Rezar com a Igreja – A Liturgia das Horas

Introdução à Liturgia das Horas

Oração para santificar as horas do dia

Lembrando-se do preceito que o Senhor dera aos apóstolos depois da instituição da Eucaristia («fazei isto em memória de mim»), a Igreja considerou como seu dever, logo desde os primeiros tempos, celebrar a eucaristia. Nela se fazia memória da paixão, morte e ressurreição do Senhor.

Para isso, a comunidade cristã reunia-se semanalmente, ao domingo, «dia da ressurreição».

Era este o ritmo da celebração eucarística nos primeiros séculos.

Mas pouco a pouco foram-se multiplicando os dias «eucarísticos», o calendário litúrgico foi-se enriquecendo com a celebração dos mistérios da vida do Senhor e com as festas dos mártires.

Mais tarde, a começar pelos dias da Quaresma, também nos dias da semana passa a celebrar-se a eucaristia.

Na Idade Média, e a partir daí até hoje, no Ocidente, todos os dias são «eucarísticos», no sentido de que em todos os dias se celebra a eucaristia.

As primeiras comunidades cristãs não se limitavam, todavia, à celebração semanal da eucaristia.

Desde os primeiros dias, a Igreja era assídua «ao ensino dos apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e à oração» (Actos, 2,24).

Se nos três primeiros séculos não temos indicações precisas sobre o modo como eram estruturadas as reuniões de oração da comunidade cristã, não podemos duvidar da sua realização.

E no séc. IV já temos abundantes testemunhos que nos afirmam reunir-se a comunidade cristã duas vezes por dia, de manhã e à noite, para celebrar um ofício, cuja estrutura se conhece.

Ofício catedral e ofício monástico

A este ofício, matutino e vespertino, celebrado por toda a comunidade cristã, clero e fiéis, sob a presidência do bispo, deu-se o nome de ofício catedral.

É possível e provável que esse ofício já estivesse estruturado antes do século IV. A essas horas de oração veio a dar-se o nome de Laudes (ofício da manhã), e Vésperas (ofício da tarde).

Os monges, mais dados à oração, santificavam as diversas horas do dia e da noite com outras horas de ofício divino: matinas, tércia, sexta, noa e completas (a que veio juntar-se ainda a hora de prima). Era o ofício monástico.

Quando os monges deixaram de ser puros eremitas e vieram instalar-se também nos meios urbanos, fizeram uma fusão dos dois ofícios conhecidos. Daí resultaram ofícios mais ou menos longos, conforme os lugares, estabelecendo-se assim variantes nos diversos ritos, que oficializaram os costumes locais.

Foi esta fusão do ofício catedral com o ofício monástico que a Igreja, mais tarde, veio a adoptar oficialmente. À recitação deste ofício ficaram obrigados os clérigos durante séculos, até hoje.

Ofício divino para os fiéis

Quanto aos fiéis, bem depressa se viram forçados a abandonar o antigo ofício catedral. Por causa do latim, língua que passaram a não compreender, não lhes era possível participar.

À celebração eucarística dominical continuam a ir, mas apenas para «assistir». O ofício divino foi por eles completamente abandonado.

Pela voz do Concílio Vaticano II, quis a Igreja renovar e restaurar toda a sua liturgia.

Para isso, sentiu necessidade de se adaptar às exigências do povo sacerdotal que precisava de celebrar a liturgia na sua própria língua, para nela poder participar plena, consciente e activamente.

É desejo da Igreja que os fiéis participem, não apenas na eucaristia, mas também no ofício divino. Para isso, além da renovação da celebração eucarística, cujos resultados positivos todos conhecemos por experiência, também o ofício divino foi reestruturado, tendo em conta as condições da vida actual, e fazendo corresponder as horas ao seu respectivo tempo.

Liturgia das Horas

Promulgado em 1970, depois de cuidadosamente preparado, o novo ofício divino, ao qual se deu o nome de Liturgia das Horas, apresenta-se assim estruturado:

Ofício de leitura,

Laudes,

Hora intermédia,

Vésperas e

Completas.

Quer a Igreja que os dois polos do ofício divino quotidiano sejam Laudes (oração da manha) e Vésperas (oração da tarde). Devem considerar-se as horas principais do dia, e celebrar-se como tais. Valorizam-se assim as duas horas do
ofício catedral dos primeiros séculos.

Há outra hora do ofício que poderá tornar-se ainda mais facilmente oração comunitária ou de família, em particular nos dias de trabalho.

É a hora de Completas, a oração da noite, que corresponde exactamente à hora em que a família cristã se deve reunir, em nome do Senhor e com Ele, antes de tomar o descanso merecido pelo dia de trabalho que finda.

Tendo o oficio divino por função santificar a hora própria do dia ou da noite em que se reza e querendo a Igreja que a Liturgia das Horas não seja oração exclusiva do clero e dos religiosos mas de todo o povo de Deus, colocamos nas mãos dos fiéis as horas de Laudes, Vésperas e Completas, para valorizar a oração da comunidade, da
família ou de cada um em particular.

Juntamos ainda a Hora Intermédia, para aqueles que tiverem oportunidade de rezar por volta do meio-dia.

Quando os fiéis deixaram de ter possibilidades de participar activamente na liturgia, procuraram naturalmente outras formas de oração, maneiras novas de dialogar com o Senhor. Assim surgiram novos actos de piedade, nomeadamente o terço.

Rezar é dialogar com Deus

O ofício divino não vem agora pôr de parte essas formas de oração, que se tornaram tradicionais e populares.

Vem valorizá-las num novo contexto, ao mesmo tempo que dá satisfação a muitas almas que sentem necessidade de fazer depender da liturgia toda a sua oração, toda a sua vida espiritual, todo o seu apostolado, todo o seu trabalho.

A virtude principal do ofício divino está no facto de nos pôr em contacto com a palavra de Deus, pois da sua estrutura fazem parte essencialmente leituras da Sagrada Escritura e Salmos.

Nós passamos a rezar com a oração do próprio Cristo.

Além disso, a nossa oração será mais rica, mais espontânea, mais dentro dos planos de Deus: primeiro deixamos falar o Senhor, depois respondemos-lhe com simplicidade, com as palavras e os sentimentos que Ele nos inspira.

E assim nos inserimos conscientemente no ritmo da história da salvação: o Senhor foi sempre o primeiro a falar, a estender a mão, a dar o primeiro passo; só depois o homem deu a sua resposta.

Rezar é precisamente dialogar com Deus. Rezar bem é dialogar com simplicidade e lealdade. O ofício divino torna esse diálogo mais fácil.