Razões para visitar Chaves, a Aquae Flaviae dos romanos…

Chaves, mais perto do litoral

Com a construção da A24, Chaves viu quebrado um isolamento secular, ficando a menos de duas horas de viagem do Porto.

A cidade tem muito para mostrar, desde os vestígios medievais, expressos no bairro antigo, junto ao castelo e na rua Direita, até às margens do Tâmega, animadas por um passeio ribeirinho e ligadas por uma ponte cuja construção remonta à época romana (séc. I / II).

Cidade termal, sempre teve uma vocação turística que os novos acessos rodoviários vieram potenciar.

À sua volta, seja em que direção for, há muito para ver.

Para oeste são as terras do Barroso (Montalegre) com aldeias interessantes, como Covas do Barroso e a orla do Parque Nacional da Peneda-Gerês, com outra povoação de visita obrigatória: Pitões das Júnias.

Na direção sul, as zonas das termas: Carvalhelhos (Boticas), Vidago e Pedras Salgadas, bem como uma zona de montanha que se estende na direção de Vila Pouca de Aguiar e onde vale a pena ver a igreja de Santa Leocádia ou a aldeia de Vilar de Nantes (artesanato: peças de barro negro e cestos).

Para norte, já do outro lado da fronteira, Verin é a porta de entrada na fraternal e animada Galiza.

Vidago Palace Hotel
Vidago Palace Hotel

Um pouco de história

Toda a região de Chaves é habitada, desde tempos imemoriáveis, subsistindo ainda memórias castreja e e outras que nos fazem faz em lembrar a passagem de celtas, romanos, visigodos e árabes por estas terras.

Há vestígios de dólmens ou antas na região e curiosas gravuras rupestres, como as de Outeiro Machado, perto de Vale de Anta.

No período romano, foi Chaves, então denomina da Aquae Flaviae, uma das mais florescentes cidades do império na Península Ibérica.

É natural que o burgo se tenha desenvolvido junto das nascentes termais e de algumas edificações castrenses primitivas.

Do tempo dos romanos ficaram alguns monumentos, entre os quais a notável ponte (Ponte de Trajano) e vestígios dos estabelecimentos termais que lhe deram nome e conjuntamente recordavam o da ilustre família patrícia dos Flávios.

Depois de ter estado sob o domínio dos suevos e dos godos, Chaves foi ocupada, em 712, pelos mouros, expulsos durante a campanha de 742-744 de Afonso I, o Católico.

Em 888, no tempo de Afonso III de Leão, foi Chaves reconquistada.

Entregue ao condado portucalense no dote de D. Teresa, tornou a cair em poder dos mouros, em 1129, para voltar definitivamente à Coroa Portuguesa em 1160.

Chaves foi tomada aos mouros por iniciativa própria de dois irmãos, Rui e Garcia Lopes, oferecendo a sua conquista a D. Afonso Henriques, então porfiado em organizar o Reino.

Apesar de pertencer à coroa Portuguesa desde 1160, Chaves só recebeu foral de D. Afonso III em 15.5.1258.

D. Afonso IV confirmou todos os seus privilégios por carta de foral de 1350, e D. Manuel I deu-lhe foral novo em 7.12.1514.

Como documento dos seus antigos privilégios conserva-se ainda um velho pelourinho.

Em 1807, foi Chaves a primeira terra portuguesa que se revoltou contra a dominação francesa,

Chaves integra a antiga província de Trás-os-Montes e Alto Douro, e foi elevada à categoria de cidade em 12.3.1929.

Uma vitória ilusória…

Em março de 1809, um exército francês invadiu Portugal pela veiga de Chaves.

As fortificações da cidade, embora de alguma monta, pouca luta deram e as forças portuguesas, sob o comando do general Silveira, retiraram na direção de Amarante, onde travariam o avanço dos franceses durante duas semanas.

O excesso de confiança destes levou-os a não acautelar a retaguarda e, poucos dias depois, milícias e tropas portuguesas reocupavam Chaves, desta vez dispostas a dar luta séria aos franceses.

Quando estes, pressionados pelas forças britânicas do Duque de Wellington, retiraram do Porto, encontraram o caminho de regresso cortado e tiveram de abandonar a artilharia e as bagagens e encenar uma aventurosa retirada pelas serras do Barroso, até à Galiza.

Termas milenares

A exploração das fontes termais de Chaves é, pelo menos, tão antiga como a presença romana.

As águas, bicarbonatadas, sódicas e hipertermias, afloram a uma temperatura muito elevada (73° C), sendo das mais quentes da Europa.

Com a construção da Linha do Corgo que aqui chegou em 1921, os aquistas, vindos de todo o país passaram a chegar aos milhares.

A exploração do centro termal teve de se adaptar aos novos tempos – passada a decadência dos anos 40 e 50, hoje as termas, em versão spa voltaram a estar na moda – com a construção de um novo balneário.

Termas de Chaves, milenares, do tempo dos romanos

De Estação a Centro Cultural

Com a desativação do troço mais a norte da Linha do Corgo, em 1990, a estação de Chaves ficou desaproveitada.

Situada na zona norte da cidade, perto da rotunda com o monumento aos Combatentes, acabou por ser reaproveitada no âmbito das obras do Programa Polis.

Enquanto nalgumas das dependências da gare eram instalados serviços camarários, nos antigos armazéns nascia um centro cultural com salas de exposições e de espetáculos.

Perto, na antiga cocheira das locomotivas, manteve-se um pequeno museu ferroviário, onde se podem ver locomotivas de vários tamanhos e carruagens de via estreita, incluindo uma ambulância postal.

De Estação dos Caminhos de Ferro a Centro Cultural de Chaves

Torre majestosa

Chaves tem muito para mostrar aos visitantes, desde a zona medieval às margens do Tâmega.

Uma forma divertida de apreciar as belezas da cidade e da zona envolvente é subir à torre de menagem do castelo.

Com mais de 30 metros de altura, é um esplêndido miradouro sobre a cidade e as suas imediações.

Lá do alto vê-se o rendilhado das ruas medievais que irradiam da Praça de Camões, a ponte romana sobre o Tâmega, os dois fortes virados para a fronteira (São Francisco e São Neutel) e, mais à volta, a fértil planície que se estende para norte até Espanha e, para sul, na direção de Vidago.

À volta, o arco de serras que faz barreira com o Minho (Larouco) e com o planalto transmontano.

Aproveite a subida à torre e visite o Museu Militar aqui existente.

A Torre de Menagem do Castelo de Chaves

 

Património histórico construído

Capela de Nossa Senhora do Loreto

Junto da Câmara Municipal de Chaves, é também conhecida como Capela da Santa Cabeça.

De fachada granítica e altas pilastras, é encimada por um frontão curvo. Fundada em 1696, diz a tradição aqui estar sepultado o Mártir São Bonifácio, protetor contra a raiva.

Igreja da Misericórdia

Ao lado da Praça de Camões – a mais bonita e central da cidade – tem fachada barroca (séc. XVII), com plintos e capitéis profusamente trabalhados.

O interior de uma só nave apresenta as paredes revestidas por painéis de azulejos e motivos bíblicos.

Igreja Matriz

Dedicada a Santa Maria Maior, é um templo românico muito alterado no séc. XVI, tomando, então, características da Renascença. Assenta, provavelmente, sobre um templo romano.

Igreja da Madalena

Também dedicada a São João de Deus, tem a curiosidade de ficar na margem esquerda do Tâmega, ao contrário de todas as suas congéneres de alguma importância.

A sua construção remonta ao séc. XVIII, sendo o estilo dominante renascentista e barroco. É facilmente reconhecível de longe, devido à sua grande cúpula. Na frontaria tem as armas do rei D. João V.

O interior é de uma só nave, sendo a planta octogonal.

Museu da Região Flaviense

Ocupando o antigo paço dos duques de Aveiro, alberga vasta coleção, nomeadamente de arqueologia do período romano, bem como alguma etnografia da região.

Museu da Região Flaviense

Ponte Romana

Também conhecida como Ponte de Trajano, está classificada como Monumento Nacional.

Edificada entre o fim do séc. I e o início do II d. C., é uma construção em granito, com doze arcos visíveis e quatro soterrados pelos aluviões.

A meio da ponte erguem-se duas colunas cilíndricas, epigrafadas.

Ponte romana de Chaves - a Ponte de Trajano

Castelo de Chaves

Conquistado definitivamente aos mouros no reinado de D. Afonso Henriques, século e meio mais tarde, D. Dinis mandou refazer o castelo e construir a alta torre de menagem.

Esta, com os seus balcões com mata-cães, chegou bem conservada aos nossos dias. Subsistiu também parte da muralha do castelo nalguns pontos com abaluartamentos do tempo das Guerras da Restauração.

No meio fica um jardim bem cuidado onde são expostas algumas das peças do museu militar instalado na torre.

Forte de São Francisco

A construção do forte começou no ano de 1658, tendo ficado concluída quatro anos mais tarde.

De planta quadrangular, o forte forma uma estrela de quatro pontas, já que em cada vértice existe um baluarte.

No interior manteve-se a igreja de São Francisco, mandada construir pelos frades e que substituíra uma primitiva capela dedicada a Nossa Senhora do Rosário.

Classificado como Monumento Nacional desde 1938, é ocupado atualmente por uma unidade hoteleira de qualidade, o Hotel Forte de São Francisco.

Forte de São Neutel

Construído também para reforçar a defesa da fronteira de Chaves no difícil período pós-Restauração, o Forte de São Neutel apresenta forma e estrutura semelhante à do de S. Francisco.

Ao contrário deste, não estava ligado ao sistema defensivo de Chaves. pelo que os construtores tiveram de dotá-lo de uma segunda muralha exterior com um fosso a separar ambos os perímetros, de acordo com os cânones da arte de fortificar de então.

Devido à existência do fosso, o acesso ao interior do forte faz-se por ponte de pedra sólida, ligando a porta da muralha externa, já um pouco degradada, à porta interior.

As muralhas são espessas e têm 10 m de altura. São todas em granito, o que terá exigido a utilização de muitos homens, quer na extração da pedra, quer no seu aparelhamento.

Dentro do forte preserva-se a Capela de Nossa Senhora das Brotas, onde se realiza anualmente uma importante romaria.

Além da capela há pequenos edifícios feitos para alojar a guarnição e um auditório ao ar livre.

Jardim Público de Chaves

Situado na margem esquerda do Tâmega fica praticamente no enfiamento da ponte romana.

A sua traça é característica do princípio do século XX, com o gradeamento exterior em ferro, o coreto, também metálico, etc.

O Jardim Público de Chaves foi mandado construir pelo banqueiro português Cândido Sotto Mayor em 1897, sendo inaugurado em 1901.

Rua Direita

É a grande marca do burgo medieval, estabelecendo uma ligação entre a Praça de Camões e a Praça da República, já perto da ponte antiga.

Reservada aos peões, tem ambiente castiço e aqui se encontra o melhor do comércio tradicional flaviense.

Rua Direita de Chaves

Gastronomia

A fama de Chaves em termos gastronómicos assenta em dois alicerces: o fumeiro e os enchidos (nomeadamente os famosos presuntos flavienses, as alheiras e o folar), e os folhados à base de carne (pastel de Chaves), que encontrará em diversos locais da cidade, em especial na zona ribeirinha.

Gastronomia Flaviense

Património à volta de Chaves

Castelo de Monforte do Rio Livre

Situa-se 500 m a sul da EN 103 que liga Vinhais a Chaves, entre Bolideira e Santo Estevão.

O nome deve-se ao facto de, por ser alto, ficar livre das cheias do rio Tâmega e do rio Rabaçal.

O castelo foi reconstruído por D. Afonso Henriques, depois de o ter conquistado aos mouros em 1139. Em breve seria novamente danificado nas lutas contra os leoneses.

Foi alvo de grandes obras no tempo de D. Dinis, tendo sido reforçado com torre de menagem e três torres mais pequenas. A muralha foi ampliada, de forma a proteger o pequeno aglomerado de uma centena de habitantes que aqui se foi constituindo.

Aos nossos dias chegaram o pano de muralha, a torre de menagem e as ruínas da alcáçova.

Castelo de Santo Estêvão

Pequeno castelo medieval, construído no séc. XIII,  nas proximidades de Santo Estêvão (km 176,6 da EN 103 – Chaves – Bragança).

Preserva-se a torre de planta quadrangular com dois pisos e rés-do-chão, coroada por merlões de tamanho irregular.

Castelo de Montalegre

Este castelo é posterior à formação da nacionalidade.

Coube a D. Dinis mandar construir ou reconstruir o castelo. A torre de menagem ergue-se do lado norte.

Dispõe de uma série de balcões com mata cães para assegurar a defesa vertical.

Para a sua implantação foi aproveitada uma avantajada laje granítica

Igreja de São Julião de Montenegro

Templo românico nos arredores de Chaves, em cujo interior se podem ver três marcos miliários romanos e frescos setecentistas.

Igreja de Santa Leocádia

Pequena igreja românica de fachada muito simples, com campanário, possuindo gárgulas e cachorrada nas fachadas laterais.

Tem a curiosidade de exibir pinturas muito antigas a fresco por detrás do altar-mor.

Igreja de São Nicolau

Situada em Carrazedo de Montenegro, já no concelho de Valpaços, surpreende pela sua majestosa tachada com três andares e duas torres sineiras simétricas.

O conjunto é do século XVIII.

Castro de Carvalhelhos

Curioso povoado pré-romano, vizinho das termas homónimas.

Chegou aos nossos dias um conjunto de muralhas e fossos concêntricos, protegendo restos de casas primitivas.

Tudo implantado no topo de um cabeço, a 870 m de altitude como era conveniente à defesa e à observação das terras à roda.

Localidades a visitar

Alturas do Barroso

Uma das aldeias mais típicas da serra do Barroso, implantada, como o nome indica, numa
cumeada onde é frequente nevar de Inverno.

Aqui pode ver pequeno museu rural na antiga escola primária, bem como uma curiosa igreja paroquial, com uma série de campas medievais no respetivo adro.

Covas do Barroso

Aldeia com tradições comunitárias, tem junto à igreja o forno, rodeado por bancos de pedra para as mulheres esperarem, enquanto o pão cozia.

Do lado sul da povoação fica a igreja românica.

Pitões da Júnias

Aldeia típica, na orla leste do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Predominam as casas com paredes de granito, cobertas por madeira e colmo.

Os monges de Cister escolheram estas paragens para aqui instalarem o Mosteiro de Santa Maria das Júnias.

Situado num local idílico, a 2 km da aldeia, junto à ribeira do Campesinho, chegaram aos nossos dias a igreja e parte do claustro românico.

Pitões das Júnias

Termas

Para além das termas da cidade de Chaves, há que registar as de Carvalhelhos, junto a Boticas e, ainda as de Vidago e Pedras Salgadas.

Termas de Vidago

Ao ar livre

A antiga linha do Corgo entre Vila Real, Vila Pouca de Aguiar, Pedras Salgadas, Vidago e Chaves tem troços adaptados a ciclovia.

Festas

Famosas em toda a região barrosã são as chegas de bois, combates entre dois grandes machos, geralmente de aldeias vizinhas, presenciados por numeroso público e durante os quais os contendores medem a sua força e valentia.

É, também, de destacar a Feira dos Santos (1 de novembro), uma das feiras mais antigas do país, onde se pode encontrar uma grande variedade de produtos regionais e não só.

Durante a Feira dos Santos, “A cidade muda, agita-se, veste roupagens de festa, enchem-se as ruas de multidões, e o comércio e a diversão tomam conta da cidade.”

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Artesanato

Vilar de Nantes, aldeia dos arredores de Chaves, é considerada a capital local da olaria, tantos e tão qualificados são os seus barros e artesãos.

Fonte: Guia das Maravilhas de Portugal (editado e ampliado)