Sobre “a língua de Esopo”, pai da fábula

Esopo foi um escritor grego antigo, que viveu por volta do século VI a.C., e é considerado o pai da fábula como género literário.

As fábulas são pequenas histórias que utilizam animais como personagens para transmitir uma lição moral, geralmente de forma simples e didática.

As fábulas de Esopo são conhecidas por sua capacidade de transmitir ensinamentos valiosos de forma acessível e divertida. Suas histórias abordam temas como amizade, honestidade, justiça e astúcia, e continuam sendo relevantes até os dias de hoje.

As fábulas desempenham um papel importante na literatura, pois ajudam a transmitir valores e ensinamentos de geração em geração.

Além disso, elas estimulam a reflexão sobre o comportamento humano e incentivam a prática de virtudes como bondade, solidariedade e honestidade.

Portanto, as fábulas de Esopo e de outros autores são consideradas um importante recurso educativo e cultural, capaz de contribuir para a formação moral e ética das pessoas, além de promover o desenvolvimento da linguagem e a apreciação pela leitura.

 

Para ler: A Verdade e a Mentira

 

A língua de Esopo 1

“Poucos dias depois de casado, assistiu ele com Leonor à primeira representação da sua segunda comédia, intitulada: Esopaida ou Vida de Esopo. Nos dias deste nosso século bem criado qualquer marido que escrevesse a Esopaida não levaria sua mulher a vê-la em cena, e menos lha recitaria em família. (…).”

Camilo Castelo Branco, O judeu

 

Esopo – Eis aqui a melhor cousa do mundo.

Xanto – Descobre, e vejamos.

Esopo – É um prato de línguas.

Xanto – Um prato de línguas? Como? Pois isso é a melhor cousa do mundo?

Esopo – Qual é a dúvida que a melhor cousa do mundo é a língua? E que cousa é mais necessária no homem? Sem língua ninguém fala, sem falar ninguém se entende; a língua é a alma do conceito, é a correctora dos comércios, é a taramela das portas da boca, é a prancha dos comeres, é o esgravatador das gengilves, é a zaragatoa dos beiços, o planeta do céu da boca e o badalo da campainha. Com a língua faz o arrieiro a célebre pulha, enfim, a língua do cão é o melhor remédio das chagas, e o linguado o melhor peixe dos mares. Não sei que mais queria dizer, que o tenho aqui debaixo da língua.

(…)

Xanto – uma vez que a melhor cousa são as línguas, traze-me agora a pior cousa do mundo.

Esopo – com muito gosto; eu venho já. (vai-se)

(…)

Esopo – Eis aqui a pior cousa do mundo.

Xanto – Que é isso que trazes?

Esopo – Outro prato de línguas.

Xanto – Pois como? A melhor cousa do mundo são as línguas, como agora a pior cousa do mundo são as línguas?

Esopo – É filósofo e não sabe, que sendo uma língua boa é a melhor cousa do mundo, e sendo má, é a pior cousa? É o estrago da honra, é a mãe dos mexericos, o pai dos enredos, a irmã das discórdias, a perturbadora da paz, o clarim da guerra, a sarna do sossego, a carepa das consciências, o despertador das vinganças, o instrumento da alcovitice. Não é assim senhor Xanto?

in Esopaida ou Vida de Esopo de António José da Silva (O Judeu).

Ópera representada pela primeira vez no Theatro do Bairro Alto, no mês de Abril de 1734.

Fonte: 1

Imagem (editada)