Alfred Nobel foi o inventor da dinamite
Alfred Nobel acreditava que a dinamite era um método seguro para instaurar a paz entre as nações
Em 3 de Setembro de 1864 a cidade sueca de Heleneborg foi abalada por uma terrível explosão.
Emílio Nobel, o benjamim da família, trabalhava num laboratório na companhia de alguns assistentes. Ele e os seus amigos ficaram desfeitos, sob os escombros…
Apesar da sua dor, Alfred Nobel limitou-se a dizer:
– O infeliz aqueceu a nitroglicerina para além da temperatura que eu lhe indicara!
Alfred Nobel tomara conhecimento da nitroglicerina em 1835. Mas, por essa altura, ela era um produto instável que apenas poderia ter interesse se alguém encontrasse um meio de a controlar.
Alfred sentia-se fascinado pelos problemas que a nitroglicerina suscitava e pelas possibilidades de exploração industrial desse explosivo líquido.
Ora o fim súbito da guerra da Crimeia levara Emmanuel Nobel (grande industrial de explosivos) a uma situação que se aproximava da falência. As investigações de Alfred inserem-se pois nessa conjuntura. Com elas, Alfred Nobel pretendia reconstituir a fortuna da família.
Por outro lado, foram as experiências para dominar a demoníaca nitroglicerina que o salvaram de uma perigosa crise de neurastenia…
Fundação de fábricas na Europa e no EUA
A tragédia de Heleneborg não o impediu de continuar os seus estudos e em breve o grande industrial: fundou uma fábrica na Suécia e outra na Alemanha.
Depois de 1866 partiu para Nova Iorque a fim de organizar a sua indústria na América.
Mas a 1 de Abril de 1866 o «Demónio» vencido levantou a cabeça: uma grande explosão em São Francisco pulverizava um armazém e matava 15 operários.
Seis dias depois ia pelos ares um navio e com ele perdiam-se 50 vidas.
Então uma vaga de terror e de cólera agitou a América. E, sob a pressão dos jornais, foi submetido à aprovação do Congresso um projecto de lei que previa a pena de morte para todos aqueles que transportassem o terrível explosivo.
Lei no Congresso Norte Americano sobre a nitroglicerina
Nobel bateu-se para que tal lei não fosse aprovada. De resto, ele estava convencido de que o pânico desencadeado pelas recentes explosões era injustificado.
A 25 de Abril de 1866 Nobel foi ouvido pela Comissão encarregada pelo Congresso para recolher informações sabre a nitroglicerina.
Acariciando a sua barba, Nobel observava os funcionários, quase todos incompetentes, que o interrogavam. Sentia-se nervoso mas afetava indiferença.
– A fórmula do produto é, ao que julgo, C6 H5 03 (N05)3.
Os membros da Comissão olhavam sem simpatia aquele homem de voz calma. Mas ele prosseguia:
– Uma explosão espontânea de nitroglicerina é inconcebível, a menos que o produto seja submetido a altas temperaturas.
– E os recentes desastres? – perguntaram-lhe.
– Defeitos de embalagem, com toda a certeza. Deve ter-se produzido uma faísca e o calor desenvolvido provocou a explosão.
Nobel conseguiu convencer aqueles homens e a lei aprovada estabelecia a pena de morte somente para quem não obedecesse às regras de segurança impostas pelo próprio Nobel.
Este êxito, quase inesperado, confirmava os pontos de vista de Alfred Nobel.
Vitória efémera, no entanto!
Dias depois a fábrica de Kummel (perto de Hamburgo) ia pelos ares. Nos meses seguintes registaram-se novas explosões na Noruega e na Austrália.
A partir de então já não era possível ter ilusões. A confiança de Nobel na nitroglicerina, quando manipulada com todos os cuidados, era excessiva. Afinal havia qualquer coisa de imprevisível nas reações daquele composto.
Os acidentes sucediam-se, pressagiando a derrocada da indústria de Nobel.
Numerosas companhias de navegação, começaram a recusar o transporte de tal mercadoria e vários países europeus proibiram o seu uso.
Nobel tinha então trinta e três anos e uma maldição parecia pesar-lhe sobre os ombros.
Desistiria ele? Deixar-se-ia arruinar, entregar-se-ia ao desespero por ver tantas mortes?
O acaso ou a obstinação deram-lhe a tempo a solução do problema.
Finalmente convencido de que a nitroglicerina era de facto instável Nobel resolveu introduzir-lhe algumas substâncias absorventes.
De princípio as investigações não o levaram a bom porto, mas o acaso (e a obstinação) ajudaram-no.
A descoberta da dinamite
De certa vez ele notou que um pedaço de areia se misturava com a nitroglicerina provocando uma mistura sólida e porosa. Nobel levou uma boa porção dessa mistura para o seu laboratório e procedeu a novas investigações.
A sua intuição não o enganara: a mistura fazia-se nas condições ideais!
Combinando as duas substâncias na proporção de dois para um ele obteve um produto sólido de um poder explosivo inferior ao da nitroglicerina mas duma estabilidade quase perfeita e muito fácil de manejar e de transportar.
Estava criado a dinamite.
Em 1867, as suas fábricas produziram onze toneladas de dinamite. Sete anos depois produziam três mil. E entretanto ele fundava 12 companhias em 1O países da Europa e criava nos E.U.A. uma grande cadeia de fábricas.
A sua vida de industrial, porém, não foi completamente feliz. Nobel estava constantemente envolvido em processos motivados pela desonestidade dos seus administradores. E em França, de início, a situação complicou-se muito.
Por lei, os explosivos eram monopólio do Estado, pelo que Nobel não foi autorizado a montar as suas fábricas.
A dinamite na guerra de 1870
A guerra de 1870, em que os alemães utilizaram amplamente a dinamite, convenceu os franceses da necessidade de modificar a legislação em tais matérias e Gambeta pediu a ajuda do industrial sueco.
Assim, em 1873, Nobel fixou-se em França e Paris tornou-se o seu quartel-general.
Para gerir os seus interesses ele descobriu mesmo um homem de confiança, o metalurgista francês Paul Barbe.
Quis o destino que Barbe se metesse na política. Foi eleito deputado em 1895 e entretanto viu-se implicado no famoso escândalo do Canal do Panamá.
Violentamente atacado pelo Imprensa, Barbe morreu, oportunamente, escapando assim à cadeia.
Mas Nobel sofreu indiretamente as imprudências do amigo.
Para mais ele inventara uma pólvora sem fumo que vendera ao exército italiano. Isto valeu-lhe a acusação de espionagem!
A verdade é que tinha procurado interessar o exército francês nesse invento, muito antes de o vender ao italiano…!
Os desabafos
Entretanto os seus negócios em França, mal geridos por um diretor sem escrúpulos estavam à beira da ruína. Consegue evitar a catástrofe e escreve a um sócio:
«Referes-te aos meus numerosos amigos. Mas onde estão eles? Afundaram-se no mar das ilusões perdidas ou no desejo de ganhar dinheiro. Garanto-te que só entre os cães possuo amigos.»
A um dos seus parentes que, em 1870, lhe pedia uma autobiografia ele respondeu:
«Alfred Nobel, miserável aborto, devia ter sido esganado ao nascer, por um médico filantropo. Defeitos principais: não tem família, possui um carácter terrível e uma péssima digestão. Qualidades principais: não tem as mãos sujas, não é um fardo para ninguém. Um só e único desejo: não ser enterrado vivo. Principal pecado; não adora Manon. Acontecimentos importantes da sua vida: nenhum.»
Daqui para ali, Nobel passeava a sua solidão através do mundo. Metido consigo, ele passava por um cínico totalmente desprovido de coração.
Muitos repetiam como um modelo de desprezo pelos homens a frase que ele pronunciara um dia: «Não é possível introduzir no mercado um novo explosivo sem correr o risco de provocar uma centena de vítimas.»
Quem tem casa quer casar
Afinal, esse homem tinha um coração terno e sensível.
Aos dezanove anos já escrevera um poema autobiográfico. E, não obstante o seu ar de celibatário empedernido, Nobel apaixonara-se perdidamente por uma parisiense aos 18 anos.
Ah! Esse idílio fora breve e terminara tragicamente com a morte da mulher amada. Escrevera então um poema onde dizia: «A minha vida tinha um único objetivo: ganhar-te para sempre. Mas o destino escolheu-te outro esposo: O túmulo!».
Nunca se soube o nome dessa rapariga.
Mas Nobel nunca se casou, embora, por duas vezes, isso tenha estado para suceder.
Em 1875, com 41 anos de idade, esse vagabundo perpétuo sentiu o desejo de criar raízes em qualquer parte, de ter uma casa, de fugir aos hotéis. Comprou um belo palacete perto da Place de L’Etoile, em Paris.
Mas quem tem casa quer casar. Por isso escreveu a um amigo: «Os meus olhos estão em tão mau estado que já nem servem para olhar as mulheres bonitas conforme aconselha a Bíblia. E a propósito: tens a morada daquela deliciosa governanta que eu vi recentemente em Viena? Era absolutamente de primeira ordem!».
Anúncio num jornal
Como o amigo não lhe respondeu satisfatoriamente, Nobel mandou publicar no Neue Freie Presse de Viena um anúncio assim redigido:
«Cavalheiro idoso, muito rico e culto, vivendo em Paris, deseja conhecer senhora de idade conhecedora de línguas, que aceite ser sua secretária e que esteja disposta a dirigir-lhe a casa.»
Bertha Kinsky von Chinic und Tettan, condessa austríaca arruinada, trabalhava como governanta em Viena na casa do barão Von Sutter.
Mas sucedera-lhe um percalço: apaixonara-se pelo filho mais velho do barão que tinha menos sete anos do que ela. Os pais opuseram-se e a condessa submetera-se nobremente.
Estando desempregada, lera o anúncio de Nobel e respondera-lhe.
Alfred Nobel vive então os dias mais felizes da sua existência. Ele sentia-se à vontade com essa mulher inteligente, bondosa, distinta, dotada de uma forte personalidade.
Em breve fazia-lhe confidências, falava-lhe da rapariguinha que amara aos 18 anos, mostrou-lhe os poemas que escrevera durante a adolescência.
– São muito belos! – dizia ela sinceramente.
Mas havia um assunto que particularmente interessava à jovem condessa: A Guerra e a Paz.
Nobel também refletira nisso muitas vezes.
– Consideram-me um cínico porque tenho ganho muito dinheiro – confessava – na verdade eu sou um idealista, mas um idealista inteligente. Creia-me: o único meio de acabar com a guerra é criar explosivos tão poderosos que os homens passem a ter medo…
A mobilização da opinião pública contra a guerra
Ela mostrava-se escandalizada. Achava preferível mobilizar a opinião pública contra a guerra.
Nobel sorria do que considerava uma opinião ingénua, mas sentia um grande prazer naquelas conversas.
Certa tarde ele perguntou-lhe:
– O seu coração está livre?
Ela tinha por ele uma amizade demasiado forte para que aceitasse enganá-lo:
– Não.
E contou-lhe o seu amor contrariado pelo jovem barão Von Suttner.
Foi a única alusão que ele fez a um possível casamento. Três dias depois Nobel partia para a Suécia e, na sua ausência, Bertha recebeu telegrama do jovem barão: «Não posso viver sem ti.»
A condessa apanhou o primeiro comboio para Viena e casou-se com Arthur Von Suttner.
Esses dias de felicidade transformaram completamente a vida de Alfred Nobel.
No plano das ideias, a perspetiva de contribuir para a Paz do mundo pareceu-lhe mais importante do que a fabricação e a distribuição de explosivos.
Na esperança inconfessada de reencontrar Bertha e o seu jovem marido, Nobel dirigiu-se a Viena mas eles não estavam lá. Seguiu para Baden, estância termal nos arredores de Viena.
Coração de novo ocupado
De certa vez, entrou numa loja de flores. A florista era jovem, graciosa, faladora.
– Como se chama? – perguntou ele.
Chamava-se Sofia Hesse, tinha 20 anos e substituiu rapidamente no coração de Alfred o lugar ocupado pela condessa. Levou-a para Paris e pretendeu ser um novo Pigmalião: transformá-la.
Mas Sofia passava o seu tempo nas casas de modas e nas pastelarias. Pouco se importava com os professores que Nobel lhe arranjara.
Anos depois, Nobel mandava-a de novo para Viena, com uma pensão generosa.
Em 1887 voltou a ver Bertha pela primeira vez depois que dela se separara. Esta ganhara entretanto uma certa fama com a publicação de um romance psicológico: Inventário de uma Alma.
Falaram da Paz como nos velhos tempos.
Bertha tinha a ideia de fundar uma Sociedade dos Amigos da Paz. Ele deixou-se convencer.
Resolveram então fazer um apelo aos governantes de todos os países para que eles se comprometessem durante um ano a evitar qualquer ato de hostilidade.
Em 1891, um romance pacifista de Bertha Von Suttner – Abaixo a Guerra! – obtinha um grande êxito e a Sociedade dos Amigos da Paz realizava o seu primeiro congresso em Viena. Alfred Nobel assistiu incógnito.
Prémio Nobel da Paz e outros…
Em 1893, decidiu consagrar uma parte da sua fortuna a um prémio anual para o homem ou a mulher que melhor tivesse contribuído para o progresso da ideia de Paz.
No seu espírito esse prémio devia ser atribuído primeiramente à baronesa Bertha, o que não veio a suceder, de resto.
A 22 de Novembro de 1896 ele retirou-se para San Remo. E na manhã de 10 de Dezembro o seu criado encontrou-o morto no leito, vitimado por um ataque cardíaco.
«…O juro do capital investido será dividido em cinco partes iguais que serão distribuídas da forma seguinte:
– uma parte por quem tiver descoberto a invenção mais importante ou contribuído mais decisivamente para o progresso da química;
– outra por quem tiver feito a descoberta mais importante no domínio da fisiologia ou da medicina;
– outra por quem tiver produzido, no domínio literário, a obra de tendência idealista mais significativa ;
– e finalmente outra por quem melhor tiver contribuído para a fraternidade entre as nações, a abolição ou a redução dos exércitos permanentes, a reunião e organização de congressos para a paz...».
“Almanaque” – Agosto de 1960 (texto editado e adaptado)