Saudade… uma breve reflexão!

A Saudade

Esta palavra Saudade…
Aquele que a inventou,
A primeira vez que a disse
Com certeza que chorou
.”

É muito mais do que um simples lugar comum dizer que a “Saudade” é a principal e marcante característica da sensibilidade portuguesa, havendo mesmo quem defenda que ela é um sentimento genuinamente português.

Basta folhearmos, ao acaso, as inúmeras obras dos nossos escritores (poetas, prosadores, filósofos, etc.) para podermos verificar o quanto este sentimento eminentemente poético está intimamente ligado ao “ser Português“, e encontra funda ressonância no coração dos artistas.

Desde D. Sancho I, com a sua Cantiga de Amigo,

Ai eu, coitada – como vivo
em gran cuidado – por meu amigo
que el alongado – muito me farda
o meu amigo – na Guarda!

Ai eu, coitada! – como vivo
em gran desejo – por meu amigo
que tarda, e non vejo! – muito me tarda
o meu amigo – na Guarda
!”

“Saudade” (1899) de Almeida Júnior

até Fernando Pessoa – sem esquecermos Teixeira de Pascoaes ou Leonardo Coimbra – a Saudade tem ocupado um lugar ímpar na Literatura Portuguesa, nos escritores nos nossos pensadores e nos versos dos “poetas populares”:

“Saudade, onde tu fores,
Leva-me, podendo ser,
Que eu quero ir acabar
Onde tu fores morrer.

A Saudade é um luto,
Um amor, uma paixão;
É um cortinado roxo
Que me cobre o coração

A ausência tem uma filha
Que se chama Saudade,
Eu sustento mãe e filha
Bem contra a minha vontade.”

Sem grandes dificuldades, poderemos verificar que de D. Duarte a Leonardo Coimbra, a Saudade tem sido objeto de reflexão filosófica, de tal modo que “um dos espíritos mais lúcidos do século XVII, D. Francisco Manuel de Melo, dedicou-lhe, na “Epanáfora Amorosa” páginas de subtil e antecipada fenomenologia (..)”

Mais recentemente, Almeida Garrett principiou o seu poema Camões com a invocação ao nume nacional da Saudade.

Camilo Castelo Branco escreveu um capítulo sobre Saudade de cousas leves e pesadas, e D. Carolina Michaelis chegou mesmo a afirmar que “A Saudade e o morrer de amor (outra face do mesmo prisma de terna afetividade e da mesma resignação apaixonada) são realmente as sensações que vibram nas melhores obras da literatura portuguesa, naquelas que lhe dão nome e renome.

José Pinto
(texto publicado n’O ARRAIS – 1997.05.01)