O culto de S. Cristóvão: na Europa e em Portugal

Origem do culto de S. Cristóvão

S. Cristóvão

tornou-se uma necessidade do cristianismo primitivo. Em 356 já se edificava um convento junto a Constantinopla onde era venerado.

Em 452, segundo a inscrição de Haidar-Pacha (Nicomédia), o bispo Eulálio dedicou a basílica a Cristóvão. S. Gregório Magno indica um mosteiro, na Sicília, votado ao Santo.

No século VIII surgem as primeiras lendas, que se divulgam no século X e que atingem a sua máxima difusão no século XIII.

A partir daí, muitas das oradas do Santo erguem-se junto a cruzamentos, a vaus, a precipícios, tornando-o protector de peregrinos, atletas, arcabuzeiros, vendedores de fruta, jardineiros, moços de corda…

Com S. Roque, S. Sebastião e Santo Antão igualmente protegia das pestes.

Só no século XVI, por causa dos movimentos da Reforma e Contra-Reforma, a sua aura começou a diminuir.

Com o avanço, porém, das comunicações, o Santo voltou a ser cultuado. Estava-se nos séculos XIX e XX. Protege os viajantes, sobretudo os automobilistas.

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O culto de S. Cristóvão em Portugal

Diferentemente de outras regiões europeias, nomeadamente da França, em Portugal o culto de S. Cristóvão verificou-se desde muito cedo.

A primeira referência é o hino que o Breviário Moçárabe lhe dedica, hino este atribuído a Santo Isidoro de Sevilha. Este letrado santo, do século VI/VII, ao ser-lhe atribuído o hino, demonstra que nessa altura, na Península (ou pelo menos em parte) já se verificara o processo de cristianização dos mitos e tradições antigos.

Portugal só a nível de tradição pagã (ou rural) continuou com as lendas antigas de dragões que surgem em covas ou grutas, muitas vezes assimiladas ao culto da serpente, que constituiu uma das primeiras grandes manifestações religiosas pré-romanas praticamente em todo o território.

Tais lendas prolongam a memória do leontocéfalo e dos cultos de Cibele, bastante difundidos no período romano, na Lusitânia.

Mitra, por sua vez, pode relacionar-se com S. Jorge ou S. Miguel, que vencem o dragão, ou com S. Martinho (11 de Novembro), o escorpião, que surge nos Mitreus – o fim do domínio solar representado na capa vermelha (só metade) para cobrir o pobre.

Cerca de 500 anos mais tarde, surge uma indicação precisa e preciosa sobre o culto de S. Cristóvão. “Por 1150, em Portugal e no Tirol, representava-se Cristo não como criança, mas como adulto“, às costas do Santo.

Por essa altura, Portugal usufruía de influência da Ordem de Cluny, que, fazendo-se ecos da tendência verificada na época, em França (a partir do século X), possivelmente terá trazido ao nosso país um revigoramento no culto do Santo.

Dataria, naturalmente, de então, o culto do Santo em Trás-os-Montes.

Fonte: Estudos Transmontanos e Durienses, nº13 / 2007 (texto editado e adaptado)