Judite e a cabeça de Holofernes!

Judite e a cabeça de Holofernes

“A Bíblia, mais precisamente o Antigo Testamento, está povoada de mulheres notáveis a diferentes títulos. Mulheres que se destacaram pela beleza, pela coragem, pelo heroísmo, pela dedicação ou pela virtude.

Algumas, portentosas, como a rainha de Sabá, que veio de tão longe para verificar pessoalmente a sabedoria de Salomão, e que o presenteou magnificamente, como conta o capítulo X do “Livro dos Reis“:

Deu, pois, ao rei cento e vinte talentos de ouro e infinitos aromas e pedras preciosas; desde então não se trouxeram a Jerusalém tantos aromas como os que a rainha de Sabá deu ao rei Salomão.”

Outras, como Rute, serviram para que se não extinguissem gerações de varões sábios e fortes.

Venceram, todas elas, utilizando as armas de que podiam dispor. Especialmente a graça própria do sexo, transformando em tremendo poder essa convencional fraqueza feminina, que tem sido, na realidade, uma das maiores forças que têm movido o mundo.

Uma das mais interessantes, porém, foi Judite. E tudo aconteceu pelo ano de 658 antes de Cristo. (Cf. O livro da Bíblia chamado “Judite”).

 

Nabucodonosor, rei da Assíria

, reuniu no seu esplêndido palácio de Nínive os seus mais sábios conselheiros e contou-lhes o projeto que acariciava de longa data: dominar toda a terra, impor-se como deus a todos os povos.

Holofernes, o grande e impiedoso general, foi chamado, então, à real presença.

Cento e vinte mil combatentes a pé e doze mil cavaleiros foi o poderoso exército entregue à chefia do guerreiro que se ilustrara em diferentes combates e que se gabava de sua insensibilidade diante do sofrimento alheio.

Pela vasta região que abrangia a Mesopotâmia, Síria, Líbano, Apaméia, o terror foi imenso.

Embaixadores trémulos ajoelhavam-se ante o guerreiro, protestando sujeição.

Mas a ordem era atacar e Holofernes destruir impiedosamente cidades e populações inteiras.

Um povo, todavia, dispôs-se a resistir, entrincheirando-se nas montanhas que iam da Samaria a Jerusalém, transformando toda a Betúlia numa grande praça-forte.

Cercada pelas forças de Holofernes, Betúlia viu-se privada do aprovisionamento de água. O desespero começou, então, a apossar-se do povo.

Ozias, seu príncipe, vacilava, não sabendo o que fazer, sentindo que o seu coração também ia sendo invadido pelo pânico.

Judite, uma mulher de coragem e de fé

Foi, então, que apareceu Judite.

Sua pele tinha a maciez da lã das ovelhas que balavam nos prados nativos, seus olhos a profundidade daquelas misteriosas noites do deserto.

Havia três anos que enviuvara de Manassés e desde então, guardando perfeita fidelidade à memória do esposo, passara a viver na sua grande casa

Um dia, tomada de súbita resolução, ela compareceu à presença do príncipe e declarou-lhe que possuía um plano para salvar Betúlia.

Todos a escutaram em respeitoso silêncio e resolveram conceder-lhe a permissão que solicitava para executar a sua tentativa a última tentativa de salvar todo um povo.

 

Na manhã seguinte, acompanhada de uma única escrava, Judite dirigiu-se ao acampamento inimigo. Ia vestida com as suas melhores roupas e joias, penteada, perfumada com aromas raros, deslumbrante, provocadora.

As sentinelas perturbaram-se diante da visão daquela mulher magnífica. Informou-as que desejava falar ao seu general e sem dificuldade ela se viu face a face com Holofernes.

A este declarou que possuía um meio de dominar a Betúlia, a sua gente – que declarava odiar -, sem que o assírio corresse o menor risco, sem que perdesse um só homem.

O poderoso general fascinou-se diante da beleza da judia. Acreditaria em suas palavras? Ou apenas desejaria a linda mulher?

No acampamento assírio tudo se preparou para um daqueles esplêndidos festins que Holofernes tanto apreciava.

Odres de vinho maduro amontoavam-se pelos cantos das tendas, iguarias raras foram cuidadosamente preparadas como se se tratasse de celebrar algo de muito importante.

Os oficiais e soldados mostravam-se contentes. Quem não apreciava uma boa festa, fartamente regada a bom vinho?

Recostado no leito imponente, sob um dossel marchetado de ouro, Holofernes bebia assustadoramente.

Ao seu lado, Judite, mais bela do que nunca, oferecia-se.

As horas foram correndo céleres. Judite e Holofernes ficaram a sós, finalmente, como tanto desejava o tirano.

Mas ele continuava bebendo terrivelmente e em pouco atingia o auge da embriaguez, ficando, praticamente, inconsciente.

Judite corta a cabeça de Holofernes

Sem perda de um instante, Judite agarrou a pesada espada, afiada como navalha, que pendia de uma coluna da tenda e de um só golpe cortou a cabeça do tirano.

Feito isso, aproveitando a escuridão e o amolecimento das sentinelas, naquela noite de festa, conseguiu atingir a porta da cidadela do acampamento e regressar à sua velha casa, conduzindo num saco a cabeça do tirano.

Betúlia estava salva!

Judite, segundo a Bíblia, faleceu com a avançada idade de 107 anos, sempre reverenciada pelo seu povo como uma verdadeira heroína.”

In “Histórias da História do Mundo” (texto editado e adaptado) | Imagem: parte de um quadro atribuído a Caravaggio, “Judite e Holofernes”, de aproximadamente 400 anos, mostra o momento da decapitação de Holofernes, feita por Judite, a grande heroína bíblica, viúva, da cidade de Betúlia.