Belmonte: terra dos Cabrais e de Judeus

Belmonte

A história de Belmonte está associada normalmente aos Cabrais e aos Judeus.

Foi terra natal de Pedro Alvares Cabral, o navegador, que em 1500 descobriu oficialmente o Brasil.

O topónimo de Belmonte provém, segundo algumas opiniões, da tradição militar dos povos que aqui habitaram, especialmente na época da resistência lusitana aos romanos.

Assim, Belmonte deriva da palavra latina Belli-monte, que significa montes da guerra. Ou da beleza do monte visto de longe.

Belmonte, a lealdade dos Cabrais e a prensa

A fidelidade dos Cabrais foi sempre elogiada. E como prova, diz-se que em tempos remotos o castelo de Belmonte foi cercado por inimigos não especificados.

O alcaide, um Cabral, resistiu com todo o povo, assegurando a defesa do castelo.

As gentes de Belmonte, cansadas da resistência, afrouxaram um pouco a vigília. A filha do alcaide, entretanto, alheada da situação, foi raptada, enquanto brincava fora do castelo.

O rapto serviu para moeda de troca: a vida da filha ou o castelo, foi a proposta dos raptores.

O alcaide, apesar do amor à filha, não cedeu: preferiu ser fiel e tentou dissuadir o inimigo, dizendo que a luta e a honra nada valiam face à covardia.

Mas, perante a determinação do alcaide, os inimigos sacrificaram a menina de forma atroz numa prensa idêntica á que hoje figura esculpida no pelourinho e no brasão de Belmonte.

Segundo interpretações dos historiadores, este símbolo não terá sido adoptado por razões de qualquer sacrifício, segundo a lenda, mas como referência ao rigor e fidelidade com que se aplicava a justiça nas terras de Belmonte.

Os Judeus marranos

A tomada de Jerusalém e destruição do Templo no ano 70 pelo exército romano comandado por Tito marcou um novo movimento de diáspora dos judeus, em que a Hispânia aparece como um dos destinos.

Na Idade Média os judeus tiveram um papel económico e cultural extremamente importante: os reis portugueses rodearam-se de banqueiros e médicos judeus em quem depunham total confiança.

Foi muito contra a sua vontade que D. Manuel I, para casar com D. Isabel, filha dos Reis Católicos de Espanha, foi obrigado a expulsar os judeus em 1497, o que resultou num verdadeiro desastre para a economia do país.

Muitos judeus emigraram (os sefarditas, designação oriunda de uma palavra hebraica que designa península ibérica) e muitos outros converteram-se ao cristianismo.

A maior parte dos cristãos novos, ainda que tenham escolhido nomes como Cruz, Trindade, Santos, continuaram a praticar em segredo a religião hebraica (cripto-judaísmo).

Chamaram-lhes marranos (mahrán quer dizer proibido em árabe).

Os judeus eram muito numerosos em Belmonte, Faro, Porto, Tomar, Amarante, Castelo de Vide.

No caso concreto de Belmonte, a presença dos judeus está documentada pela referência à sisa judenga e por uma lápide com a inscrição em hebraico, datada de 1297, e encontrada numa capela:

E ADONAI (DEUS) ESTÁ NO SEU TEMPLO SAGRADO,
EMUDECE PERANTE ELE TODA A TERRA.

Na realidade, judeus e cristãos-novos viveram em Belmonte, ocultando a sua verdadeira fé, praticando actos e ritos católicos por medo, mantendo paralelamente em segredo as tradições e costumes judaicos.

Os judeus de Belmonte detinham uma “religião de patriarcas mantida por mulheres“, segundo os historiadores, pois foram estas, ao longo dos séculos, o verdadeiro repositório de todas as orações, calendário, ritos e festas.

Fonte: Almanaque de Santo António – 2008 | Imagem