Prémio Nobel da Paz: símbolo global de esperança e compromisso

O Prémio Nobel da Paz é uma das distinções mais prestigiadas do mundo, reconhecendo indivíduos e organizações que promovem a paz e a cooperação global.

Criado em 1895 por Alfred Nobel, o inventor sueco da dinamite, o prémio reflete o desejo de Nobel de deixar um legado positivo para a humanidade, após ter testemunhado o uso destrutivo da sua invenção em conflitos bélicos.

Desde o seu início, o Prémio Nobel da Paz tem sido atribuído a figuras e entidades que lutam pela resolução pacífica de conflitos, pelos direitos humanos, pelo desarmamento e pela justiça social.

Processo de nomeação e escolha dos galardoados

A escolha dos galardoados é feita pelo Comité Nobel Norueguês, composto por cinco membros nomeados pelo Parlamento da Noruega.

Ao contrário de outros Prémios Nobel, como o da Física ou da Literatura, que são escolhidos por comités suecos, a decisão do Prémio Nobel da Paz foi confiada à Noruega por razões que permanecem um mistério.

Uma das possíveis explicações é que a Noruega, na época da criação do prémio, tinha uma forte tradição pacifista e neutralidade em conflitos internacionais.

O processo de nomeação e seleção dos vencedores é rigorosamente sigiloso e envolve a análise de centenas de candidatos indicados por indivíduos e organizações habilitados para tal.

Este processo meticuloso tem como objetivo garantir que o prémio seja atribuído àqueles que, de facto, contribuíram significativamente para a promoção da paz.

Uma vez escolhido o vencedor, o prémio é entregue numa cerimónia em Oslo, no dia 10 de dezembro de cada ano, data que coincide com o aniversário da morte de Alfred Nobel.

O Prémio Nobel da Paz ao longo dos anos

Ao longo dos anos, o Prémio Nobel da Paz foi atribuído a uma diversidade de figuras e organizações, muitas vezes refletindo os principais desafios globais de cada época.

Por exemplo, nas primeiras décadas, o prémio foi frequentemente entregue a diplomatas e líderes políticos que promoveram a arbitragem internacional e a criação de instituições que prevenissem guerras.

No entanto, após a Segunda Guerra Mundial, o foco do prémio expandiu-se para incluir movimentos pelos direitos humanos, como foi o caso do ativista americano Martin Luther King Jr. em 1964, e organizações internacionais que trabalhavam pelo alívio da pobreza e pelo desarmamento nuclear.

Controvérsias criadas

Outro aspeto importante do Prémio Nobel da Paz é a sua capacidade de gerar controvérsia. Em várias ocasiões, as escolhas do comité geraram debates acalorados.

Um exemplo notável é o caso de Henry Kissinger, que recebeu o prémio em 1973, juntamente com Lê Đức Thọ, pelo seu papel na negociação de um cessar-fogo na Guerra do Vietname. A atribuição a Kissinger foi vista como controversa, dada a sua associação com algumas das políticas de guerra dos Estados Unidos.

Outros exemplos incluem Barack Obama, que recebeu o prémio em 2009 apenas nove meses após assumir o cargo de Presidente dos EUA, e Aung San Suu Kyi, cujo prémio de 1991 foi posteriormente questionado devido à sua alegada cumplicidade na crise dos Rohingya em Myanmar.

Apesar das controvérsias, o Prémio Nobel da Paz continua a ser um símbolo de esperança e compromisso para um mundo mais justo e pacífico.

Não só celebra as conquistas de indivíduos e organizações, como também serve para chamar a atenção para causas urgentes que necessitam de apoio global.

Muitas vezes, o reconhecimento de um premiado contribui para aumentar a visibilidade e o financiamento das suas causas, proporcionando-lhes uma plataforma global.

Desafios enfrentados

Um dos desafios enfrentados pelo Prémio Nobel da Paz é a complexidade dos conflitos contemporâneos.

Com a globalização, o terrorismo, as crises humanitárias e as mudanças climáticas a impactarem profundamente a segurança mundial, a definição de “paz” tornou-se mais ampla e interligada a uma variedade de questões sociais, económicas e ambientais.

Por exemplo, em 2004, o prémio foi atribuído a Wangari Maathai, uma ativista ambiental queniana, pelo seu trabalho na promoção do desenvolvimento sustentável, democracia e paz.

Este foi um reconhecimento de que a destruição ambiental pode ser tanto uma causa como um efeito dos conflitos, e que a proteção do meio ambiente é essencial para a paz a longo prazo.

Figuras históricas e organizações são premiadas

A lista de vencedores do Prémio Nobel da Paz ao longo dos anos é uma impressionante galeria de figuras históricas e organizações que dedicaram as suas vidas à melhoria da humanidade.

Inclui personalidades icónicas como Nelson Mandela, que recebeu o prémio em 1993 juntamente com F.W. de Klerk pela sua luta contra o apartheid na África do Sul, e Malala Yousafzai, a jovem paquistanesa que, em 2014, foi distinguida pelo seu trabalho em prol do direito à educação para as raparigas, tornando-se a mais jovem laureada da história.

Em 2023, o Prémio Nobel da Paz foi concedido a Narges Mohammadi, uma ativista iraniana que tem lutado pelos direitos humanos e pelos direitos das mulheres no Irão, uma escolha que reflete as lutas contemporâneas pelas liberdades civis e pelos direitos fundamentais em contextos repressivos.

No futuro, o Prémio Nobel da Paz continuará a desempenhar um papel fundamental na promoção de soluções pacíficas para os conflitos mundiais, no incentivo ao diálogo e na defesa dos direitos humanos universais.

O legado de Alfred Nobel continua vivo através deste prémio, que, mais de um século depois da sua criação, permanece uma das mais poderosas expressões de reconhecimento internacional pelo esforço em prol da paz e da justiça.

Lista dos galardoados com o Prémio Nobel da Paz (1901-2024)

Século XXI

2024 – Nihon Hidankyo (Japão)

2023 – Narges Mohammadi (Irão)

2022 – Ales Bialiatski (Bielorrússia), Memorial (Rússia), Centro para as Liberdades Civis (Ucrânia)

2021 – Maria Ressa (Filipinas), Dmitry Muratov (Rússia)

2020 – Programa Alimentar Mundial (PAM)

2019 — Abiy Ahmed Ali (Etiópia)

2018 — Denis Mukwege (República Democrática do Congo) e Nadia Murad (Iraque)

2017 – Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN)

2016 – Juan Manuel Santos (Colômbia)

2015 — Quarteto para o Diálogo Nacional na Tunísia

2014 — Malala Yousafzai (Paquistão) e Kailash Satyarthi (Índia)

2013 — Organização para a Interdição das Armas Químicas (OIAC)

2012 — União Europeia

2011 — Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee (Libéria) e Tawakkol Karman (Iémen)

2010 — Liu Xiaobo (China)

2009 — Barack Obama (Estados Unidos)

2008 — Martti Ahtisaari (Finlândia)

2007 — Al Gore (Estados Unidos) e o painel das Nações Unidos sobre o clima (Grupo Intergovernamental de Especialistas em Evolução do Clima, GIEC)

2006 — Muhammad Yunus (Bangladesh)

2005 — Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) e o seu diretor Mohamed ElBaradei (Egito)

2004 — Wangari Muta Maathai (Nigéria)

2003 — Shirin Ebadi (Irão)

2002 — Jimmy Carter (Estados Unidos)

2001 — Organização das Nações Unidos (ONU) e o seu secretário-geral Kofi Annan (Gana)

2000 — Kim Dae-Jung (Coreia do Sul)

Século XX

1999 — Médicos Sem Fronteiras (organização não-governamental fundada em França)

1998 — John Humes e David Trimble (Reino Unido)

1997 — Campanha Internacional para a Interdição das Minas Antipessoais e a sua coordenadora Jody Williams (Estados Unidos)

1996 — Carlos Ximenes Belo e José Ramos-Horta (Timor-Leste)

1995 — Movimento antinuclear Pugwash (fundado no Canadá) e Joseph Rotblat (Reino Unido)

1994 — Yitzhak Rabin, Shimon Peres (Israel) e Yasser Arafat (OLP)

1993 — Nelson Mandela e Frederik de Klerk (África do Sul)

1992 — Rigoberta Menchu (Guatemala)

1991 — Aung San Suu Kyi (Birmânia)

1990 — Mikhail Gorbatchev (URSS)

1989 — Dalai Lama (Tibete)

1988 — Forças de Manutenção da Paz das Nações Unidas

1987 — Oscar Arias Sanchez (Costa Rica)

1986 — Elie Wiesel (Estados Unidos)

1985 — Médicos Internacionais para a Prevenção da Guerra Nuclear (fundada nos Estados Unidos)

1984 — Desmond Tutu (África do Sul)

1983 — Lech Walesa (Polónia)

1982 — Alva Myrdal (Suécia) e Alfonso Garcia Robles (México)

1981 — Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR)

1980 — Adolfo Perez Esquivel (Argentina)

1979 — Madre Teresa (Albânia/Índia)

1978 — Anwar al-Sadat (Egito) e Menahem Begin (Israel)

1977 — Amnistia Internacional (fundada no Reino Unido)

1976 — Betty Williams e Mairead Corrigan (Reino Unido)

1975 — Andrei Sakharov (URSS)

1974 — Sean MacBride (Irlanda) e Eisaku Sato (Japão)

1973 — Henry Kissinger (Estados Unidos) e Le Duc Tho (Vietname, que recusou)

1972 — não atribuído

1971 — Willy Brandt (Alemanha Ocidental)

1970 — Norman Borlaug (Estados Unidos)

1969 — Organização Internacional do Trabalho (OIT)

1968 — René Cassin (França)

1967 — não atribuído

1966 — não atribuído

1965 — Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF)

1964 — Martin Luther King Junior (Estados Unidos)

1963 — Comité Internacional da Cruz Vermelha e Liga das Sociedades da Cruz Vermelha

1962 — Linus Carl Pauling (Estados Unidos)

1961 — Dag Hammarskjöld (Suécia)

1960 — Albert Lutuli (África do Sul)

1959 — Philip Noel-Baker (Reino Unido)

1958 — Georges Pire (Bélgica)

1957 — Lester Pearson (Canadá)

1956 — não atribuído

1955 — não atribuído

1954 — Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados

1953 — George Marshall (Estados Unidos)

1952 — Albert Schweitzer (França)

1951 — Léon Jouhaux (França)

1950 — Ralph Bunche (Estados Unidos)

1949 — John Boyd Orr of Brechin (Reino Unido)

1948 — não atribuído

1947 — Conselho do Serviço dos Amigos (The Quakers, fundado no Reino Unido), Comité do Serviço dos Amigos Americano (The Quakers, fundado nos Estados Unidos)

1946 — Emily Greene Balch e John Raleigh Mott (Estados Unidos)

1945 — Cordell Hull (Estados Unidos)

1944 — Comité Internacional da Cruz Vermelha

1943 — não atribuído

1942 — não atribuído

1941 — não atribuído

1940 — não atribuído

1939 — não atribuído

1938 — Comité Internacional Nansen para os Refugiados

1937 — Cecil of Chelwood (Reino Unido)

1936 — Carlos Saavedra Lamas (Argentina)

1935 — Carl Von Ossietzky (Alemanha)

1934 — Arthur Henderson (Reino Unido)

1933 — Norman Angell (Reino Unido)

1932 — não atribuído

1931 — Jane Addams e Nicholas Murray Butler (Estados Unidos)

1930 — Nathan Söderblom (Suécia)

1929 — Frank Billings Kellogg (Estados Unidos)

1928 — não atribuído

1927 — Ferdinand Buisson (França) e Ludwig Quidde (Alemanha)

1926 — Aristide Briand (França) e Gustav Stresemann (Alemanha)

1925 — Sir Austen Chamberlain (Reino Unido) e Charles Gates Dawes (Estados Unidos)

1924 — não atribuído

1923 — não atribuído

1922 — Fridtjor Nansen (Noruega)

1921 – Karl Hjalmar Branting (Suécia) e Christian Louis Lange (Noruega)

1920 – Léon Bourgeois (França)

1919 – Thomas Woodrow Wilson (Estados Unidos)

1918 — não atribuído

1917 — Comité Internacional da Cruz Vermelha

1916 — não atribuído

1915 — não atribuído

1914 — não atribuído

1913 – Henri La Fontaine (Bélgica)

1912 – Elihu Root (Estados Unidos)

1911 – Tobias Michael Carel Asser (Holanda) e Alfred Hermann Fried (Áustria)

1910 — Gabinete Internacional Permanente da Paz

1909 – Auguste Beernaert (Bélgica) e Paul Henri Balluet d`Estournelles de Constant (França)

1908 – Klas Pontus Arnoldson (Suécia) e Fredrik Bajer (Dinamarca)

1907 – Ernesto Teodoro Moneta (Itália) e Louis Renault (França)

1906 – Theodore Roosevelt (Estados Unidos)

1905 – Baronesa Bertha Sophie Felicita von Suttner (Áustria)

1904 — Instituto de Direito Internacional

1903 – William Randal Cremer (Reino Unido)

1902 – Élie Ducommun e Charles-Albert Gobat (Suíça)

1901 – Jean Henri Dunant (Suíça) e Frédéric Passy (França)

Nota: Se considera que neste texto alguma coisa está errada, ou se quiser complementar alguma informação, agradecemos que nos informe.