Capoeira, dança livre ou arte marcial?

Capoeira

A capoeira é lutada – ou jogada – dentro de um círculo pintado no chão e que deverá ter, no máximo, 5 metros de diâmetro.

O espaço é pequeno mas um bom capoeirista deverá ter a agilidade necessária para se esquivar dos golpes do adversário num local pequeno. Se ele dispõe de muito espaço, nunca desenvolverá sua habilidade na luta.

O praticante geralmente luta vestido de branco para seguir a tradição dos melhores capoeiristas: eles se enfrentavam no chão de barro ou de lama e, ao fim da luta, a roupa branca permanecia sem vestígio de sujidade.

Como na música de Baden e Vinicius: “capoeira, que é bom, não cai. Mas, um dia, se ele cai, cai bem” …

O aparecimento…

A capoeira nasceu sob o signo da liberdade.

Entre 1687 e 1697, na época em que ocorreram as invasões holandesas, muitos escravos fugiram das fazendas e dos seus senhores para a serra da Barriga (Alagoas), onde se reuniram e formaram os quilombos, liderados pelo preto Zumbi.

Sucessivas expedições foram enviadas no seu encalço.

A ordem que esses contingentes de capitães-de-mato recebia eram no sentido de que capturassem vivos, e em boas condições físicas, o maior número possível de negros, necessários ao trabalho escravo.

Estes se defendiam no meio do mato, nas chamadas capoeiras, com um jogo alucinante e violento de cabeçadas e golpes desferidos com os pés, que derrotou, durante dez anos, aquelas expedições punitivas.

Desse jogo ou dessa luta nasceu a capoeira.

Os negros recapturados levaram-na de volta às fazendas. E ela foi cultivada, também, como dança, como folguedo, até para mascarar, diante das autoridades e dos senhores de terras, o seu caráter de luta e de violência.

Categorias…

Há duas categorias básicas de capoeira:

– a Angola (de mestre Pastinha), mais dança do que luta, praticada nas festas de Salvador;

– e a Regional, que surgiu há cerca de 60 anos [em 1977], com mestre Bimba, pioneiro do ensino em academias, e que lhe deu maior agressividade e características de luta de defesa pessoal.

A capoeira é uma luta de esquivas: se o adversário ataca, o capoeirista foge do golpe e imediatamente contra-ataca.

Segundo Pastinha, o capoeirista tem de ser como um saco de milho ou feijão semicheio: quando você agarra o saco pelo meio, o feijão foge pelas pontas e não se consegue segurar.

Ao receber um soco, por exemplo, o capoeirista não tenta desviar o golpe: ele se esquiva, finge que foge e contra-ataca inesperadamente. E os golpes, aplicados com a ponta do pé ou calcanhar, podem ser mortais.

4 golpes básicos: cabeçada, joelhada, rasteira e rabo-de-arraia. Em torno deles há dezenas de outros.

Uma característica da capoeira é precisamente a improvisação, que nunca cessa. E a malícia e elegância com que se transforma a violência em arte.

A capoeira já esteve proibida no Brasil.

Mas isso foi há muito tempo.

A República tinha sido proclamada e o próprio marechal Deodoro da Fonseca, chefe do novo governo que surgia, deu a ordem para que a capoeira fosse varrida das ruas ou becos onde marginais lutavam entre si ou enfrentavam a polícia com aqueles golpes que mais pareciam passos de ballet – um ballet dançado com violência, graça e malícia.

Em tempos, ainda era possível encontrar nos dicionários a seguinte definição para a capoeira: jogo atlético praticado por indivíduos geralmente munidos de faca ou navalha para a prática de atos criminosos.

Mas esta definição está ultrapassada.

Houve uma época em que realmente a capoeira era a luta preferida pelos marginais de toda espécie. Eles originavam tumultos, desafiavam as autoridades e eram usados por políticos para agredir ou simplesmente eliminar adversários incómodos.

O problema chegou a tal ponto que o Código Penal Brasileiro (decreto 487, de 11 de outubro de 1890) punia com a prisão de dois a seis meses quem fosse encontrado nas ruas fazendo “exercícios de agilidade ou destreza corporal, conhecidos pela denominação de capoeiragem“.

Atualmente [1977] a capoeira sobrevive mais como dança do que luta, nas festas de Salvador da Bahia, em academias que tentam transmitir às novas gerações, em São Paulo e Rio, os ensinamentos de mestres veneráveis como Bimba ou Pastinha.

Fonte: “Almanaque Mundial – 1977” (texto editado e adaptado) | Imagem