Feira dos Pucarinhos Negros – 28 e 29 de Junho

Feira dos Pucarinhos Negros

Tapeçaria negra
De rendilhados negros
E multiforme …
Festa negra,
Jarros negros,
Mar de negrume!

…   …   …   …   …   …   …
Um sonho aqui… outro ali,
Embiocados
Em cestos negros …
(A miséria ao luar!)
Em volta,
Como aguilhão, d’ironia,
A romaria:
– «Gente bem» … «meninos bem»…
Cartaz d’inúteis passando
No sulco negro da feira…

…   …   …   …   …   …   …

A cidade agita-se
E no ar,
A baloiçar,
Como num circo sem luz,
Os pucarinhos da fome
E a gargalhada escarlate
Do povoléu delirante…
…   …   …   …   …   …   …

Tapeçaria negra,
Labor negro,
Negro e pão …
Rebotalhos de gangrena
Em exposição!
Montureiras d’ansiedade
E d’ilusões
A cinco tostões!

…   …   …   …   …   …   …
E o pucarinho lá vai
Na onda da romaria …
Leva dentro a fantasia
Duma esp’rança em embrião …

…   …   …   …   …   …   …
Ah, pucarinho da vida,
Pucarinho da ilusão!

…   …   …   …   …   …   …
E a feira vai acabando,
Nem foguetes, nem batuque,
Nem já romeiros cantando …
Foram-se os sonhos dormindo
E na esteira dos farrapos
Nem uma manta de trapos …
…   …   …   …   …   …   …
Apenas a negridão
Dos cacos negros no chão! …

Alberto Miranda, Regresso (Vila Real, 1962)

Feira dos Pucarinhos

“Pucarinhos” de Vila Real

Pelo São Pedro, é de costume realizar-se em Vila Real, na província de Trás-os-Montes, uma curiosa «feira», tradicionalmente chamada «feira dos pucarinhos».

Tal feira é uma exposição de trabalhos regionais, não só de olaria, mas também de tecidos de linho; – aparecendo ainda à venda mantas, cobertas de cama, e coisas assim.

Tudo isto proveniente de incansável indústria caseira, que ali, embora rústica, se revela artística na ideação e na execução.

É, porém, de olaria que, embora muito ao de leve, nestas abreviadas notas se falará agora.

Logo pela manhãzinha, na véspera de São Pedro, vão chegando cestos e cestos de louça de barro, pelo ordinário negra, à Rua Central, em frente à capela do nome daquele santo, – que é onde a «feira» se efectua.

Esta louça vem hoje de Bisalhães, povoaçãozita perto de Vila Real, mas dantes o fabrico estendia-se a Lordelo.

Se fores a Bisalhães,
à terra dos paneleiros,
dá por lá uma vista de olhos
à sombra dos castanheiros.

(A.C. Pires de Lima, Cancioneiro Popular de Vila Real, Porto 1928, pág. 208)

(…)
Cláudio Basto, Viana do Castelo, 1923, in Silva Etnográfica, Edições Marânus, Porto, 1939

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