Sobre o nome dos dias da semana em Portugal

Dias da semana

Entre os pagãos, cada dia da semana era consagrado a uma divindade.

Ainda hoje, nas línguas europeias, com exceção da portuguesa e grega, os dias da semana são de origem astral, reminiscência das antigas divindades.

Assim, os nossos vizinhos espanhóis, em vez de segunda, terça, quarta ou quinta-feira, dizem: lunes, martes, miércoles, jueves… Isto é: dia da lua, de marte, de mercúrio, de júpiter

Nós, portugueses, seguimos uma nomenclatura litúrgica de origem latina: feria secunda, feria tertia, etc., que veio a dar: segunda-feira, terça-feira, etc.

A exceção portuguesa deve-se ao apostolado dum grande bispo bracarense, S. Martinho de Dume.

Este luzeiro português do séc. VI foi o apóstolo dos suevos, povo bárbaro que ocupou o noroeste peninsular, desde as Astúrias até ao Tejo. Chegaram a constituir um reino, cuja capital era Braga.

Pois foi nesta cidade que S. Martinho batizou Miro, rei dos Suevos, meio século antes da conversão de Recaredo no III concilio de Toledo.

Nesse trabalho apostólico, os bispos sufragâneos de S. Martinho pediram-lhe um exemplar de homilia, que servisse de modelo para as suas catequeses aos recém-convertidos.

O metropolita bracarense escreveu, então, o «De correctione rusticorum», onde se encontra o seguinte texto-chave para compreender a exceção portuguesa, referente aos dias da semana:

«Não desprezeis o dia dominical que, por isso mesmo, se chama domingo, pois nele o Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, ressuscitou dos mortos, mas pelo contrário, venerai-o com reverência.

No dia dominical, não façais trabalhos servis como trabalhar no campo, no prado ou na vinha ou qualquer outro trabalho pesado (…).

É lícito, aos domingos, passear até aos lugares próximos, não porém para fazer coisas más, mas antes para fazer coisas boas, como visitar os lugares santos, ou levar ajuda e conselho aos que sofrem. É deste modo que convém ao cristão venerar o dia dominical.

Com efeito, é feio e mau proceder como os pagãos que, ignorando a fé cristã e reverenciando os ídolos do demónio, guardam o dia de Júpiter ou de qualquer outro demónio, abstendo-se de trabalhar, apesar de ser certo que os demónios nem criaram nem possuem nenhum dia. E nós, que adoramos o Deus verdadeiro, e acreditamos que o Filho de Deus ressuscitou dos mortos, não veneramos o dia da Sua ressurreição, isto é, o domingo?» (c. Barlou. DCR, 15.1-23).

Pois o que, no séc. VI, S. Martinho de Dume levou a cabo no meio português, foi o que tinha feito o autor bíblico, no seu tempo e no seu meio, com a diferença de que, norteado pela fé javista, consagrara o sábado ao Deus vivo, enquanto os cristãos consagravam o domingo, dia da ressurreição de Cristo.

A palavra Domingo, com efeito, vem do latim «dominus», significando «dia do Senhor».

Assim, enquanto os pagãos dedicavam cada dia da semana a uma divindade astral, os hebreus primeiro, e os cristãos depois, consagraram cada um desses dias respetivamente Javé e a Cristo. (Alcindo Costa – in “Génesis» – Lendas e mitos da Criação) 1

Provérbio popular

No tempo em que o dia de receber o salário era no último da semana de trabalho, isto é, ao Sábado, dizia-se:

Sábado cobrança,

Domingo  lambança,

Segunda fartura,

Terça ainda dura,

Quarta pouco farta,

Quinta faminta

Sexta esperança.

(Provérbio popular) 2

Retirado de 1 Almanaque de Santo António – 1994 | 2 Almanaque de Santo António – 1994