D. Afonso Henriques, o Conquistador, primeiro rei de Portugal

D. Afonso Henriques, de cognome “o Conquistador“, é uma das figuras mais importantes da história de Portugal, pois foi o fundador do Reino de Portugal e o seu primeiro rei.

Nasceu por volta de 1109, provavelmente em Guimarães ou Viseu, filho do conde D. Henrique de Borgonha e de D. Teresa, filha bastarda de D. Afonso VI, rei de Leão, senhores do Condado Portucalense.

Veio a casar-se, em 1145 ou 1146, com Mafalda, ou Matilde, filha do conde de Mouriana e Sabóia. 1

Desde cedo, Afonso Henriques foi moldado pelas complexas relações políticas e militares da Península Ibérica, marcada pela presença de múltiplos reinos cristãos e muçulmanos.

O pai de D. Afonso, conde D. Henrique, era um nobre francês que chegou à Península Ibérica durante a Reconquista, o processo de expansão cristã contra os territórios muçulmanos.

Como recompensa pelos seus serviços, D. Henrique recebeu o Condado Portucalense, que fazia parte do Reino de Leão.

Após a morte de D. Henrique, em 1112, D. Teresa assumiu a regência em nome do filho, que ainda era menor de idade (3 anos).

Durante este período, D. Teresa envolveu-se em diversas alianças políticas, incluindo uma com um nobre galego, Fernão Peres de Trava, o que provocou tensões com a nobreza portucalense.

Brasão de D. Afonso Henriques
Brasão de D. Afonso Henriques

Desejos de independência

À medida que crescia, D. Afonso Henriques começou a afirmar os seus desejos de independência para o Condado Portucalense.

Em 1128, na Batalha de São Mamede, enfrentou as forças da sua mãe e de Fernão Peres de Trava, saindo vitorioso. Este confronto marcou o início da emancipação de Afonso Henriques do controlo leonês e a primeira etapa da criação de um reino independente.

A partir deste momento, D. Afonso Henriques começou a consolidar o seu poder, focando-se na expansão e na defesa do território.

O jovem Afonso tinha ambições que iam além do simples governo de um condado. Ele via-se como o líder de um novo reino cristão independente.

Em 1139, após a vitória na Batalha de Ourique contra as forças muçulmanas, D. Afonso Henriques proclamou-se rei de Portugal. Esta batalha, embora rodeada de lendas, é um dos marcos fundadores da nação portuguesa.

Diz-se que, durante o combate, D. Afonso teve uma visão de Cristo, que lhe prometeu a vitória e o título de rei, um evento que consolidou a sua posição tanto militar quanto espiritualmente.

Após a sua auto proclamação como rei, D. Afonso Henriques dedicou-se à tarefa de expandir e defender o seu reino.

Estátua de D. Afonso Henriques
Estátua de D. Afonso Henriques

Expansão do reino de Portugal

O seu reinado foi caracterizado por campanhas militares constantes contra os muçulmanos no sul e os reinos cristãos vizinhos, nomeadamente Leão e Castela, que não reconheciam, inicialmente, a independência de Portugal.

A paz definitiva entre D. Afonso Henriques e o seu primo, D. Afonso VII, rei de Leão e Castela, veio a ser estabelecida por intervenção do papa Inocêncio II, que para o efeito enviou à Península o seu legado Guido de Vico, na conferência realizada em Outubro de 1143 em Zamora.

Na expansão para sul, uma das grandes vitórias de D. Afonso Henriques foi a conquista de Lisboa, em 1147, com a ajuda de cruzados vindos do norte da Europa.

A tomada de Lisboa foi um ponto crucial na expansão do território português, permitindo o controlo de uma das cidades mais estratégicas da Península Ibérica.

Uns meses antes, a 15/03/1147, já tinha conquistado Santarém. Alargou, depois, as as suas conquistas a Évora e a Beja

Um acidente em Badajoz fê-lo partir uma perna e ficar prisioneiro de Fernando II de Leão, ao qual teve de restituir (1169)  as terras de que se apoderara na Galiza. 1

Relação com a Igreja

A relação de D. Afonso Henriques com a Igreja Católica foi também de grande importância para a consolidação do seu reino.

Em 1179, o Papa Alexandre III emitiu a bula Manifestis Probatum, que reconheceu D. Afonso Henriques como rei e Portugal como um reino independente.

Bula Manifestis probatum
Bula Manifestis probatum (Lisboa, Torre do Tombo, Bulas, maço 16, nº20) A célebre bula em que o Papa, pela primeira vez, concede ao soberano português o título de rei.

 

Este reconhecimento papal foi um marco significativo, pois colocou Portugal no mapa da cristandade europeia, garantindo-lhe uma maior legitimidade internacional.

Ao longo do seu reinado, D. Afonso Henriques mostrou ser um líder militar astuto e determinado.

Expansão das fronteiras do reino para sul

Conseguiu expandir as fronteiras do seu reino para sul, conquistando territórios aos mouros e consolidando as suas conquistas através da construção de castelos e fortificações, como as de Santarém e Évora.

A sua visão era a de um reino forte e unificado, capaz de se defender contra as ameaças externas e de afirmar a sua independência face aos poderosos reinos cristãos vizinhos.

A nível interno, D. Afonso Henriques enfrentou vários desafios, incluindo a resistência de alguns nobres e as dificuldades de governar um território em constante expansão e sob ameaça constante.

Contudo, soube garantir a lealdade dos seus vassalos, oferecendo terras e privilégios à nobreza que o apoiava nas suas campanhas militares.

Para a fixação das terras libertadas favoreceu as ordens militares (Freires de Sant’Iago de Espada, Hospitalários e Templários) e para o progresso cultural do país contribuiu com a construção do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra (1131) e trouxe para Portugal os Cistercienses, fixados em Alcobaça em 1153. 1

Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra
Fachada do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Esta fachada foi alterada no século XVI por ordem do rei D. Manuel I, que assim quis exaltar a memória histórica do reino.

Dinastia de Borgonha, a primeira de Portugal

A importância de D. Afonso Henriques na história de Portugal vai além das suas conquistas militares. Ele foi o fundador de uma nova dinastia, a Borgonha, que reinaria em Portugal até à crise de 1383-1385.

Sob o seu governo, Portugal começou a desenvolver uma identidade nacional distinta, com uma língua própria, costumes e leis que, ao longo dos séculos, se consolidariam numa nação unificada.

A longevidade do seu reinado, que durou cerca de 46 anos, permitiu-lhe deixar um legado duradouro.

Quando morreu, em 1185, Portugal era um reino independente, reconhecido pela Santa Sé e com fronteiras em expansão. Sucedeu-lhe seu filho, D. Sancho I, que continuou a obra do pai, expandindo e consolidando o reino.

D. Afonso Henriques
D. Afonso Henriques, o Conquistador

D. Afonso Henriques na memória coletiva de Portugal

D. Afonso Henriques permanece uma figura central na memória coletiva de Portugal. A sua vida e feitos são celebrados na literatura, nas artes e na cultura popular.

A sua imagem, muitas vezes idealizada, é a de um herói nacional que, contra todas as probabilidades, conseguiu fundar um reino independente numa época de grande incerteza e conflito.

O seu cognome de “o Conquistador” reflete não só as suas vitórias militares, mas também a sua capacidade de superar os desafios e de construir as fundações de uma nação que perdura até hoje.

Em suma, D. Afonso Henriques foi mais do que um simples líder militar. Ele foi o arquiteto de uma nação.

A sua visão e determinação permitiram-lhe transformar um pequeno condado numa potência emergente, lançando as bases para o que se tornaria, no futuro, o Reino de Portugal.

A sua figura é, sem dúvida, uma das mais importantes na rica tapeçaria da história portuguesa, representando o espírito de independência e perseverança que caracterizou a formação de Portugal como nação.

Nota: Se considera que neste texto alguma coisa está errada, ou se quiser complementar alguma informação, agradecemos que nos informe.

Fonte: 1 “O Grande Livro dos Portugueses”