Homenagem aos pescadores que não temem o mar!
Homenagem aos pescadores!
Como disse o sábio grego Platão, existem no mundo três espécies de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar.
Essa verdade torna-se particularmente evidente quando, na praia, as mulheres aguardam ansiosas o regresso dos pescadores, trazendo consigo o peixe que há-de ser o seu sustento. Mas, sobretudo, o retorno com vida para junto dos seus.
Não raras as vezes, as horas de espera angustiosa transformam-se em luto, dor e raiva porque o mar lhes roubou o marido, deixando viúvas e órfãos à mercê dos infortúnios da vida.
Face ao perigo que enfrenta e aos receios pelos riscos que corre, o pescador não pode temer o mar e sentir-se dominado pelo medo: ele tem de regressar ao mar.
Caso contrário, aguarda-o a fome, a miséria e o desprezo dos restantes membros da comunidade.
A tarefa não é fácil e alguns, revelando-se incapazes, acabam por afogar uma existência miserável no álcool, refugiando-se nas tabernas, vendo ao longe o bulício do cais e as embarcações zarpar.
Os pescadores vivem com dificuldades
A pescaria pode ser abundante mas, em casa do pescador, a mesa nunca é farta. Quando está mau tempo não podem trabalhar ou perdem redes.
Existem alturas que o peixe que mal chega para custear o combustível do barco.
E, quando apanham bastante peixe, este passa a valer pouco dinheiro… na lota, quais predadores à espera do cardume, os intermediários disputam ávidos pelo melhor preço que lhes vai permitir obter o maior lucro na transação até chegar ao prato do consumidor!
A pesca é uma das atividades mais remotas do Homem representando, desde tempos imemoriais, um dos seus meios de subsistência.
Entre os primitivos cristãos, adquiriu um significado tão especial que o peixe constituiu um dos seus primeiros símbolos. São inúmeras as passagens bíblicas que fazem alusão à pesca e aos pescadores.
De resto, encontravam-se entre os apóstolos de Jesus Cristo alguns pescadores, tendo sido porventura Simão, chamado Pedro, o que ficou mais célebre por lhe ter sido confiada a missão de ser o primeiro a chefiar a Igreja.
A saga dos descobrimentos portugueses
Aos pescadores portugueses se deve em grande parte a histórica grandeza de Portugal, porque foi também com base nos seus conhecimentos e experiência que se planearam e realizaram os Descobrimentos marítimos.
Da barca se fez caravela e das nossas praias se partiu para os quatro cantos do mundo.
Não fora o mar e as suas gentes e jamais Portugal poderia ter permanecido como uma nação livre ao longo de mais de oito séculos de existência.
No seio da comunidade que somos todos nós – os portugueses – constituem os pescadores uma sociedade com o seu próprio modo de vida, a sua característica maneira de ser, os seus usos e costumes.
A sua vida é feita junto à praia perto da qual habitam, observando diariamente o mar à distância sempre que não entra nele para ir pescar.
Em regra, estabelecem entre si os mais estreitos laços de parentesco, estabelecendo uma genealogia que por vezes é representada através de símbolos, dos quais se destacam as famosas siglas poveiras.
De norte a sul do país, entre as diferentes comunidades piscatórias, liga-as uma origem e um passado comum.
A elas não são alheias as medidas empreendidas ao longo de séculos para povoar o litoral e, desse modo, garantir a vigilância costeira e a sobrevivência das populações.
A evolução da atividade piscatória
Foi ainda a preocupação em assegurar o sustento de uma população que, em resultado da revolução industrial, registava um notável crescimento demográfico.
Este facto levou Portugal a virar-se de novo para o mar a partir dos finais do século XIX, tornando-se, por impulso do Rei D. Carlos, um dos países pioneiros na moderna investigação oceanográfica.
E isto veio abrir caminho à industrialização da atividade piscatória.
Mas, ao lado desta, subsiste a pesca artesanal como base da subsistência de pequenas comunidades de pescadores que fazem ainda da pesca o seu modo de vida. Foi esse o legado que lhes deixaram os seus antepassados.
Os pescadores, como referiu Platão, pertencem ao género de homens que andam no mar!
Carlos Gomes, Jornalista, Licenciado em História | Imagem