A epopeia do pão ou dos cereais e a humanidade!
O aparecimento do pão
“Comerás o pão com o suor do teu rosto” (Gn 3, 19), sentenciou O Criador a Adão, quando ele não resistiu ao fruto da árvore do Éden.
Antes de descobrirem as técnicas da farinação, os homens comiam os cereais em grão.
Diz H. Ed. Jacob que
“a epopeia dos cereais dura há quase 15 mil anos, lado a lado com essa outra epopeia da mão do homem.
O homem transformou os cereais selvagens em autênticos animais domésticos. Na verdade, os cereais seguem-no para todo o lado, porque precisam de excrementos, dos dejectos da economia humana e dos animais que lhes são associados, pois precisam de fosfatos e de azoto.
Os cereais domésticos morreriam amanhã, se o homem desaparecesse. Dependem dos cuidados do dono, mais ainda que os cães.
Uma vez que o vento já não pode disseminar-lhes as sementes, a partir do momento em que passaram a estar fortemente presas à espiga, a reprodução dos cereais só é possível por meio de sementeira artificial.”
A epopeia dos cereais, ou seja, a história do pão, é, assim, paralela ao percurso da Humanidade.
O pão semeia-se, sega-se, colhe-se, debulha-se, mói-se, amassa-se, molda-se, forneia-se e, só então, o podemos comer.
O “pão nosso” de cada dia
Através da cultura judaico-cristã e da cultura greco-romana conhecemos o contributo dos judeus, gregos, romanos e cristãos no aperfeiçoamento das técnicas da panificação.
Sabemos que em Roma, onde a profissão de padeiro tinha um peso social muito grande, a primeira escola para padeiros foi fundada 500 anos antes de Cristo.
Os judeus têm o pão ázimo, ou seja, não levedado, como símbolo de um dos momentos decisivos enquanto povo, que foi a fuga do Egipto em direcção à Terra Prometida.
Para a viagem, convinha que este alimento durasse o mais tempo possível sem se deteriorar: o pão ázimo correspondia a essa exigência.
A religião cristã fez do pão o elemento por excelência, juntamente com o vinho, da celebração mais marcante, a Eucaristia.
Na única oração ensinada por Jesus Cristo pede-se “Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia” (Mt 6, 11).
Há muitos outros episódios bíblicos em que este alimento surge em primeiro plano. O da multiplicação do pão e dos peixes (Jo 6, 1), por exemplo.
No nosso imaginário português avulta o da transformação do pão em rosas por Rainha Santa Isabel, mulher de D. Dinis. (1)
O Pão
Já dizem que o pão engorda
E apelam p’ra não comer
Eu comi tanta açorda
Vou ser magro até morrerQuando era grande a miséria
E outro comer não havia
A fome era coisa séria
Era o pão que nos valiaAgora com a fartura
Tudo se come, sem noção
Há excessos de gordura
E querem culpar o pãoÉ injusto ser grosseiro
Com este alimento nobre
Ele será sempre o primeiro
Na mesa de todo o pobrePode ser grande o desejo
De o ver assim maltratado
Mas aqui, no Alentejo
Ele será sempre… Sagrada!
Eliseu Mestrinho (2)
Fontes: (1) “Almanaque de Santo António” – 2008 (texto editado e adaptado) | (2) Retirado do FB | Imagem

