Cronologia essencial sobre Afonso Henriques e Portugal, ao tempo

D. Afonso Henriques, o Conquistador – Rei desde 1143

Nasceu provavelmente Guimarães (ou em Viseu) em 1109, e morreu em Coimbra, a 8.12.1185. Foram seus pais o conde D. Henrique de Borgonha e a infanta D. Teresa (filha bastarda de Afonso VI de Leão), senhores do Condado Portucalense.

Veio a casar-se em 1145 ou 1146 com Mafalda, ou Matilde, filha do conde de Mouriana e Sabóia.

Órfão de pai aos 3 anos de idade, armou-se cavaleiro, como era costume os reis fazerem, na Sé de Zamora, quanto tinha 16 anos.

Em 24.6. 1128, no campo de São Mamede (Guimarães), vence os partidários de sua mãe, galegos na sua maioria, e assume as rédeas do governo.

Reforça os laços com a Santa Sé, daí resultando, em 1131, a fundação do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.

Combatendo ora os Leoneses, que vence em Cerneja (1137), ora os Mouros, aos quais inflige a derrota de Ourique (25.7.1139), criou as condições da independência de Portugal, passando a intitular-se rei.

Na Conferência de Zamora, na qual Afonso VII não contestou o título de rei a seu primo, o novo monarca prestou vassalagem à Santa Sé em 13.12.1 143, aceite pelo legado pontifício Guido de Vico, mas somente em 23.5. 1179 o papa sancionou explicitamente a D. Afonso Henriques o título de rei.

Em defesa do trono conquistou Santarém (15.3.147) e, com a ajuda dos Cruzados, a cidade de Lisboa (24.10.1147). Alargou depois as suas conquistas a Évora e a Beja.

Um acidente em Badajoz fê-lo partir uma perna e ficar prisioneiro de Fernando II de Leão, ao qual teve de restituir (1169) as terras de que se apoderara na Galiza.

Não se limitou a conquistar a independência de Portugal com a força da sua espada, mas procurou consolidá-la com a ação diplomática, sobretudo junto da Santa Sé, e com medidas de alcance político e cultural.

Para a fixação das populações nas terras libertadas favoreceu as ordens militares (freires de Sant’ lago da Espada, Hospitalários e Templários) e para o progresso cultural do País contribuiu com a fundação do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra (1131); trouxe para Portugal os Cistercienses, fixados em Alcobaça em 1153. 1

A seguir, apresentamos uma cronologia essencial sobre D. Afonso Henriques e Portugal. no seu tempo 2 :

1125 – Data provável da investidura de D. Afonso Henriques, armado cavaleiro em Zamora.

1126 – Morte de D. Urraca e coroação de Afonso Raimundes, primo de D. Afonso Henriques, como rei de Leão e Castela.

1127

[abril] – Acordo de Paz por tempo determinado entre D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, Fernão Peres de Trava e Afonso VII, em Zamora.

[setembro-outubro] – Afonso VII invade a Galiza e submete as forças de D. Teresa, que recusava prestar-lhe serviços de vassalagem e pretendia exercer autoridade sobre Portugal e o condado de Toronho.

Cerco de Guimarães por D. Afonso VII com o objetivo de exigir de D. Afonso Henriques a prestação de serviços de vassalagem. A oposição de Afonso Henriques aos invasores contou com a colaboração empenhada dos nobres portucalenses, facto que contrastou com a passividade de Fernão Peres de Trava.

Conquista por Afonso Henriques dos castelos de Neiva e Feira, na terra de Santa Maria, a sua mãe D. Teresa.

1128

[março] – Tentativa de pacificação entre D. Teresa, Fernão Peres de Trava e a nobreza portucalense revoltada.

[junho] – Batalha de S. Mamede. Este confronto decisivo saldou-se pela vitória de D. Afonso Henriques e dos barões portucalenses, que rejeitaram a autoridade dos Travas no condado e escolheram o infante para seu chefe. A fação vitoriosa, ao afastar Fernão Peres e D. Teresa, recusava-se a aceitar a política da alta nobreza galega e do arcebispo de Compostela e reclamava a inviabilidade de um reino que englobasse a Galiza e Portugal.

1129

Entrega, por D. Afonso Henriques aos Templários, do Castelo de Soure, que de- fendia a cidade de Coimbra das invasões sarracenas vindas do Sul.

1130

Expedição de D. Afonso VII a Portugal, a que se associou o arcebispo de Compostela, Diego Gelmírez, e alguns condes galegos, para exigir de D. Afonso Henriques o abandono das regiões galegas de Límia e Toronho.

Morte da condessa D. Teresa, mãe de Afonso Henriques.

1131

Início da construção do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, que surgirá como o centro cultural mais original e importante do princípio da nacionalidade e tornar-se-á senhor de direitos eclesiásticos em Leiria e de grandes domínios em todo o vale do Mondego, nas faldas setentrionais da serra da Estrela e numa vasta área em redor de Coimbra.

D. Afonso Henriques abandona Guimarães, antiga residência dos condes de Portucale, e faz de Coimbra o centro das suas deslocações através dos seus domínios. Coimbra torna-se então a «capital» da monarquia que em breve se iria formar.

1134

Introdução da regra de Santo Agostinho e suas observâncias em muitos mosteiros antigos do Norte do país, que pertenciam, em grande parte, a famílias da nobreza local média e inferior.~

1135

Construção do Castelo de Leiria por D. Afonso Henriques, facto que se enquadra numa política militar ofensiva que visava combater os castelos de Santarém, Sintra e outros da mesma região. Os Mouros reagiram violentamente, acabando por arrasar o castelo em 1140.

Morte de Ermígio Moniz, irmão de Egas Moniz, que desempenhava funções de grande importância sobre o território do Condado. A sua morte marca o fim da concentração de cargos curiais de grande responsabilidade nas principais famílias da nobreza no Norte.

1136-1145

Egas Moniz, pertencente a uma poderosa família de Entre Douro e Minho, uma das trinta que originaram a nobreza de Portugal, desempenha o importantíssimo cargo de alferes-mor de Afonso Henriques.

1137

Ocupação por D. Afonso Henriques dos condados de Toronho e Límia, na Galiza.

[julho] – Assinatura de um tratado de paz em Tui, entre D. Afonso VII e D. Afonso Henriques. Foi um pacto feudal não demasiado rígido em que Afonso VIII se contentava com uma garantia vaga de fidelidade, considerando o seu primo como vassalo de origem régia, o que reforçaria o seu título de imperador. Afonso Henriques, por seu lado, submetia se astuciosamente ao ato e continuava a governar o condado sem grande oposição.

1139-1140

Batalha de Ourique, onde as forças de D. Afonso Henriques obtêm a sua primeira grande vitória contra os muçulmanos. Afonso Henriques adquire nela particular prestígio, passando desde então a intitular-se rei.

1140

Destruição do Castelo de Leiria pelos muçulmanos.

1141

Nova invasão de Toronho, por D. Afonso Henriques que não desiste de se apoderar de territórios situados na fronteira galega. D. Afonso VII dirige-se com o seu exército para a Galiza, acabando por entrar em confronto com Afonso Henriques perto de Valdevez.

1143

Dá-se a Conferência de Zamora. Tratado de paz celebrado entre Afonso Henriques e D. Afonso VII de Leão, na presença do legado papal Guido de Vico, depois do qual é reconhecido ao infante português o título de rei.

Homenagem vassálica de D. Afonso Henriques ao papa, colocando-se a si e ao reino de Portugal sob a proteção de Roma em troca de um censo anual de quatro onças de ouro.

Castelo de Zamora
Castelo de Zamora

1144

Ataque ao Castelo de Soure pelos muçulmanos.

1145
Casamento de D. Afonso Henriques com Mafalda (ou Matilde), filha do conde Amadeu II de Sabóia e Piemonte.

1147

Conquista de Santarém por D. Afonso Henriques após operação «relâmpago» que terá eventualmente contado com a colaboração alguns habitantes da cidade.

Conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques com o auxílio dos cruzados. Depois desta cidade seguiu-se o domínio de Sintra, Almada e Palmela, importantes fortalezas necessárias à defesa de Lisboa.

1148

Restauração por D. Afonso Henriques a conselho de D. João Peculiar, arcebispo de Braga, das dioceses de Lisboa, Viseu e Lamego, pertencentes outrora à metrópole de Mérida e que, portanto, deveriam ser sufragâneas de Santiago de Compostela. Os bispos nomeados para estas cidades foram sagrados pelo arcebispo de Braga o que suscitou os protestos de Afonso VII junto da cúria romana.

1151

Tentativa frustrada de conquistar Alcácer do Sal.

Tentativa de aliança do almóada Ibn Qasi, governador de Silves, com D. Afonso Henriques contra Abd Al-Mumin, senhor do Garb. A aliança viria, porém, a custar a vida a Ibn Qasi, assassinado pela população de Silves, no mesmo ano.

1153

Fundação da abadia cisterciense de Alcobaça que ocupou um vasto domínio concedido pelo rei. O seu propósito era povoar uma região pouco habitada, mas fértil, da Estremadura e proceder à sua organização.

1154

Tentativa fracassada de resolução dos conflitos entre Braga e Santiago de Compostela, efetuada em Tui pelo legado pontifício, cardeal Jacinto.

1157-1169

Concessão de forais a vários concelhos perto da fronteira leonesa. A criação nesta zona de municípios autónomos, dotados de privilégios, destinava-se a formar as malhas de uma rede defensiva contra as possíveis agressões militares leonesas a partir de Cidade Rodrigo.

1158 [ou 1160]

Conquista de Alcácer do Sal por D. Afonso Henriques, com o auxílio de alguns cruzados, após um cerco de dois meses.

Assinatura do Pacto de Sahagún, entre os reis D. Fernando II, de Leão, e D. Sancho III, de Castela, celebrado depois da morte de Afonso VII. O acordo estipulava a divisão entre os dois reis da zona muçulmana a reconqu1star e a partilha do reino de Portugal, se viessem a apoderar-se dele. Contudo, a morte de Sancho II no mesmo ano veio comprometer o ataque comum de leoneses e castelhanos contra Portugal,

1159

Nova ocupação de Tui, capital do condado de Toronho, por D. Afonso Henriques.

Doação do rei português, à Ordem dos Templários, do Castelo de Ceras, com todos os seus termos, incluindo Tomar, onde vieram a edificar o seu convento e castelo.

1160

Doação de povoações no centro de Portugal a colonos francos.

Início da construção do Castelo dos Templários, em Tomar.

Início da edificação da Sé de Lisboa.

Assinatura do tratado de paz no mosteiro beneditino de Celanova, na Galiza, entre D Afonso Henriques e Fernando II, comprometendo-se o primeiro a restituir a cidade de Tui e o respetivo território, promessa que não veio a cumprir.

1162

Ocupação do território galego de Límia pelo rei de Portugal.

1163

Ocupação de Salamanca por D. Afonso Henriques.

1165

Celebração do Tratado de Paz de Pontevedra entre os reis de Portugal e de Leão, selado com a promessa de casamento da 2ª filha de Afonso Henriques, Urraca Afonso com D. Fernando II, e, posteriormente, o abandono definitivo do rei de Portugal de Tui. É provável que por essa ocasião os dois reis tivessem também chegado a acordo sobre as áreas de conquista portuguesa e leonesa em território muçulmano.

Conquista definitiva de Évora aos muçulmanos por Geraldo, Sem-Pavor, que, agindo por sua conta e risco, com um bando de salteadores marginais e aventureiros, tomou aos muçulmanos várias cidades alentejanas e espanholas.

1166

Concessão do foral de Évora, o único que está relacionado com a última fase da reconquista afonsina, e que foi ditado pelo propósito de atribuir privilégios a habitantes de um lugar expostos a perigosos ataques dos inimigos muçulmanos.

Conquista de Serpa, Juromenha e Montánchez por Geraldo, Sem-Pavor. Estas conquistas integram-se numa campanha militar ambiciosa que visava dominar Badajoz, grande centro militar muçulmano nesta zona da fronteira.

Casamento de Urraca Afonso, segunda filha de Afonso Henriques com Fernando II de Leão.

1169

Doação, por Afonso Henriques, aos Templários de um terço das terras que conquistassem no Alentejo.

Aprisionamento de Afonso Henriques por Fernando II de Leão, depois da tentativa frustrada da conquista de Badajoz. O rei de Leão concedeu-lhe a liberdade depois de lhe exigir que cessasse os ataques a esta cidade.

Superintendência do infante D. Sancho, filho de Afonso Henriques, em alguns aspetos da governação do reino.

Afastamento de Pêro Pais da Maia do cargo de alferes-mor de Afonso Henriques, eventualmente relacionado com o desastre de Badajoz, ou com a entrega da governação do reino ao infante D. Sancho. Incompatibilizado com o rei de Portugal, passou ao reino de Leão, onde D. Fernando II lhe confiou o mesmo cargo na sua corte.

1170

Concessão de foral aos muçulmanos livres de Lisboa e de outras povoações ao sul do Tejo, por Afonso Henriques.

1172

Estabelecimento da Ordem de Santiago em Portugal, sendo-lhe concedido Arruda e, talvez pela mesma data, Alcácer, Almada e Palmela.

Cerco provável de Beja por Geraldo, Sem-Pavor. A cidade foi assaltada de surpresa, arrasada, incendiada e em janeiro de 1173 abandonada pelas forças cristãs.

D. Afonso Henriques associa seu filho D. Sancho I, no governo do reino.

1173

Celebração de um Pacto de Tréguas entre Yusuf I, imperador almóada, e os embaixadores régios de Portugal.

1174

Casamento de D. Sancho, herdeiro da coroa de Portugal, com D. Dulce, filha de Raimundo Berenguer IV, rei de Aragão. Esta cerimónia permitiu o reatamento da aliança entre os dois reinos.

Repovoamento de Beja pelos Almóadas e reconstrução das suas muralhas, facto que consolidava uma importante posição militar dos muçulmanos face à cidade de Évora, já dominada pelos cristãos.

1175

Separação matrimonial de Fernando II, de Leão, de Urraca Afonso, irmã de D. Sancho I, por pressão da Santa Sé e dos eclesiásticos do seu reino. Este acontecimento gerou uma prolongada questão acerca dos domínios leoneses que D. Urraca tinha recebido como dote, que culminou numa guerra aberta entre os dois reinos.

Criação por Afonso Henriques, ou Sancho I, em Évora, de uma ordem militar portuguesa, que adotou os costumes e as regras da ordem castelhana de Calatrava e que passou a desempenhar um importante papel na defesa da cidade face à crescente ameaça muçulmana.

1178

Importante expedição do infante D. Sancho em território muçulmano, que alcançou e destruiu os arredores de Sevilha, na margem direita do rio Guadalquivir.

1179

Reconhecimento do título de rei a Afonso Henriques pelo papa Alexandre III, através da bula Manifestis Probatum. Este diploma tomava o rei e os seus herdeiros sob a proteção da Santa Sé, declarava Portugal como um reino pertencente a S. Pedro e prometia o auxílio papal para a defesa da dignidade régia.

Organização da defesa de Lisboa pelos freires de Évora, pertencentes à futura Ordem de Calatrava, em virtude dos crescentes ataques marítimos muçulmanos sofridos pela cidade.

Concessão pelo rei de Portugal de novos forais a Lisboa, Évora e Santarém, a partir de um modelo criado para esta última cidade. Este foral, permitiu organizar melhor a vida económica e a administração destes centros urbanos e facilitar a fixação das populações em locais ameaçados pelo inimigo, assegurando assim a sua defesa contra novos ataques.

1179-1181

Ataques mouros a várias praças do Sul de Portugal, nomeadamente Abrantes, Coruche, Évora e Lisboa, que exigiram por parte dos Portugueses um reforço da defesa do território dominado.

1180

Derrota do infante D. Sancho na Batalha de Arganal, junto a Cidade Rodrigo, perante o exército do reino de Leão. Este facto levou os Portugueses a abdicarem temporariamente de reaver os territórios localizados na região do Ribacoa.

1182

Julião Pais era nomeado, por D. Afonso Henriques, chanceler-mor. A este funcionário da cúria régia, estava confiado o selo real com que eram autenticados os diplomas régios. O chanceler tinha funções muito amplas, controlando os diversos funcionários administrativos e ocupando a chefia da magistratura. Tendo origem no reino de Leão, insere-se na progressiva organização e implantação da máquina administrativa do poder.

1184

Os Almóadas reconquistam os territórios até à linha do Tejo. Dado o facto de se encontrarem ainda pouco consolidadas as fronteiras a sul do Tejo, eram frequentes os ataques dos Mouros. O emir de Marrocos, Yusuf I, preparou uma grande expedição que atravessou o estreito de Gibraltar, em maio de 1184, dirigindo-se a Sevilha, onde se juntaram milhares de homens de armas. Daí partiram os ataques à linha fronteiriça do Tejo chegando a cercar Santarém, que, contudo, não caiu nas mãos dos invasores.

1185

Falecia, em Coimbra, a 6 de dezembro, D. Afonso Henriques, subindo ao trono D. Sancho I que seria aclamado rei três dias depois, em Coimbra. D. Sancho I prosseguirá a política do pai no reforço da defesa fronteiriça e, também, no recomeço da ofensiva. É de destacar o esforço realizado para atrair habitantes às regiões conquistadas, atribuindo cartas de foral de forma a consolidar o repovoamento.

O túmulo de D. Afonso Henriques fica no tramo central da igreja de Santa Cruz, em Coimbra.

A transladação dos restos mortais do fundador de Portugak foi efetuada em 1520, com toda a pompa, na presença de D. Manuel I.

D. João Homem, cavaleiro fidalgo da casa del-Rey D. Manuel I estava presente na cerimónia de transladação e contou cono se segue:

Afonso Henriques achou.se incorrupto, a carne seca, a cor pálida e macilenta, mas de aspeto severo que parecia estar vivo…Tinha vestido uma garnacha comprida de pano de lã branca. Isto tão inteiro e são como se naquela hora lhas vestissem. O Senhor D. Manuel o fez mostrar â nobreza e povo desta cidade“.

Nota: Se considera que neste texto alguma coisa está errada, ou se quiser complementar alguma informação, agradecemos que nos informe.

Fontes: 1 “O Grande Livro dos Portugueses” | 2 “História de Portugal em datas” (texto editado e ampliado com outras informações)