As origens da divisão do ano, do dia e da hora no tempo
A maneira como dividimos o tempo em meses, dias, horas e minutos é um sistema que remonta a milhares de anos, desenvolvido e refinado por várias civilizações ao longo da história.
A divisão do ano em 12 meses, do dia em 24 horas e da hora em 60 minutos foi criada por diferentes culturas, cada uma contribuindo de forma significativa para o calendário e o conceito de tempo que usamos atualmente.
Esta divisão serve não só como uma ferramenta prática para a organização da vida humana, mas também revela muito sobre as sociedades e as motivações por trás da sua criação.
A divisão do ano em 12 meses
A estrutura de 12 meses no ano está profundamente ligada às observações astronómicas das civilizações antigas, especialmente dos egípcios e babilónios.
Para estas culturas, o movimento dos astros era crucial, pois regulava atividades agrícolas, festividades religiosas e a organização das sociedades.
O ano solar, o tempo que a Terra leva para completar uma órbita em torno do Sol, dura aproximadamente 365,25 dias. Esse valor fracionado representou um desafio para criar um calendário preciso e estável.
Os egípcios, por volta de 3000 a.C., foram dos primeiros a organizar o ano em 12 meses, baseando-se nos ciclos da Lua e no movimento da estrela Sírio. Cada mês possuía 30 dias, totalizando 360 dias, aos quais acrescentavam 5 dias festivos ao final do ano para ajustar o calendário solar.
Essa estrutura foi posteriormente adotada e ajustada pelos romanos, que deram aos meses os nomes que conhecemos hoje.
Durante o reinado de Júlio César, o calendário juliano foi introduzido, com uma correção adicional para compensar os 0,25 dias extra. Esta estrutura de 12 meses foi mantida no calendário gregoriano, implementado em 1582, que é o mais utilizado no mundo atual.
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O dia dividido em 24 horas
A divisão do dia em 24 horas remonta aos antigos egípcios, que desenvolveram um sistema de contagem do tempo utilizando relógios de sol e relógios de água (clepsidras).
Por volta de 1500 a.C., os egípcios tinham uma divisão do dia em dois períodos de 12 horas, com 12 horas diurnas e 12 noturnas. Este modelo de divisão em 12 partes estava ligado ao sistema duodecimal, provavelmente influenciado pela contagem nos dedos: três falanges em cada um dos quatro dedos (excluindo o polegar) de cada mão.
Mais tarde, os babilónios, conhecidos pelo seu sistema numérico sexagesimal (baseado em 60), adotaram e refinaram esse modelo de divisão do dia. Este sistema numérico influenciou a astronomia e a matemática babilónica e é a base das divisões menores de tempo que utilizamos atualmente, como a hora e o minuto.
Foi no período helenístico que esta divisão do dia em 24 horas, proposta inicialmente pelos egípcios, se disseminou para outras civilizações. Os gregos adotaram o modelo e expandiram-no através do mundo ocidental.
Na Idade Média, o conceito foi absorvido na Europa e passou a ser o padrão, sendo que a igreja medieval também teve um papel na sua institucionalização, utilizando as horas para marcar as orações ao longo do dia.
A hora dividida em 60 minutos e o minuto em 60 segundos
A divisão de cada hora em 60 minutos e de cada minuto em 60 segundos deve-se ao sistema sexagesimal dos babilónios.
O sistema sexagesimal, com base no número 60, era prático para cálculos astronómicos e matemáticos, pois o número 60 possui muitos divisores, como 1, 2, 3, 4, 5, 6, 10, 12, 15, 20 e 30, o que facilita a divisão de um círculo em frações.
A partir desta base matemática, os babilónios construíram divisões que se adaptavam aos cálculos necessários para acompanhar as fases da Lua e prever eventos astronómicos, essenciais para a agricultura e a navegação.
Com o avanço da astronomia na civilização greco-romana, os estudiosos como Hiparco e Ptolomeu continuaram a usar e expandir o sistema sexagesimal para cálculos de ângulos e coordenadas celestes, adotando a divisão em 60 minutos e, subsequentemente, em 60 segundos.
Assim, o sistema chegou até o mundo medieval, onde continuou a ser usado, particularmente em contextos astronómicos e, mais tarde, na marcação do tempo nos relógios mecânicos que começaram a surgir na Europa no século XIV.
A difusão e adaptação do sistema ao longo do tempo
Embora a divisão do tempo em 12 meses, 24 horas e 60 minutos tenha raízes na Antiguidade, a padronização do sistema só foi possível graças à disseminação cultural e ao intercâmbio de conhecimento entre civilizações.
Os romanos tiveram um papel fundamental na expansão do calendário e da divisão do tempo através de seu vasto império.
Durante a Idade Média, a Igreja Católica usava as horas como referência para as orações e atividades diárias nos mosteiros, consolidando a estrutura de 24 horas.
No entanto, o tempo ainda era medido de forma bastante imprecisa.
Relógios mecânicos só começaram a ser usados amplamente na Europa no século XIV. Com esses relógios, tornou-se viável dividir o dia de forma mais exata, consolidando o sistema de horas, minutos e segundos, que já havia sido sugerido por astrónomos.
Em 1656, o cientista holandês Christiaan Huygens inventou o primeiro relógio de pêndulo, um marco na história da medição do tempo, permitindo uma precisão nunca antes alcançada.
A razão por trás da escolha deste sistema
A escolha deste sistema baseia-se em fatores práticos e culturais.
Os ciclos naturais e astronómicos, como a rotação da Terra e as fases da Lua, inspiraram as divisões maiores de tempo, como os meses e os dias.
A conveniência matemática do sistema sexagesimal, com seus múltiplos divisores, fez dele uma escolha lógica para as divisões menores, como horas, minutos e segundos.
Este sistema foi adaptado pelas culturas devido à sua utilidade prática. Era fundamental para a agricultura, permitindo prever as estações do ano e planear colheitas, e para a astronomia, auxiliando na navegação e na compreensão dos ciclos celestes.
Ao longo dos séculos, o sistema foi mantido e adaptado devido à sua simplicidade e funcionalidade, tornando-se um padrão cultural universal.
Conclusão
A divisão do ano em 12 meses, do dia em 24 horas e da hora em 60 minutos é um legado de várias civilizações antigas que moldaram a forma como organizamos o tempo até os dias de hoje.
Egípcios, babilónios, gregos e romanos contribuíram com observações astronómicas e sistemas matemáticos que foram transmitidos e ajustados ao longo da história. O sistema atual não é apenas um conjunto de números, mas um reflexo da nossa história e da interligação cultural ao longo dos séculos, simbolizando como o conhecimento humano evolui e se adapta às necessidades práticas da sociedade.