blá, blá, blá.”
Logo de seguida, toca o telefone. Antes de o filho mais velho ir atender, o Pai recomenda: “Se for para mim, diz que eu não estou em casa.”
Lá foi o “discurso” todo por água baixo!
Mas o Pai não se dá conta disso. Na sua vida do dia-a-dia este é o comportamento normal das pessoas.
Para os filhos, a PALAVRA desapareceu, e o que ficou foi o TESTEMUNHO do comportamento hipócrita: ”… diz que eu não estou em casa”.
Hoje vivemos um tempo em que não há concordância entre o que afirmamos e o que praticamos:
“Os ciganos nunca me fizeram mal nenhum… mas não quero que eles venham morar para o «meu» bairro“.
“Eu não sou racista… mas não gosto de pretos! E muito menos quero estar com cabo-verdianos.”
Do mesmo modo, há quem não tenha qualquer problema em afirmar que os toxicodependentes têm todo o direito de ser tratados e apoiados… mas tratados “o mais longe possível da minha residência ou do meu local de trabalho”.
De preferência em quintas rodeadas por arame farpado, numa ilha deserta – direi eu com alguma ironia.
Mas é esta a dura realidade!
Urgente mudar…
Há PESSOAS e FAMÍLIAS a sofrerem, a necessitarem de ajuda urgente; há toda uma sociedade que, aos poucos, se vai autodestruindo.
Mas também há algumas pessoas que querem que os toxicodependentes se tratem, recuperem e sejam de novo membros úteis à sociedade, mas, egoisticamente, longe de si e dos seus.
Aqui a SOLIDARIEDADE torna-se uma palavra vã porque TESTEMUNHO não existe.
Palavras… leva-as o vento…?!
José Pinto
Nota: texto escrito e publicado no jornal “Lamego Hoje”, em 1997 | Imagem

