Rio Tejo: a Alma de Portugal
O rio Tejo nasce na serra de Albarracín, em Espanha, a cerca de 1600 m de altitude, e percorre 1100 km até ao Atlântico, dos quais 275 km atravessam solo português, o que o torna no mais extenso rio da Península Ibérica. Desagua em Lisboa
A sua vasta bacia, com cerca de 80 600 km’, dos quais 24 500 km² em Portugal, estende-se por regiões de clima e relevo muito contrastados, que se traduzem numa forte irregularidade do escoamento (cuja média anual é de 14 biliões de metros cúbicos).
O seu regime foi modificado pela construção de mais de uma centena de barragens, cuja capacidade de armazenamento, em Portugal, é superior a 2500 milhões de metros cúbicos.
Dos numerosos afluentes destacam-se, em Portugal:
– rio Zêzere, no qual se construíram várias barragens, nomeadamente a de Castelo de Bode, que, com uma capacidade de armazenamento de 900 milhões de metros cúbicos, constitui a maior albufeira de Portugal;
– o rio Sorraia, onde as barragens de Montargil e do Maranhão permitiram a criação de grandes regadios numa região sedenta de água.
No sector terminal foi constituída, em 1976, a Reserva Natural do Estuário do Tejo, que alberga grandes colónias de aves migratórias.
Refira-se também a Reserva Natural do Paul de Boquilobo, na foz do rio Almonda, afluente do Tejo, considerada uma das zonas húmidas mais importantes do Mundo (classificada pela UNESCO). 1
A grande bacia no estuário do Rio Tejo, próximo da sua foz, e que no seu ponto mais largo atinge os 23 km de largura, é conhecida como o Mar da Palha.
Este rio é vital para várias regiões que atravessa, tanto do ponto de vista ambiental quanto económico e cultural.
Importância económica e social
O Tejo é crucial para a irrigação agrícola, abastecimento de água potável e produção de energia hidroelétrica, através de barragens como a de Castelo de Bode.
As suas águas são utilizadas para a irrigação de vastas áreas agrícolas, particularmente no Ribatejo, uma das mais importantes regiões agrícolas do país.
Além disso, o Tejo tem um papel essencial na navegação e no transporte fluvial, especialmente no estuário, facilitando o comércio e a mobilidade.

Importância cultural e histórica
Culturalmente, o Tejo é um símbolo poderoso para os portugueses. Lisboa, a capital, desenvolveu-se e floresceu na margem direita do seu estuário.
O rio tem sido fonte de inspiração para poetas, músicos e artistas ao longo dos séculos. O Tejo está presente na obra de escritores como Fernando Pessoa e José Saramago. Ele é celebrado em várias canções do Fado, o estilo musical exclusivamente português.
Ecologia e biodiversidade
O rio Tejo alberga uma diversidade de espécies de peixes, incluindo a lampreia, o sável, a enguia e várias espécies de barbos e bogas.

A biodiversidade do Tejo é uma parte vital do ecossistema regional, suportando também uma variedade de aves aquáticas e outros animais selvagens nas suas margens e zonas húmidas associadas.
Para ler: Os principais rios de Portugal – o que importa saber!
Curiosidades sobre o Rio Tejo
Ponte Vasco da Gama:
Esta é a ponte mais longa da Europa, com 17,2 km de extensão, e atravessa o Tejo no seu estuário. Foi inaugurada em 1998 para aliviar o tráfego na Ponte 25 de Abril.
Estuário do Tejo: O estuário do Tejo é uma das mais importantes zonas húmidas da Europa, sendo uma área de grande valor ecológico, especialmente para aves migratórias. A bacia hidrográfica deste rio é a 3ª maior da Península Ibérica.
Torre de Belém: Este icónico monumento de Lisboa está situado na margem norte do Tejo. Construída no século XVI, é um símbolo do papel de Portugal no tempo dos Descobrimentos.

Mouchão da Póvoa: É uma pequena ilha no Tejo, que se forma com a maré baixa, e tem grande importância histórica e ecológica.
Desafios ambientais
O Rio Tejo enfrenta vários desafios ambientais, incluindo a poluição industrial e agrícola, a sobre-exploração dos recursos hídricos e as alterações climáticas, que afetam o seu regime de caudais. Esforços de conservação e gestão sustentável são essenciais para preservar a saúde ecológica do rio.
Outras informações 2
Durante cerca de 50 km, o Tejo estabelece a fronteira entre Portugal e Espanha. Isso acontece entre a confluência com o rio Erges (a sul das Termas de Monfortinho) e a barragem espanhola de Cedillo.
As Portas de Ródão, situadas alguns quilómetros a jusante, marcavam antigamente o limite da navegabilidade do Tejo. Resultam do atravessamento da serra das Talhadas pelo rio. Esta serra sempre funcionou como barreira natural.

Conta-se que durante a I Invasão Francesa, em 1807, um dos oficiais de Junot, ao atravessar os desfiladeiros da serra comentou: «Que teria sido de nós se mil homens decididos nos tivessem esperado naquela formidável posição?».
Uma lenda…
Associada a Ródão está a lenda da mulher de Vamba, rei visigodo. Seduzida pelo rei mouro (namoravam nas Portas de Ródão, cada um sentado em sua margem), fugiu com este.
Capturada pelos cristãos, foi condenada a ser atirada ao Tejo atada a uma mó. Assim se fez e por onde a mó passou a erva não voltou a crescer. Na hora da morte a rainha amaldiçoou assim Ródão: «Nesta terra não haverá cavalos de regalo, nem padres se ordenarão e putas não faltarão».
A jusante de Ródão, foram construídas duas barragens, o Fratel (1974) e Belver.
Para jusante de Abrantes o leito torna-se arenoso e assim se manterá até Vila Franca.
Junto a Tancos, o curioso Castelo de Almourol, numa ilhota meio do Tejo.
Da Chamusca a Vila Franca é o reino dos avieiros, pescadores vindos de Vieira de Leiria para o Tejo e que aqui formaram comunidades com forte personalidade de que ainda hoje há marcas importantes.
Alves Redol imortalizou-os quando, há cinquenta anos, escreveu «Avieiros». Uma das aldeias mais interessantes é a Palhota perto da Azambuja.

A paisagem, em tons verdes, escorre água, e o rio, liso como um espelho, retrata o céu e as árvores. Os salgueiros parecem nascer das águas. Os pescadores, apesar de integrados nas paisagens, marcam a diferença com o homem da terra. «São gente de outro pano», dizem.
Mais perto da foz, a Reserva Natural do Estuário do Tejo, formando um triângulo cujos vértices são os mouchões fronteiros a Alhandra e a Bobadela na margem direita, e Alcochete na margem esquerda.
É local de passagem de aves migratórias como os flamingos.
Um dos poucos acessos terrestres faz-se a partir da Recta do Cabo (já perto do Porto Alto).
O rio Tejo sempre foi fonte de inspiração
O rio Tejo é uma fonte de inspiração para muitos escritores portugueses, e várias citações literárias destacam a sua importância cultural, histórica e emocional.
Aqui estão algumas afirmações de autores portugueses sobre o rio Tejo:
Fernando Pessoa
“O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.”
Esta citação, retirada do poema “O Guardador de Rebanhos” de Alberto Caeiro, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, reflete a beleza do Tejo enquanto realça a beleza subjetiva de qualquer rio que tenha um significado pessoal.
Luís de Camões
“Onde nas belas margens do famoso
Tejo meus anos vi florescer.”
N’ “Os Lusíadas”, Luís de Camões exalta o Tejo, não só pela sua beleza natural, mas também pela sua importância na história de Portugal e na vida do próprio poeta.
Também noutra passagem d’ “Os Lusíadas”, Camões invoca as Tágides, as ninfas do rio Tejo, pedindo-lhes inspiração para cantar os feitos gloriosos dos portugueses.
“E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Porque de vossas águas Febo ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene.”
José Saramago
“O Tejo atravessa a cidade como um cordão de prata e azul, um rio que sempre correu para baixo, que desde a nascente até a foz foi enchendo de civilizações, de pessoas, de histórias e de lendas.”
Saramago, Prémio Nobel da Literatura, capturou a essência do Tejo como um rio que não só atravessa fisicamente Lisboa, mas também a sua história e cultura. Ele descreve o Tejo como um testemunho histórico e cultural, um rio que se entrelaça com a vida e a história de Lisboa e de Portugal.
Estas citações sublinham o impacto do Tejo na literatura portuguesa, destacando a sua beleza natural e o seu papel crucial na identidade nacional.
Estas passagens mostram como o rio Tejo tem sido uma fonte de inspiração constante para a literatura portuguesa, refletindo a sua importância não apenas geográfica, mas também cultural e emocional.
Explorando o Rio Tejo: uma jornada pela história e beleza natural
Lisboa: onde o Tejo encontra o Atlântico
Lisboa, a vibrante capital de Portugal, é talvez o ponto mais emblemático do rio Tejo. Aqui, o rio se alarga majestosamente antes de encontrar o Atlântico, criando um cenário espetacular que pode ser apreciado de vários pontos da cidade.
A icónica Torre de Belém, um Património Mundial da UNESCO, é uma das muitas atrações situadas às margens do Tejo. Construída no século XVI, esta torre histórica é um testemunho dos tempos dos Descobrimentos Portugueses.
Outro ponto de interesse é o Padrão dos Descobrimentos, um monumento que celebra os exploradores portugueses.
Uma visita ao Mosteiro dos Jerónimos, com a sua impressionante arquitetura manuelina, também é imperdível.
E, claro, nenhum passeio estaria completo sem um cruzeiro ao longo do Tejo, oferecendo vistas deslumbrantes da cidade e da Ponte 25 de Abril.
Santarém: o miradouro do Tejo
A cidade de Santarém, situada numa colina com vista para o rio Tejo, é conhecida como o “Miradouro do Tejo“.
Com uma história que remonta aos tempos romanos, Santarém oferece uma rica tapeçaria de igrejas góticas, praças pitorescas e ruas encantadoras.
O Jardim das Portas do Sol proporciona vistas panorâmicas do rio e das planícies férteis que o rodeiam.
Natureza e aventura
O Tejo também é um destino popular para os amantes da natureza e das atividades ao ar livre.
No Parque Natural do Tejo Internacional, que se estende ao longo da fronteira luso-espanhola, os visitantes podem explorar uma biodiversidade incrível, incluindo aves de rapina, cervos e lontras.
Este parque é ideal para caminhadas, observação de aves e canoagem.
Gastronomia ribeirinha
Explorar o Tejo não seria completo sem saborear a gastronomia local.
Ao longo das suas margens, encontrará uma variedade de restaurantes que servem pratos tradicionais portugueses, muitos dos quais apresentam peixes e mariscos frescos.
Em Lisboa, experimente o famoso bacalhau à Brás ou o arroz de marisco, enquanto aprecia a vista para o rio.
Festivais e cultura
Ao longo do ano, várias cidades e vilas ao longo do Tejo celebram festivais que destacam a rica herança cultural da região.
Em Lisboa, as Festas de Lisboa em junho incluem marchas populares, música ao vivo e fogos-de-artifício, todos celebrando o Santo António.
Santarém é conhecida pela sua Feira Nacional de Agricultura, que destaca os produtos locais e a cultura rural.
O rio Tejo não é apenas um curso de água; é uma veia pulsante que liga várias regiões e culturas de Portugal.
Seja pela sua história, pela beleza natural ou pela vibrante vida urbana, o Tejo oferece uma experiência turística rica e inesquecível.
Indicações úteis
Nascente
– Serra de Albarracin (Espanha)
Foz – Oeiras
Extensão – 875 km (225 km em Portugal)
Bacia Hidrográfica – 80150 km² (24400 km² em Portugal)
Afluentes – Erges, Ponsul, Ocreza, Zêzere, Alviela (margem direita) e Sever, Sorraia (margem esquerda)
Caudal – 315 m²/s (na foz)
Declive – 0,045%
Conclusão
O Tejo é mais do que um rio; é uma parte integral da identidade de Portugal.
A sua importância para a agricultura, energia, transporte, cultura e biodiversidade torna-o vital para a vida e a sustentabilidade do país.
Preservar o Tejo é essencial para garantir que continue a ser uma fonte de riqueza e inspiração para as futuras gerações.
Fonte: 1 “Dicionário Ilustrado do Conhecimento Essencial” (texto editado e adaptado) | 2 Guia “O melhor de Portugal” |