Saloias vendendo na Praça da Figueira – 1860
Origem dos saloios
Quando el-rei D. Afonso Henriques tomou a nossa Lisboa aos mouros, para não despovoar a cidade, deixou ficar quase todos os habitantes que ao seu domínio se submeteram, na posse de bens e casas que tinham, impondo-lhes um tributo a que chamaram çalayo.
Desta mesma tolerância, que a política e o cristianismo aconselhavam, usou o primeiro monarca português para com os moradores dos lugares circunvizinhos da cidade.
Foi esta aumentando sucessivamente em população cristã, que em si absorveu a raça mourisca, com muita mais facilidade do que nos campos, onde a mourama pura subsistiu por muito tempo.
É fama que a estes mouros dos arrabaldes de Lisboa se ficou dando o nome de çaloyos, derivado este nome, já corrompido, do que eles davam a uma reza que repetiam cinco vezes ao dia, chamada çala.
O certo é que este nome, aportuguesado em saloio, subsistiu depois de já povoados esses lugares por cristãos, e ainda hoje se dá a todos os moradores dos subúrbios de Lisboa.
Para corroborar esta etimologia, aduzem os antiquários um tributo que antigamente se pagava do pão cozido no termo de Lisboa, conhecido e citado pelo nome de çalayo.
O saloio constitui um tipo caraterístico, que se distingue de todas as mais raças de camponeses de Portugal, e já tem sido descrito por boas penas, pintado por bons pincéis, e posto em cena no teatro por bons poetas.
As saloias na Praça da Figueira – Lisboa
As saloias são quem abastece de fruta e hortaliça a praça da Figueira, ou mercado público, de Lisboa.
Desse mercado é que o insigne professor de paisagem da Academia de Belas Artes, o sr. Th. J. da Annunciação, copiou as duas saloias que desenha a nossa gravura, com os rigorosos trajos que usam hoje.
Ainda não há muitos anos, usavam elas sobre o lenço da cabeça, uma carapuça de pano de cor, em forma de cartucho de açúcar, inclinada para a testa.
A estampa representa um dos ângulos da praça da Figueira.
Uma das saloias é vendedeira de fruta que trouxe da terra, em cesto vindimo e canastra, enquanto que outra vende criação, que está metida em capoeira volante.
Ao pé está um dos homens de ganhar (galego) com o clássico cabaz oblongo, ganhões que giram por aquela praça, perseguindo os compradores com o repetido estribilho de: “Quer algum moço?”
O desenho está muito gracioso e correto. O quadrinho bem campido, e de rigorosa perspectiva. São estes os predicados de todas as pinturas do sr. Annunciação.
“Arquivo Pitoresco”, nº 20 – 1860 (texto editado e adptado)