Jericó – a cidade mais antiga do mundo
A cidade de Jericó
A torre de Jericó, que dominava há dez mil anos o vale do Jordão, foi sepultada pelo tempo sob uma amálgama de terra e de pedras. Os arqueólogos encontraram-na adossada aos vestígios das muralhas que defendiam a cidade à qual pertencia.
As escavações levadas a cabo nas vésperas da Primeira Guerra Mundial no sítio de Jericó permitiram chegar a vinte metros dos vestígios do que foi o mais antigo estabelecimento humano que se conhece e que remonta à primeira metade do VIII milénio.
A famosa torre e as muralhas nas quais se apoiava, elevam-se acima do primeiro estabelecimento, simples aldeia de casas circulares. Datando de finais do VIII milénio, ela pertence a uma aglomeração que se convertera, a partir de então, numa grande povoação, talvez mesmo numa verdadeira cidade suficientemente rica para temer os assaltos exteriores e se prevenir contra eles.
O sítio é abandonado no decurso do VI milénio a. C., sem que consigamos saber a causa.
Mais tarde, no III milénio, Jericó ressuscita. O precioso mobiliário acumulado nos túmulos são testemunha da sua fortuna renovada. As novas muralhas construídas nessa época em breve serão destruídas pelos ataques das tribos nómadas que continuam a visitar o vale.
Jericó reconstrói-as: resistem até ao dia em que os Hebreus, a caminho da «Terra Prometida» – a Palestina -, se apoderam da cidade.
A primeira construção em pedra
A torre de Jericó, tal como foi retirada do fundo da escavação, constitui o único vestígio ainda de pé dos vários milénios ao longo dos quais os homens do Próximo Oriente aprenderam a viver como sedentários.
Com 8,50 metros de altura, 13 metros de largura na base e 10 metros no cimo, ela apoia-se numa muralha com 1,65 metros de espessura e que atinge ainda hoje os quatro metros de altura. Uma e outra são feitas de pedras achatadas grosseiramente talhadas e unidas sem argamassa.
Vinte e dois degraus feitos de um bloco único, com 0,75 metros de largura, conduzem, no interior da torre, à plataforma superior de onde os habitantes de Jericó espiavam verdadeiramente os perigos no horizonte.
Quantos habitantes – os primeiros sedentários – teria?
Segundo os maiores especialistas, não mais de 3000. Para protegerem a sua torre, eles completaram a cintura de muralhas com um enorme fosso de oito metros de largura e três metros de profundidade.
Este gigantesco aparelho de defesa, do qual hoje apenas restam alguns vestígios, é testemunha do temor que, ao longo dos tempos, os cidadãos sentiram pela cobiça dos nómadas. E permite imaginar a importância das riquezas acumuladas no interior das muralhas.
Uma encruzilhada?
De onde viria a fortuna de Jericó?
Só o comércio parece poder explicá-la. Com efeito, não se vislumbra, no solo, um único vestígio que permita pôr a hipótese da existência de qualquer actividade agrícola ou pastoril na época em que a famosa torre foi erigida. Em contrapartida, não há dúvida de que, já na época, as trocas comerciais animam o Próximo Oriente.
Situada à beira do Jordão, perto de uma fonte de água límpida, numa encruzilhada de trilhos do deserto, perto também do mar Morto que fornece o sal necessário para a conservação dos alimentos, Jericó é um local privilegiado de passagem das caravanas.
Esta situação, que explica por si só a fortuna dos seus habitantes, permite também compreender qual a razão por que estes últimos se viram na necessidade de, ao longo dos tempos, irem reedificando sempre as suas muralhas para se protegerem de quem desejava tomar o seu lugar.
As trombetas de Jericó
Os relatos do cerco tão cruel como célebre que fez cair definitivamente as muralhas de Jericó não pertencem à história, mas à Bíblia.
O livro de Josué, do Antigo Testamento, relata como Javé, o Deus dos Hebreus, entregou Jericó ao seu povo quando este se dirigia para a Terra Prometida – a Palestina.
«Jericó tinha fechado e aferrolhado as suas portas por medo dos filhos de Israel», está escrito. «Ninguém ousava sair nem entrar na cidade. E o Senhor disse a Josué: “Dai uma volta em torno da cidade, vós e todos os homens de guerra. Fareis isso durante seis dias. Sete sacerdotes tocando sete trombetas irão à frente; no sétimo dia dareis sete vezes a volta à cidade com os sacerdotes a tocar trombeta. À medida que o som do corno for crescendo e o toque das trombetas se tornar mais forte, todo o povo irromperá em grande clamor; a muralha da cidade há-de desabar e povo subirá à cidade, cada um para o lugar que lhe fica em frente.”
E a Bíblia acrescenta: «No sétimo dia, as muralhas de Jericó caíram, o povo entrou na cidade e passou ao fio da espada homens e mulheres, crianças e velhos, até mesmo os bois, as ovelhas e os jumentos.»
Os muros de Jericó não voltaram a erguer-se.
Do agricultor ao citadino
O aparecimento da agricultura tem consequências essenciais não só na paisagem como no modo de vida dos homens. A mudança essencial é do nomadismo pelo sedentarismo. Progressivamente, as primeiras comunidades rurais crescem; o aumento de trabalho (os cuidados a ter com as culturas e com o gado) conduz a uma especialização das tarefas e ao nascimento do comércio.
Iniciada no Oriente e no Médio Oriente, a evolução afecta esta região do mundo antes de qualquer outra: os lugares transformam-se em aldeias; estas fortificam-se para resistir aos eventuais ataques perpetrados por outras aldeias, porque a luta pela terra cultivável, e se possível já tratada, rapidamente cria ódios.
Levadas pelo aumento da sua população, as antigas aldeias cedem lugar, por vezes, às primeiras cidades. Estas, por sua vez, abrigam-se por detrás de muralhas: temem, acima de tudo, os grupos que, na mesma região, se conservam fiéis ao antigo modo de vida nómada. O primeiro eclipse de Jericó, no IV milénio, poderá ter-se devido a um destes assaltos perpetrados do exterior; de qualquer maneira, a cidade cairá, cerca de 1220 a. C., depois do célebre cerco a que foi sujeita pelas tribos de hebreus vindas do Egipto a caminho da Palestina.
Fonte: Memória da Mundo – das origens ao ano 2000 | Imagem