Nábia: a deusa dá nome aos rios Neiva e Nabão

No princípio era o Caos… entretanto, na ânsia de encontrar uma explicação para os fenómenos da natureza que o rodeiam, o Homem concebeu inúmeras divindades que, além de representar os atributos de tais fenómenos, passaram ainda a revelar emoções e sentimentos próprios dos humanos, uma vez que eram construídos à sua imagem e semelhança.

Entre tais divindades, Nábia foi uma das divindades mais veneradas na faixa ocidental da Península Ibérica ou seja, a área que atualmente corresponde a Portugal e à Galiza, durante o período que antecedeu à ocupação romana.

Na mitologia céltica, Nábia, era a deusa dos rios e da água, tendo em sua honra o seu nome sido atribuído a diversos rios como o Navia, na Galiza, e o Neiva e o Nabão em Portugal.

Inscrições epigráficas como as da Fonte do Ídolo, em Braga e a de Marecos, em Penafiel, atestam-nos a antiga devoção dos nossos ancestrais à deusa Nábia.

 

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Os Romanos e as divindades indígenas

Quando ocuparam a Península Ibérica, à qual deram o nome de Hispânia, os romanos que à época não se haviam convertido ainda ao Cristianismo, adotaram as divindades indígenas e ampliaram o seu panteão, apenas convertendo o nome de Nábia para Nabanus, tal como antes haviam feito com os deuses da antiga Grécia.

Qual reminiscência do período visigótico, a crença pagã em Nábia – ou Nabanus – viria a dar origem na famosa lenda de Santa Iria – ou Santa Irene – cujo corpo, após o seu martírio, ficou depositado nas areias do rio Tejo.

Junto a estas, ergueram-se vários locais de culto, tendo inclusive dado origem a alguns topónimos como a Póvoa de Santa Iria e, com a introdução do Cristianismo, a atribuição do seu nome à antiga Scallabis, a atual cidade de Santarém.

Bem vistas as coisas, são em grande parte do rio Nabão e suas nascentes as águas que, por intermédio do rio Zêzere, o rio Tejo leva ao Oceano Atlântico, junto a Lisboa.

É, pois, nas águas cristalinas do rio Nabão que habita a deusa Nábia e, nas suas margens, que Santa Iria encontrou o eterno repouso.

Carlos Gomes, Jornalista, Licenciado em História | Imagem