A lebre – o gato dos ricos! Curiosidades…
A lisura vai estando tão afastada do convívio dos humanos que, quando para este mês de Março, procurámos um animal e escolhemos a lebre, reparámos com tristeza que só nos ocorriam histórias de gatos.
Foi, pois, necessário fazer um esforço sobre a nossa imaginação transviada para, após demorada consulta bibliográfica, reunirmos para os nossos leitores este pequeno grupo de episódios, ocorridos – podemos afiançá-lo – com verdadeiras lebres.
A lebre que causou a tomada de Roma
Arnoldo, filho natural de Carlos Magno, disputara em 888 o império a Gui, duque de Spoletti, que já conseguira conquistar Roma.
Arnoldo, depois de várias batalhas, chegou diante da capital romana e preparava-se para lhe fazer cerco, quando uma lebre, assustada, atravessou o acampamento em direcção à cidade.
Alguns soldados perseguiram-na gritando; os sitiados supuseram que era o sinal do assalto.
Como os seus preparativos de defesa não estavam ainda prontos, o medo apossou-se deles e abandonaram as muralhas.
Arnoldo apercebeu-se do facto, aproveitou-o ordenando o assalto, conquistou Roma e fez-se coroar imperador.
A lebre que pôs fiz à guerra entre os Citas e os Persas
Quando Dario se preparava para atacar os Citas, uma lebre pôs-se a correr à frente da falange destes últimos, que, imediatamente, começaram a perseguir o animal.
Vendo isto, Dario disse: «Devemos fugir dos Citas pois estes desprezam tanto os persas que se divertem, na sua presença, a correr atrás de uma lebre».
Mandou tocar a retirada e abandonou a batalha.
A lebre corajosa
Por volta de 1835, havia em Paris, no Boulevard du Temple, uma lebre adestrada em diversos exercícios, como pôr-se em pé, dar a pata, fazer vénias e, o que é mais extraordinário, em dar tiros de pistola.
A detonação não parecia provocar-lhe o mínimo susto; permanecia direita, com a mão no gatilho, ante o assombro de quem assistia à demonstração.
Estranhas lebres
O príncipe palatino João Casimiro tinha uma lebre com três orelhas. Tinha sido apanhada durante uma caçada.
O duque de Vitry capturou também uma lebre que tinha cornos na cabeça e ofereceu-a a Jaime I, rei de Inglaterra.
Salomão Reisfüres refere uma lebre monstruosa com dois corpos, oito patas e quatro orelhas, encontrada em 1621, perto de Ulm, no jardim de Erasmus Goutschens.
O que havia de mais maravilhoso neste animal é que, quando metade do seu corpo estava fatigada, se virava sobre a outra de modo que corria com forças sempre novas.
«Os Cavaleiros da lebre»
As tropas de Eduardo III e de Filipe de Valois que se encontravam a 23 de Outubro de 1339 em Bensenlouse, não chegaram a travar batalha devido aos gritos que provocou a presença de uma lebre expirando entre as forças francesas aonde viera procurar refúgio.
O cronista francês Froissart escreveu, a propósito:
«Uma lebre moribunda veio correndo entre os dois campos e lançou-se no meio dos franceses e os que a viram começaram em grandes gritos e algazarra; pelo que aqueles que estavam atrás os julgaram combatendo, e os que se encontravam em suas posições tomaram os elmos e os escudos.
Foram feitos no local muitos novos cavaleiros, especialmente o conde Hainant fez catorze, que denominou os «Cavaleiros da lebre».
Fonte: “Almanaque“, Março de 1960 | Imagem