A real história de D’Artagnan e dos Três Mosqueteiros

A verdadeira história

Ao contrário do que muita gente pensa nem D’ Artagnan nem os Três Mosqueteiros são produto da fantasia de Alexandre Dumas.

Todos eles existiram e em 1701 foram mesmo publicadas umas Mémoires de Mr. D’Artagnan, Capitaine Lieutenant de la Compagnie des Mousquetaires du Roy.

Escreveu-as, não o próprio D’Artagnan, mas um seu amigo dado às letras: Gratien Courtils de Sandras.

Entre as muitas coisas estranhas que caracterizam a vida de D’Artagnan deve citar-se o facto de ele ter passado à História com um nome falso.

Pertencia a uma família modesta que, graças a uma feliz actividade comercial, conseguiu enriquecer no século XVI.

Mas, com o andar dos tempos, as coisas começaram a correr mal. E, assim, quando Charles de Batz (que assim se chamava o futuro mosqueteiro) resolveu ir tentar a sorte em Paris, escolheu o nome de D’Artagnan que era muito mais sonoro do que o seu.

O jovem Charles levava pouco dinheiro mas, melhor do que o dinheiro, era a carta de recomendação que se destinava a um seu conterrâneo que fizera carreira na capital: Jean-Arnaud de Troisvilles, comandante dos mosqueteiros do Rei e santo protector dos jovens Gascões.

Este senhor de Troisvilles será o senhor de Treville no romance de Dumas …

Depois de muitas aventuras, D’Artagnan chegou finalmente à capital de França com a bolsa vazia mas o espírito cheio de ambições.

A antecâmara do comandante dos mosqueteiros estava cheia de gascões que acolheram D’ Artagnan com benevolência e simpatia.

Entre eles contavam-se Porthos, Athos e Aramis.

Estes últimos dois eram, de resto, parentes do senhor de Troisvilles. E a amizade de D’Artagnan pelos Três Mosqueteiros foi tão rápida que nesse mesmo dia eles o ajudavam num duelo contra quatro guardas do Cardeal.

No dia seguinte, D’ Artagnan feria outro guarda.

À conquista de Paris

Essas vitórias do moço provinciano deram imediatamente a volta a Paris e chegaram aos ouvidos do Rei.

Tal como no romance de Alexandre Dumas, havia uma grande rivalidade entre os mosqueteiros do Rei e os guardas do Cardeal.

Assim, Luís XIII desejou conhecer os quatro mosqueteiros. A D’Artagnan deu cinquenta luízes para que se equipasse convenientemente.

Nesse mesmo ano, o jovem gascão bateu-se com a sua companhia em Arras.

De regresso a Paris, D’ Artagnan procurou esquecer as privações que sofrera na batalha dedicando-se a aventuras galantes. Mas a mais notável parece ter sido uma locandeira.

Dumas, porém, com o seu sentido das hierarquias, fará dela madame Bonancieux, confidente e conselheira da Rainha.

Depois D’ Artagnan esteve em todos os campos de batalha onde a França procurava impor a sua vontade.

Além disso, foi encarregado de várias missões diplomáticas em diversas capitais estrangeiras e obteve sempre êxitos.

Em 1643 encontramos D’Artagnan em Inglaterra onde, no séquito do conde de Harcourt, lutou por Carlos I contra o Parlamento.

Regressado a França, entrou em novas batalhas.

Entretanto, em 1642, morrera o Cardeal De Richelieu, sendo substituído por Mazarino, o prelado italiano educado na sua escola.

No ano seguinte, subiu ao trono Luís XIV, mas Ana de Áustria, dócil instrumento nas mãos de Mazarino, ficou na regência.

Foi somente nos fins de 1644 que D’Artagnan obteve a sua casaca de mosqueteiro.

Recebeu-a do próprio Mazarino que no ano anterior lha havia recusado por sabê-lo protegido do senhor de Troisville, seu inimigo pessoal.

D’ Artagnan foi depois encarregado pelo cardeal italiano de numerosas missões.

Casamento infeliz

Em 5 de Março de 1659, D’Artagnan casou-se com Charlotte-Anne de Chantecy, baronesa de Sainte-Croix, que era viúva.

Entre os assistentes ao casamento estavam, nada mais, nada menos, do que Luís XIV e o Cardeal Mazarino.

D’Artagnan tinha então trinta e cinco anos.

O casamento, porém, não foi feliz. Nem mesmo o nascimento de dois filhos conseguiu unir o casal.

Madame D’ Artagnan acabou por se acolher a um convento, deixando o marido e os filhos.

Por ocasião do casamento de Luís XIV com a Infanta Maria Teresa, filha de Filipe IV de Espanha, D’Artagnan acompanhou o soberano a Saint-Jean-de-Luz.

Depois, foi mandado a Inglaterra para ajudar o general Monk.

Luís XIV tinha D’ Artagnan em grande consideração.

Em 1665 conferiu-lhe o posto de lugar-tenente e o comando da Companhia na ausência do duque de Nevers.

A acção de D’ Artagnan foi tão notável que o Rei Sol lhe mandou uma carta onde se declarava «muito satisfeito» e lhe prometia protecção.

Os seus feitos continuavam brilhantíssimos.

Feito marechal de campo, D’ Artagnan assumiu o comando da região de Lille.

Acabou por morrer à frente dos seus mosqueteiros no cerco de Maestricht.

Como disse o duque de Saint Simon nas suas memórias «D’Artagnan viria a ocupar os mais altos postos se a morte prematura em Maestricht não lhe tivesse cortado a carreira».

Os Três Mosqueteiros

Aramis

deve o seu título de cavaleiro D’Herblay à imaginação de Alexandre Dumas. Chamava-se Henry D’Aramitz e nunca foi sacerdote.

Pouco se sabe da sua vida: casou-se com Jeanne de Béarn-Bonasse e desse casamento resultaram dois filhos que morreram cedo.

Acerca de Porthos e de Athos quase nada se sabe.

Athos é o nome duma aldeia situada nas margens do Olorn.

O único documento que dele possuímos refere-se à sua morte em 21 de Dezembro de 1643, três anos depois da chegada de D’ Artagnan a Paris.

Esse documento informa que ele foi encontrado morto na rua, provavelmente em consequência de um duelo.

Porthos nasceu em Pau. O seu nome verdadeiro era Isaac de Portau.

Sabe-se que só em 1643 recebeu a sua casaca de mosqueteiro, o que não perturbou o nosso conhecido Alexandre Dumas.

Pois não é verdade que ele já envergava casaca nas primeiras páginas do romance?

Mas não é também verdade que o autor dos Vinte Anos Depois fez muito bem em trair a verdade?

Porque o caso dos Três Mosqueteiros é um desses casos em que a fantasia supera a realidade.

Coisa que não é tão fácil como isso, no que parece.

Porque a realidade é cada vez mais imaginação…

Fonte: “Almanaque” – Agosto de 1960 | Imagem (editada)