A caça no Portugal dos séculos XV-XVI
A caça em Portugal nos finais da Idade Média
A actividade venatória de finais da Idade Média não difere da dos inícios da Época Moderna, abarcando os reinados de D. João I (1385-1433), de D. Duarte (1433-1438), de D. Afonso V (1438-1482), de D. João II (1482-1495) e de D. Manuel I (1495-1521), entre outros monarcas.
Antes de mais, é fundamental termos em consideração que na História da Humanidade, em geral, e na de Portugal, em particular, nunca há um corte abrupto entre as épocas através das quais os historiadores se guiam para melhor compreender a forma como intelectual e fisicamente o Ser Humano vivia no Passado.
Por este meio, não é de modo algum conjectura afirmar que também no que respeita à caça, a transição da Medievalidade para a Modernidade não conheceu alterações abruptas e desconectadas entre si.
Deste modo, de acordo com António de Oliveira Marques, na Nova História de Portugal, no período medievo português existiam dois tipos fundamentais de caça, ou seja,
– a caça de volataria, realizada com aves de rapina, nomeadamente, com açores e falcões,
– e a caça de montaria, com cavalos e cães, aos animais de maior porte.
A historiadora Maria Helena da Cruz Coelho, mais minuciosa no que respeita à caça no Portugal medievo, aponta para a existência das seguintes tipologias relacionadas com a actividade venatória:
– Caça defensiva;
– Caça ofensiva;
– Caça lucrativa;
– Caça desportiva;
– Caça de volataria;
– Caça de montaria.
Tipos de caça
A caça de volataria e a caça de montaria, como vimos no parágrafo anterior, reportava-se ao uso de aves de rapina e ao uso de cavalos e cães, respectivamente.
Tanto um como o outro tipo de caça estão historicamente documentados em textos medievais, iluminuras, gravuras e, como veremos, em túmulos de indivíduos pertencentes aos estratos mais elevados da sociedade portuguesa de então.
A caça defensiva, essencialmente praticada pelos estratos populares, tinha como função o combate a determinados animais bravios, considerados como perigosos não apenas em relação aos animais domésticos, por exemplo, de capoeira, mas também no que diz respeito às culturas.
Entre os animais selvagens contam-se o lobo, Canis lupus, a raposa, Vulpes vulpes e até os javalis, Sus acrofa. (…)
A caça ofensiva, por outro lado, tinha como objectivo fundamental contribuir para uma melhor dieta alimentar de populações que na época em estudo não tinham uma alimentação muito variada, abundante e com as vitaminas e outras substâncias necessárias ao correcto e racional funcionamento do organismo.
Muitos indivíduos passavam, à época, a mais terrível fome.
A caça lucrativa, por sua vez, realizava-se por indivíduos viviam, no seu essencial, da actividade venatória, quer que através da venda da carne dos animais capturados, quer ainda do comércio das peles.
Saul António Gomes atribui-lhe o nome de caça económica, sendo praticada pelos estratos mais baixos da sociedade. Este tipo de caça, considerada desprestigiante e imprópria para os nobres, realizava-se, por exemplo, sobre os coelhos.
Por fim, a caça desportiva era levada a cabo, fundamentalmente, pelas designadas elites nobiliárquicas, estratos laicos da população, e até pelos próprios monarcas. Destinava-se, portanto, ao lazer e ao divertimento. (…)
Este tipo de caça, para além de ser uma forma de divertimento, incluía, de igual modo, uma maneira de preparar os bellatores para a guerra.

