A perdiz vermelha é pequena mas veloz

A Perdiz (Perdiz rubra)

Pela sua abundância, pela excelência da sua deliciosa carne e pela variedade de tiros que permite, a perdiz é a espécie número um, a mais procurada e sem dúvida alguma aquela que a maioria dos caçadores mais gostam de abater.

Sem atingir a estatura da gigantesca abetarda, nem sequer da galinha sua parente muito próxima é, no entanto, bastante maior que a codorniz e sobretudo muitíssimo mais pesada.

É uma ave de voo rápido, e por vezes desconcertante. No entanto, dadas as suas características físicas, facilmente somos levados a verificar que a perdiz foi muito mais feita pata se deslocar a pés do que para voar.

Com efeito a maior parte da vida deste galináceo é feita «a pé», e só em casos de muita necessidade se serve das asas como meio de deslocação ou de defesa. Há mesmo determinadas alturas da sua vida em que o voar se lhe toma quase que interdito de tão pesada que está.

Quando caminha a perdiz fá-lo rapidamente, com notável elegância. O corpo levemente inclinado para diante facilita-lhe a marcha tornando-a, aos olhos de qualquer caçador relativamente experimentado, mais do que inconfundível.

O seu corpo é revestido de penas· de várias cores matizadas em que predominam as castanhas desde o acre ao avermelhado as cinzentas e as esbranquiçadas e em que o negro põe uniformidades que lhe dão à máscara e ao todo um ar de forte personalidade.

O bico e patas igualmente vermelhas completam este conjunto topiando-a num animalzinho deveras atrativo.

Existe em quase todo o país

Duma maneira geral a perdiz encontra-se mais ou menos espalhada por todo o território continental, se bem que a sua densidade varie bastante de umas zonas para outras.

Esta densidade de distribuição tem como base fundamentais, não só a necessidade de se estabelecer perto de terrenos aonde tenha alimento com que criar os filhos, pelo que procura geralmente as proximidades das zonas cultivadas, mas também as dificuldades que essas zonas oferecem como terrenos de caça do que resulta ser sempre mais abundante onde quer que melhor se defende.

É esta necessidade de se defender contra os seus perseguidores, quer humanos quer irracionais, que determina a fixação em zonas pedregosas semeadas de pequenos arbustos, onde as urzes e os matos ásperos predominam.

Monogâmicas, vivem em bandos

Normalmente as perdizes vivem em bandos que só se desfazem em meados do inverno, dando início à época dos acasalamentos que principia em fins de Fevereiro e que por vezes se estende até Abril.

Os machos, em maior número que as fêmeas, disputam-nas entre si, o que como em todos os casos idênticos, quer se trate de homens quer de bichos, dá sempre lugar a tremendas zaragatas em que geralmente os mais fortes sendo os vencedores, dão continuidade ao princípio da seleção natural das espécies.

Desta disparidade de números entre os dois sexos resulta uma louvável monogamia.

O ninho da perdiz é como o da codorniz um desleixo pegado. Um pouco de palha ou de erva colocada sem grandes preocupações nas vinhas ou nos restolhos e é quanto lhe basta.

A fêmea põe dez a dezoito ovos cinzento-amarelados e pintalgados de castanho de onde, após uma incubação de vinte e quatro dias, nascem os engraçados perdigotos.

A perdiz é uma mãe exemplar

Como a maior parte das mães, a perdiz é um notável exemplo de devoção e de sacrifício pela prole, tudo fazendo para a manter incólume e a coberto dos constantes ataques que as aves de rapina, os animais daninhos e a espécie àparte de feras conhecidas por «caçadores furtivos» contra eles desencadeiam.

Um extraordinário sangue frio, aliado a uma excecional perceção dos perigos, são as mais maravilhosas das armas com que a natureza dotou a mãe perdiz, cuja assombrosa coragem lhe deviam granjear a admiração de quantos a conhecem.

Quantos e quantos casos, nos têm sido relatados de perdizes chamando sobre si a atenção dos inimigos para que as suas proles logrem escapar.

De perdizes heroicas e decididas enfrentando os próprios cães de asas abertas e bico em riste lançando-se resolutamente ao ataque e conseguindo por vezes amedrontar os adversários pondo-os em fuga.

De perdizes cobrindo a ninhada com as asas contra as investidas dos alados rapaces, e defendendo-a à bicada até ao limite das suas forças.

De perdizes que, depois de chamarem sobre si a atenção dos inimigos, os atacam à bicada para de seguida se escaparem em curtos voos aumentando cada vez mais a distância que os separa das tenras presas que cobiçam.

Heroico e admirável animalzinho que tão belo exemplo nos dás.

A caça à perdiz: de salto ou de batida

A caça à perdiz pode ser feita de salto com a ajuda de cães de parar, sem dúvida a mais bela, e de batida.

A caça de salto é aquela que melhor põe à prova as qualidades do caçador.

Para se matarem perdizes de salto, torna-se necessário ter boas pernas, muito fôlego e um razoável conhecimento de distâncias e da influência dos ventos.

É por ela que se começa e é a ela que se dedicam apaixonadamente os verdadeiros caçadores até que a falta de pernas ou de fôlego os obrigue a procurar o cómodo sucedâneo das caçadas de batida, em que pouco mais têm a fazer do que saber atirar.

Na caça de salto à perdiz, os cães de parar são postos rapidamente à prova, e o espetáculo dos fiéis companheiros «trabalhando» a caça é sem dúvida a mais uma fortíssima razão para lhes darmos a nossa incondicional preferência ,sejam quais forem os resultados, sejam quais forem os números com que se enfeitem os «matadores» e as vedetas das batidas.

Fonte: “Almanaque” – Outubro de 1959, pág.48 e 49 (texto editado e adaptado) | Imagem

Fique a conhecer alguns provérbios e adágios sobre a caça e animais.