Martim Gonçalves de Macedo, herói de Aljubarrota
Martim Gonçalves de Macedo
Sepultado no Mosteiro da Batalha estão os restos mortais de um dos maiores heróis da batalha de Aljubarrota, decisiva para os destinos da pátria portuguesa.
Esse herói, de nome Martim Gonçalves de Macedo, salvou a vida a el-rei D. João I no decorrer dessa batalha, a 14 de agosto de 1385, matando com o seu maço de guerra o fidalgo espanhol Abranches de Soveral que ia de pronto a tirar a vida a Dom João já meio caído por terra.
Foi essa façanha que tornou possível a sua sepultura no Mosteiro da Batalha, reservado quase exclusivamente para a família real, por intercedência do próprio Rei Dom João I, bem ciente de que lhe devera a vida e por consequência dando uma contribuição importantíssima para a vitória na batalha.
Onde terá nascido Martim Gonçalves de Macedo?
Uma das imagens que ilustram este texto é do brasão dos Macedos num solar de Vilar de Maçada, uma das povoações a que este herói está ligado.
Acontece que não há uma certeza absoluta sobre a naturalidade deste grande herói. Três localidades transmontanas disputam essa naturalidade, Macedo de Cavaleiros, Vinhais e Vilar de Maçada, esta última no concelho de Alijó.
Como não há registos seguros desse «pormenor» importante para o bairrismo das povoações, deixo à consideração dos leitores esta pequena polémica.
Nada que tenha a dimensão da disputa da naturalidade de Fernão de Magalhães entre Sabrosa e Ponte da Barca, mas que não deixa de ser polémica.
É óbvio que fidalgos destes tinham domínios em diversas terras e por casamento também se ligavam a outras povoações do reino.
Filipa de Macedo, bisneta de Martim
Um facto bem registado é que uma bisneta de Martim, de seu nome Filipa de Macedo, casou nos finais do século XV com um fidalgo vilarmaçadense, Manuel Drago, com solares nesta freguesia, um em Cabêda e outro em Vilar de Maçada e essa fidalga foi ascendente, quer da linhagem dos Dragos, quer da linhagem dos Condes de Vimioso por ligação anterior com D. Afonso de Portugal, irmão do Duque de Bragança.
Esta fidalga esteve também ligada aos domínios da Torre de Quintela em Vila Marim, concelho de Vila Real, torre esta e repectivos domínios que foram dos Condes de Vimioso até 1834.
Filipa de Macedo é pois um dos trunfos a favor de Vilar de Maçada e os vilarmaçadenses têm Martim de Macedo como seu herói e até corre nesta minha terra a lenda que o nome «Maçada» tem como origem o maço de guerra do herói.
O que é apenas coincidência, pois o nome da povoação é muito anterior à batalha de Aljubarrota – Já na carta de foral concedida em Lamas de Orelhão a Vilar de Maçada por D. Afonso III em maio de 1253 a povoação é registada com o nome de Valle de Mazada.
Vilar de Maçada
Mas há outro indício da sua ligação a Vilar de Maçada que é o brasão existente num solar desta vila, actualmente sede do Centro Social e Cultural e de um magnífico Lar e Creche de dimensão regional.

Este solar é o solar dos Portocarreros, mas tem como primeira quadra do brasão, a cimeira do lado esquerdo que é nos brasões a linhagem predominante, o emblema da linhagem «MACEDO».
O mais curioso é que o busto esculpido por em cima do brasão tem uma espada na mão mas há um troço de braço e mão esculpido por de baixo do busto com um maço de guerra cuja imagem se anexa. Ou seja, este busto foi colocado no solar pelos descendentes de Martim que em Vilar de Maçada residiram a partir de Dona Filipa de Macedo.
Alguns deles ligados por casamentos a outras linhagens também presentes nesta terra, os Pimentéis, os Pizarros e os Portocarreros como se comprova no referido brasão nas outras três quadras que o compõem.
O solar é conhecido na terra por «Casa do Mouro», uma alusão ao referido busto que, pelo estilo com que foi esculpido, lembra um guerreiro árabe, mas que, como se referiu, apresenta entre a base do busto e o cimo das quadras do brasão, menos visível, um braço e mão de um guerreiro empunhando um maço de guerra, ou seja o registo do que caracterizou a imagem do herói.
Vinhais
Quanto a Vinhais o registo da ligação deste herói a esta vila é seguro e basta transcrever um trecho da «Predatura Lusitana» um livro de linhagens de autoria de Cristóvão de Morais do século XVII que, ao referir-se à linhagem dos Macedos, indica que tinham solar em Vinhais.
Transcrevo um pouco desse texto – «Martim Gonçalves de Macedo, 1º filho de Gonçalo Eanes de Macedo e este se acha nos registos de el-Rei D. Fernando, com 1500 libras, que lhe deu a cada mês de quantia…».
Ou seja, Vinhais foi a povoação de naturalidade de seu pai.
Curiosamente, Vinhais nunca demonstrou muito interesse por esta enorme figura histórica e em meu entender é a localidade com maior probabilidade de ser o berço deste herói.
Macedo de Cavaleiros
Quanto a Macedo de Cavaleiros, também há registos da presença de Martim e das suas «tropas» na zona de Macedo e de todo o território raiano do nordeste bragançano aquando de alguns motins contra os castelhanos, no rescaldo das lutas pela manutenção da independência nessa época da crise de 1383/85.
Além disso o nome «Macedo» constitui outro grande trunfo dos macedenses nesta disputa e são de facto os macedenses os que mais assumem a naturalidade deste herói, havendo imagens iconográficas a ele alusivas em diversos locais da povoação, actualmente com estatuto de cidade.
Há um painel a esta figura dedicado e bem ilustrado no museu da cidade onde se pode ver uma figura mais próxima do que seria a sua verdadeira imagem como guerreiro medieval, figura essa que também se anexa a este texto. Ficando a dúvida de qual seria a naturalidade deste grande herói, uma realidade é certa e de que nos podemos todos orgulhar: foi um grande herói transmontano!
Nota final – a placa identificadora existente no túmulo em Aljubarrota com o seu nome foi alterada recentemente, pois na placa antiga estava o nome Martim Gonçalves de Maçada e actualmente, e bem, está o seu nome correcto, pois «de Maçada» era uma alcunha que ao tempo lhe era atribuída pelo facto de se ter celebrizado com o maço de guerra e a o seu acertivo uso no decorrer da decisiva e histórica batalha de Aljubarrota.
José Alves Ribeiro – crónica inserida no livro «Crónicas da Nossa Freguesia», edição de autor de 2015.

