A Procissão do Senhor dos Passos da Graça
A Procissão do Senhor dos Passos da Graça, em Sexta-feira, 20 de fevereiro de 1904.
Essa bela imagem do Senhor dos Passos, que sai em procissão da igreja da Graça para São Roque e desta volta para a Graça, tem uma lenda e uma história.
A lenda já a publicámos num passado número da Illustração; a história é singela e tocante.
No tempo de D. Sebastião, quando havia muita fé e muitos heroísmos, Luiz Álvares de Andrade, pintor, costumava reunir-se com alguns amigos no claustro de S. Roque, entregando-se a grandes devoções.
Deliberaram então fundar uma confraria e comunicaram o seu projeto aos padres Jesuítas, que, mais preocupados com a governação do que com a fé, recusaram aceitar a proposta.
Dirigiram-se então os rapazes aos padres Gracianos (*), que lhes deram para sede da confraria uma capela no seu convento.
Luiz Álvares comprou por três cruzados uma má escultura da cabeça de Cristo e ofereceu-a aos padres, depois de a ter ofertado aos Jesuítas.
Fez-se então a imagem, começou a devoção, e a Companhia de Jesus entrou em litígio com os Gracianos, baseando-se na prioridade de direitos, visto a imagem lhe ter pertencido.
Isto foi no ano de 1577, e logo no seguinte se fez a procissão, como ainda hoje se usa, isto é, vindo o Senhor dos Passos ficar a noite a São Roque, e sendo conduzida no dia seguinte para a Graça, onde se venera todo o ano.
A confraria tem grande número de devotos e a ela pertencem membros de algumas famílias da nobreza, que assim seguem a tradição dos seus maiores.
Fonte: “Illustração Portuguesa”, nº 18 – 1904 (texto editado)
Nota:
(*) Eremitas de Santo Agostinho, também chamados Gracianos, por terem sede no Convento da Graça, no monte de S. Gens (Lisboa).
Unificada entre 1244-1256, a Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho sucedia a experiências eremíticas inspiradas em Santo Agostinho e muito possivelmente também tentadas entre nós.