Romaria de São Bartolomeu do Mar

Romaria de S. Bartolomeu do Mar – Esposende

Nos dias 23 e 24 de Agosto, o lugar de Mar – 5 km a norte de Esposende – enche-se de gente. (…) É a grande romaria em honra de São Bartolomeu.

Relativamente a outras festas com o mesmo patrono, tem uma originalidade que acaba por constituir a sua maior atração: o Banho Santo.

Adultos e sobretudo crianças dos 3 aos 11 anos mergulham ritualmente (ou são mergulhados à força, dando conta da sua oposição com grande choradeira) nas ondas por três vezes consecutivas para «afastar o mal».

O «Banho Santo», às vezes tomado à força, para «afastar o mal».

Que mal é esse? Por um lado, a gaguez ou a epilepsia. Por outro, as doenças de pele.

É que na hagiografia, São Bartolomeu, um dos doze apóstolos, é representado com três atributos:

– o livro (o seu papel como apóstolo),

– a faca e a pele (uma alusão ao seu martírio, pois teria sido esfolado vivo)

– e um demónio acorrentado (os seus poderes como exorcista).

Como afirma João Vasconcelos no livro «Romarias», os ritos «de índole profilática ou terapêutica que rodeiam o seu culto (tanto em Portugal como em Espanha e Itália), destinam-se, ora a estados que são vistos como sintomas de possessão demoníaca, como a gota ou epilepsia, o medo e a gaguez, ora a dermatoses como eczemas, herpes e úlceras».

Ritos de purificação e outras práticas votivas

Tal como em muitos outros ritos de purificação, a água tem um papel central.

Admite-se que noutros tempos mais remotos a cerimónia se resumisse a uma rápida ablução com a água de uma
fonte santa existente perto da antiga igreja (a atual foi construída no início do século XX, entre 1906 e 1914).

Só mais tarde o ato purificador teria evoluído para o banho de mar, um ritual que ainda no século XIX chegou a ter expressão mais a sul, desde a Foz do Douro, a Matosinhos, Leça da Palmeira e Perafita.

Também na zona vicentina do Algarve, como por exemplo em Aljezur, se mantém a tradição do «banho do 24»

Ao banho costumam juntar-se outras práticas votivas para afastar o mal, como a oferta de frangos (também utilizadas noutras artes mágicas) ou o ato de passar por baixo do andor do santo.

Segundo a tradição popular, no dia de São Bartolomeu o diabo anda à solta, daí a razão de ser dos rituais protetores.

O testemunho mais antigo da existência desta festa data de 1566. É um documento que enumera as ofertas feitas a São Bartolomeu como uma das principais fontes de rendimento do vigário da paróquia.

Fonte: In GUIA Expresso “O melhor de Portugal” – 12 – Festas, Feiras, Romarias, Rituais (texto editado e adaptado)